Cena Política | Análise

A ilusão do arcabouço: fantasia fiscal de Lula vai se rasgar em 2026

Derrota na MP do IOF rasgou fantasia do arcabouço fiscal e expôs governo sem roteiro para equilibrar política, gasto e credibilidade em ano eleitoral

Por Igor Maciel Publicado em 09/10/2025 às 19:00

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A derrota do governo na votação da Medida Provisória do IOF pode ter representado o fim simbólico do arcabouço fiscal. A ferramenta que o Governo Lula usava como fantasia para sustentar a imagem de "responsabilidade nas contas públicas" perdeu sentido diante da realidade política de 2026.

A máscara de austeridade que servia para acalmar o mercado e conter a desconfiança de investidores rasgou-se na primeira prova de fogo. O Congresso, ao deixar a MP caducar, expôs não apenas a fragilidade da equipe econômica e da articulação política do Planalto, mas também o esgotamento de um discurso que prometia um meio-termo entre gasto social e disciplina fiscal.

O arcabouço fiscal morrerá sem nunca ter chegado a viver.

Um rombo e uma escolha

A medida provisória que caducou previa tributação sobre apostas esportivas e sobre investimentos em LCI e LCA, duas fontes de arrecadação que o governo contava para tapar um buraco de cerca de R$ 17 bilhões em 2026.

A perda dessa receita empurra o governo para um dilema. Ou corta gastos e compromete os programas que sustentam a base social de Lula, ou ignora o arcabouço e gasta mais, rompendo as metas que ele mesmo criou. Como o próximo ano é eleitoral, a segunda opção é a mais provável. E a fantasia da responsabilidade será rasgada.

A morte do arcabouço não é apenas uma figura de linguagem. Ela traduz a impossibilidade de cumprir regras fiscais num período em que o governo precisa se mostrar forte e "generoso" com o eleitorado.

O retorno do ciclo

O Brasil já conheceu o preço dessa estratégia. O mesmo caminho foi seguido no fim do governo Dilma Rousseff (PT), quando o aumento de gastos e as manobras fiscais abriram a crise que levou ao impeachment e a uma das piores recessões da história recente.

O teto de gastos criado por Michel Temer tentou conter esse impulso e devolver previsibilidade à economia. Agora, a repetição do ciclo está em marcha.

O arcabouço fiscal, vendido como evolução do teto, mostrou-se tão vulnerável quanto o discurso que o sustenta. A morte dele revela a dificuldade de conciliar política e responsabilidade, principalmente em um governo que depende do gasto público para manter apoio.

Popularidade limitada

O enfraquecimento do discurso fiscal coincide com um esgotamento teórico da força política de Lula. As pesquisas mostram empate entre aprovação e desaprovação, sem perspectiva de avanço expressivo. O presidente lidera intenções de voto muito mais por falta de opções que por convicção prática do eleitor.

O governo não repete o fenômeno dos anos 2000, quando Lula chegou a ter quase 80% de aprovação. Se você perguntar ao líder petista qual o plano dele para 2030 ele vai repetir frases que já dizia em 2002.

O eleitor de hoje é mais exigente e menos disposto a acreditar em promessas antigas. O discurso de combate à fome e de justiça social ainda emociona parte do país, mas não convence a maioria de que existe um projeto novo. O próprio governo parece sem rumo, preso entre a necessidade de gastar e a ausência de ideias que inspirem o eleitorado.

Não é por acaso que 56% dos entrevistados na Quaest dizem que ele não deveria disputar a reeleição.

Falta de horizonte

A dificuldade de Lula em propor algo novo se reflete na relação com o Congresso. Sem popularidade alta, ele não tem força para impor sua agenda. Os parlamentares perceberam isso e passaram a agir de forma autônoma, impondo derrotas e travando votações importantes.

O impasse fiscal, que começou com a MP do IOF, tende a se repetir em outros temas. A perda de credibilidade das metas e a previsão de gastos maiores sinalizam um 2026 de improvisos. A austeridade que o governo dizia perseguir virou apenas uma lembrança de campanha.

O Brasil entra mais uma vez num ciclo de gambiarras, em que o discurso da responsabilidade se dissolve na necessidade de sobrevivência política e eleitoral.

Para 2026, restará ao governo administrar o caos e torcer para que o eleitor aceite mais uma vez a ideia de que o futuro pode esperar. Pode mesmo?

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