Cena Política | Análise

Marina Silva: as humilhações de sempre e o pragmatismo de agora

A ministra do Meio Ambiente segue no cargo, mas sem voz. O governo que a exalta no exterior a humilha em casa, e o Ibama acaba de lembrá-la disso.

Por Igor Maciel Publicado em 22/10/2025 às 20:00

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Marina Silva (Rede), ministra do Meio Ambiente, tem vivido uma sucessão de desconfortos dentro do governo Lula. O mais recente deles é a aprovação, pelo Ibama, dos estudos para iniciar a exploração de petróleo na Foz do Rio Amazonas.

A decisão, tomada às vésperas da COP 30, expõe o contraste entre o discurso ambiental do governo e suas ações concretas, além de representar uma afronta direta à ministra, que havia declarado que o projeto não seria aprovado de forma alguma.

O silêncio é barulho

O silêncio de Marina por bastante tempo após a decisão virou o principal ruído político do episódio. A ministra, conhecida por não se omitir em temas ambientais, evitou falar no assunto até a noite da quarta-feira (22). E, quando falou, foi para defender os critérios técnicos da medida contra a qual vinha levantando objeções constantes por meses.

O gesto, de defender o Ibama e ignorar a política, foi interpretado como resignação de quem já compreendeu os limites de sua atuação dentro de um governo que a utiliza mais como vitrine internacional do que como formuladora de políticas ambientais.

A aprovação do governo simboliza uma derrota não apenas administrativa, mas moral, para quem sempre defendeu o meio ambiente como princípio e não como discurso.

O histórico de conflitos

Não é a primeira vez que Marina enfrenta situações que beiram a humilhação dentro do PT. Em sua primeira passagem pelo ministério, demitiu-se após um longo período de fritura por parte de Lula, que a pressionou até ela desistir.

A atitude do presidente deixou marcas profundas. Em 2014, ao assumir a candidatura presidencial após a morte de Eduardo Campos, foi alvo de uma das campanhas mais duras da história recente. O PT explorou sua amizade com uma herdeira de banco, associando sua imagem a uma elite financeira contrária aos pobres, mesmo sabendo de sua origem humilde e de sua trajetória de luta.

Quem não lembra dos vídeos mostrando pratos vazios de comida, famílias com cara de fome na tela e o discurso de que a fome voltaria ao país se a "candidata dos banqueiros" vencesse?

A estratégia foi cruel, mas eficaz: Marina desabou nas pesquisas e Dilma Rousseff (PT) foi reeleita.

O retorno e a utilidade

Apesar do passado, Marina retornou ao governo Lula em 2023, porque há coisas entre o céu e a Terra que nem Freud explica. O contexto era de unidade contra Jair Bolsonaro (PL), e sua presença ajudava a reforçar a imagem de moderação e compromisso ambiental do palanque lulista. Ela aceitou ser vitrine vazia, outra vez.

Com reconhecimento internacional e apoio de ONGs estrangeiras, Marina se tornou uma peça importante para o discurso da campanha.

No entanto, internamente, sua influência parece cada vez mais simbólica. Ela é vista como um selo de credibilidade ambiental, mas suas opiniões têm pouco peso nas decisões do governo.

O pragmatismo de Lula

A liberação da exploração de petróleo na Foz do Amazonas foi uma decisão essencialmente política e econômica. Lula precisa de recursos para manter o alto volume de gastos públicos que gosta de impor ao país e enxerga no petróleo uma promessa futura de receitas. Ao mesmo tempo, buscou agradar o senador Davi Alcolumbre, do Amapá, estado diretamente ligado à área da exploração.

Alcolumbre pressiona o governo por cargos e por influência, e a liberação do Ibama se tornou um gesto de acomodação. Às vésperas da COP 30, a medida demonstra que o pragmatismo político prevalece sobre o discurso ambiental.

O peso do cargo

Mesmo diante das derrotas, Marina permanece no governo e já disse que não pensa em sair. O status de ministra ainda representa uma posição de destaque e projeção. Como ocorreu com Paulo Guedes no governo Bolsonaro, que suportou sucessivas derrotas internas, o prestígio de estar no centro do poder pesa mais do que a frustração de ser ignorado.

A desculpa de ambos é até parecida: "se eu não estiver aqui é pior".

Marina segue no cargo porque a função ainda lhe garante visibilidade e legitimidade, mesmo que à custa de novas humilhações que podem vir por aí.

O fato é que, enquanto o mundo se prepara para a COP 30, o Brasil envia a mensagem de que o meio ambiente ainda é moeda de troca. Marina vai ficar como o símbolo de uma gestão que a exalta em público, mas a humilha em privado.

Homenagem na Alepe

O presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto (PSDB), propôs uma reunião solene na Casa em homenagem ao Grupo JCPM pelos seus 90 anos. A proposição foi feita ao plenário nesta quarta-feira (22) e a solenidade acontecerá no próximo dia 19 de novembro, às 18h, nas dependências do Legislativo Pernambucano.

Álvaro Porto

O texto de justificativa assinado pelo deputado faz um relato histórico da trajetória do grupo em Pernambuco e no Nordeste. "...a Assembleia Legislativa de Pernambuco, ao promover uma Reunião Solene em comemoração aos 90 anos do Grupo JCPM, presta justa homenagem a uma instituição que honra a história do nosso Estado, impulsiona a economia regional e reafirma o papel do setor privado como agente de transformação social", finaliza Porto.

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