PT deve acelerar alianças em Pernambuco para ajudar Humberto no Senado
A movimentação de Marília Arraes (Solidariedade) acendeu o sinal vermelho no PT, que teme perder uma das cadeiras mais importantes no Senado.

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A disputa pelo Senado em Pernambuco entrou de vez na pauta política, e o nome de Humberto Costa (PT) passou a ocupar o centro do tabuleiro. O senador petista tenta costurar apoios para garantir sua reeleição, mas enfrenta um obstáculo de peso: a movimentação de Marília Arraes (Solidariedade), que também mira uma vaga e ameaça dividir o eleitorado de esquerda.
O risco não é pequeno. Se a candidatura de Marília se confirmar, ela pode comprometer não apenas o projeto pessoal de Humberto, mas também a estratégia do PT de manter sua influência no Senado. Marília apoia Lula e seria aliada de um eventual governo petista, em caso de reeleição, embora alguns petistas tenham resistências a ela.
Mas o problema maior é que a eleição de dois senadores à esquerda em Pernambuco tem sido considerada improvável. E a chance de Humberto ficar de fora, nesse cenário, é considerável.
Disputa antecipada
A corrida pelo Senado está mais movimentada do que a própria disputa pelo governo estadual. A um ano da eleição, o debate já domina o cenário em Pernambuco, com Raquel Lyra (PSD) buscando a reeleição e João Campos (PSB) consolidando sua posição como principal adversário.
No centro dessa movimentação, o PT precisou tomar uma decisão: apoiar João Campos ou tentar manter pontes com Raquel Lyra. Por um tempo, a dúvida existiu, mas acabou resolvida pela lógica nacional.
Lula (PT) e a direção petista definiram um critério simples: quem quiser o apoio de Lula precisa declarar voto em Lula. Raquel não tem condições de fazer isso, já que seu partido deve apoiar Ratinho Júnior (PSD) ou Tarcísio de Freitas (Republicanos) em 2026. Assim, o PT não viu alternativa viável fora do PSB.
A governadora na berlinda
Mesmo mantendo boa relação administrativa com o governo federal, Raquel evita se comprometer com a campanha presidencial. Ela fala bem de Lula, reconhece a ajuda do governo a Pernambuco e frequenta Brasília em busca de recursos, mas não pode declarar voto no presidente.
Essa neutralidade calculada tem custo e isolou Raquel do campo petista, abrindo espaço para Campos atrair o apoio do PT e, junto com ele, o peso de Lula na disputa estadual.
A prioridade de Lula
Para o PT, a reeleição de Humberto Costa não é apenas uma questão local. O Senado tem funcionado como uma espécie de anteparo, travando medidas aprovadas na Câmara por uma maioria de centro e direita. Garantir uma bancada forte ali é estratégico.
Sem Humberto, o PT perderia um de seus articuladores mais experientes e uma das vozes mais fiéis a Lula no Congresso.
Apesar de a aliança com João Campos parecer natural, ela não é simples. Nos bastidores, Humberto e João mantêm relação distante, e parte do PT preferia um acordo com Raquel Lyra.
Essa expectativa se desfez de vez quando a governadora insistiu em não declarar apoio a Lula. A partir dali, o caminho petista se estreitou até sobrar apenas o PSB.
A ordem nacional
O gesto mais recente que selou essa direção veio de cima. No fim de semana, Humberto participou de um evento com João Campos, relacionado a um programa habitacional federal.
Segundo informações da jornalista Terezinha Nunes, na Rádio Jornal, o senador só compareceu após uma ligação do PT nacional, que mandou o recado: “É hora de ocupar o espaço”. O motivo é claro. O partido quer "evitar que Marília Arraes se aproxime demais do prefeito".
A ameaça de Marília
Marília Arraes, hoje no Solidariedade, também quer ser candidata ao Senado e apoia João Campos, seu primo.
Essa combinação é um pesadelo para o PT, já que a entrada de Marília divide o eleitorado de esquerda e coloca em risco a reeleição de Humberto. O comando nacional tenta impedir que isso ocorra, orientando o senador a colar em João e se firmar como o nome petista na chapa.
O cálculo de Lula
No desenho desejado por Lula, a chapa ideal para o Senado teria Humberto Costa e Silvio Costa Filho (Republicanos). O primeiro pela fidelidade partidária, o segundo pela relação pessoal com o presidente. Além de tudo, Silvio é visto como um aliado seguro, que soma sem ameaçar o PT.
Já Marília, se disputar, pode vencer e deixar o PT sem representante. Como a esquerda dificilmente alcançará duas cadeiras, a estratégia petista é garantir Humberto.