Cena Política | Análise

Fundão avança enquanto pautas que beneficiam a população se arrastam

Enquanto a isenção do IR demorou quase sete meses, o Fundão Eleitoral saltou de R$1 bi para R$4,9 bi em 14 segundos. São as prioridades do Congresso

Por Igor Maciel Publicado em 01/10/2025 às 20:00

Clique aqui e escute a matéria

É impressionante como os deputados são rápidos para votar aquilo que interessa diretamente a eles, mas demoram quando se trata de pautas importantes para a população. O contraste entre o ritmo ágil de aprovação de projetos de interesse próprio e a lentidão com medidas que beneficiam a sociedade mostra a lógica política que tem dominado o Congresso. E isso é prejudicial para a imagem da Câmara e do Senado que anda em patamares de rejeição altíssima.

Um exemplo claro é a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. A proposta estava parada desde março de 2025, acumulando quase sete meses de espera.

Enquanto isso, deputados usavam o projeto como moeda de troca, condicionando sua aprovação à liberação de emendas ou a outros interesses políticos. O governo Lula, que havia prometido a medida ainda na eleição de 2022, viu-se pressionado, já que a pauta tinha peso eleitoral e poderia melhorar sua popularidade.

Reação negativa

A demora só foi revertida depois da repercussão desastrosa da PEC da Blindagem. O Congresso aprovou a proposta, mas enfrentou forte reação popular. Deputados e senadores, em maus lençóis com a sociedade, passaram a buscar uma pauta positiva urgente. Foi aí que lembraram da isenção do Imposto de Renda, resgatada de uma proposital gaveta para ser aprovada rapidamente.

Benefício da isenção

Com a mudança, quem ganha até R$ 5 mil ficará isento. Já quem recebe até R$ 7,3 mil terá desconto no pagamento de imposto. A medida é positiva para a população, aumenta a renda disponível e corrige uma distorção que já era esperada há anos. Mas o timing da votação deixa claro que o interesse não foi apenas social, mas também de sobrevivência política.

Nos últimos dias, pesquisas mostraram uma evolução na desaprovação ao Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados, que aprovou a PEC da Blindagem e depois estava pedindo desculpas, chegou a 70% de rejeição no levantamento do Ipespe.

Fundão bilionário

Enquanto a isenção demorou sete meses com as chantagens do Congresso, o aumento do fundo eleitoral foi aprovado em 14 segundos. Isso mesmo, 14 segundos contados com atenção pelo correspondente do Jornal do Commercio em Brasília, Romoaldo de Souza. O governo havia enviado orçamento prevendo R$ 1 bilhão para o Fundão. O Congresso ampliou para R$ 4,9 bilhões quase sem debate.

O dinheiro sairá de emendas e de cortes em outros setores, excluídos saúde e educação. A prioridade, neste caso, foi reforçar recursos para campanhas em 2026.

No seu tempo

A diferença de velocidade expõe as prioridades do Congresso com autopreservação, mais verbas para campanhas e barganhas políticas.

A população, mesmo com a conquista da isenção do IR, continua arcando com impostos pesados sobre consumo. O sistema é sustentado pelos contribuintes, enquanto deputados e senadores seguem legislando primeiro em benefício próprio para barganhar em tudo que puder beneficiar a população.

Compartilhe

Tags