Cena Política | Análise

Vereadores do Recife que podem ser trunfo inesperado para Raquel Lyra

Thiago Medina, Gilson Filho e Eduardo Moura usam fiscalização e redes sociais por visibilidade e se tornam personagens importantes para 2026.

Por Igor Maciel Publicado em 24/10/2025 às 20:00

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A eleição de três vereadores conservadores na Câmara do Recife, em 2024, pode ter desdobramentos muito além da capital. Thiago Medina (PL), Gilson Filho (PL) e Eduardo Moura (Novo) foram eleitos com uma bandeira clara de oposição ao prefeito João Campos (PSB) e, desde o início do mandato, têm se destacado pela capacidade de fiscalizar obras e denunciar problemas em equipamentos municipais. A diferença em relação a outras oposições do passado é o uso eficiente das redes sociais, o que os transformou em figuras conhecidas rapidamente.

A combinação de discurso combativo com estratégia digital os colocou sob os holofotes e, por coincidência ou estratégia, também os tornou potenciais aliados da governadora Raquel Lyra (PSD) numa eventual disputa contra o prefeito João Campos em 2026.

Nova oposição

A atuação dos três tem quebrado um padrão histórico da Câmara Municipal do Recife. Há mais de uma década, o Legislativo da capital vinha se limitando a aprovar tudo o que chegava do Executivo, independentemente do prefeito de plantão. Thiago Medina, Gilson Filho e Eduardo Moura passaram a ocupar o espaço que antes era vago, fazendo uma fiscalização ativa, visitando obras, mostrando irregularidades e expondo problemas de gestão.

O resultado é que, em poucos meses, eles conseguiram algo inédito: fazer o recifense voltar a olhar para a Câmara como ambiente de discussão, por mais que os projetos do Executivo continuem sendo aprovados pela maioria governista esmagadora.

O uso das redes

O diferencial dessa nova oposição está na comunicação. Cada visita de fiscalização, cada obra paralisada ou denúncia de superfaturamento vira conteúdo digital, amplificado por seguidores que veem neles uma voz que confronta o poder municipal. As redes sociais transformaram o plenário da Câmara em um palco mais visível do que nunca.

A antiga oposição, mesmo quando tinha bons argumentos, não possuía essa linguagem. Hoje, o engajamento digital desses três vereadores tem se mostrado uma ferramenta tão eficaz quanto o microfone do plenário.

Ruptura no sistema

A movimentação também representa uma ruptura simbólica. Depois de 13 anos de submissão do Legislativo ao Executivo, o comportamento mais agressivo dos vereadores mexe com a rotina política da cidade. O incômodo é visível na base governista, que passou a reagir com mais empenho aos ataques e às cobranças. Pela primeira vez em muito tempo, o prefeito João Campos passou a ter que mobilizar aliados para se defender dentro da Casa.

Olho em 2026

Os três vereadores sabem que esse protagonismo não dura para sempre. A onda da direita que os impulsionou nas urnas já mostra sinais de desgaste, especialmente com a ausência de lideranças fortes e o comportamento errático de Jair Bolsonaro.

Por isso, Thiago Medina e Eduardo Moura planejam disputar uma vaga na Câmara Federal, enquanto Gilson Filho avalia se concorre a deputado federal ou estadual. Eles buscam aproveitar o momento de visibilidade antes que o ciclo se feche.

E isso acontece em um momento de polarização estadual, num ponto da História em que eles são os maiores críticos de um desses polos.

Oportunidade

Nenhum deles é aliado direto e próximo da governadora Raquel Lyra, mas o movimento desses três nomes pode ser um trunfo. Mesmo sem uma coordenação direta, o discurso deles, voltado à fiscalização e à crítica de João Campos, serve de contraponto importante para o projeto estadual de 2026.

Se souber administrar as relações e manter o equilíbrio entre a própria imagem e o apoio dessa nova oposição recifense, Raquel pode encontrar nesses vereadores um reforço que nem era planejado em uma disputa que promete ser uma das mais tensas da história recente de Pernambuco.

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