Cena Política | Análise

A escolha racional de Tarcísio e a ausência de consenso oposicionista

Sem Tarcísio de Freitas (Republicanos), a oposição perde uma alternativa competitiva e a corrida de 2026 fica ainda mais indefinida.

Por Igor Maciel Publicado em 29/09/2025 às 20:00

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Tarcísio de Freitas (Republicanos) parecia ter encontrado o caminho natural para se tornar o nome da direita nas eleições presidenciais de 2026. Era o preferido da maioria no agronegócio, do centrão e da Faria Lima, aparecia em pesquisas com chances de derrotar Lula (PT) e chegou a ser visto como a aposta mais sólida fora da família Bolsonaro.

Mas, com os movimentos recentes, essa possibilidade foi se esfarelando até chegar a esta semana em que o governador reforçou aos mais próximos: não será candidato à presidência e buscará a reeleição em São Paulo.

Popularidade em queda

A derrocada começou com escolhas mal calculadas. Ao apoiar Donald Trump no momento em que o ex-presidente americano ameaçou o Brasil com tarifas, Tarcísio deu um tiro no próprio pé. O gesto foi visto como submissão e abriu espaço para que Lula assumisse o discurso patriótico e de soberania, antes dominado pelo bolsonarismo. Essa postura foi decisiva, pois tirou do governador paulista a bandeira que poderia unificar setores da direita, caso defendesse a economia brasileira.

A queda de popularidade foi imediata e as pesquisas deixaram de exibir consistência em sua candidatura. O nome que chegou a ameaçar Lula na largada se transformou em dúvida e desconfiança. Tarcísio, que parecia ser a alternativa, passou a representar risco.

A lógica de Eduardo Bolsonaro

Nesse cenário, Eduardo Bolsonaro entrou em cena. Com críticas abertas à ideia de lançar Tarcísio como candidato presidencial, passou a defender que a família deveria preservar seu patrimônio político. O raciocínio é simples, porque uma candidatura de Tarcísio poderia sugar os votos bolsonaristas e transformá-los em votos “freitistas”. O capital político construído pelo pai migraria para outro líder em pouco tempo.

Flávio Bolsonaro chegou a ironizar Eduardo, chamando-o de “meu irmão doido”. Mas o argumento dele não deixa de ter fundamento. Uma liderança carismática e nacional como Tarcísio poderia se emancipar rapidamente, enfraquecendo o controle da família sobre a base da direita.

Risco calculado

A decisão de desistir da corrida presidencial também tem um cálculo prático. Em São Paulo, Tarcísio tem a reeleição praticamente garantida. Abrir mão de um cargo tão estratégico para arriscar-se contra Lula, que detém a caneta e o poder da máquina federal, seria uma aventura desnecessária.

Ainda mais com a obrigação de deixar o governo em abril de 2026 para disputar a presidência. O risco é maior do que a promessa.

Os gestos recentes já apontavam nessa direção. O governador priorizou movimentos que fortalecem sua imagem local, mesmo que prejudicassem sua projeção nacional. Quando se alinhou a Bolsonaro em pautas de interesse do eleitorado paulista, ficou claro que a ambição real era permanecer no Palácio dos Bandeirantes.

A direita dividida

Quando Tarcísio se retira, como deve acontecer, abre-se espaço para outros nomes da direita. Ratinho Júnior, do PSD, aparece como a “bola da vez”, mas sua candidatura depende dos cálculos de Gilberto Kassab (PSD), um dos maiores estrategistas da política brasileira. A lista ainda inclui Ronaldo Caiado (União) e Romeu Zema (Novo), que tentam costurar apoios mas não conseguem, até agora, se colocar como consenso.

O bolsonarismo continua sendo o polo mais barulhento da direita, mas a ausência de um candidato único mostra que o campo segue fragmentado. E a fragmentação é um presente para Lula, que, mesmo enfrentando altos índices de rejeição, conta com a vantagem de ser incumbente e de ter conseguido reposicionar seu discurso no tabuleiro nestes últimos dias.

O futuro em disputa

A provável desistência de Tarcísio é um sintoma da dificuldade que a direita enfrenta para se reorganizar. O governador paulista preferiu preservar seu território em vez de arriscar-se numa batalha nacional que poderia desidratar sua carreira política. E, ao mesmo tempo, deixou um vácuo que a direita ainda não sabe como preencher.

Tarcísio pode até ter feito a escolha racional. Mas o movimento expõe um dilema maior: a direita brasileira, mesmo com nomes viáveis em estados importantes, não consegue costurar uma alternativa nacional sólida. E, sem essa costura, seguirá interditada pela família Bolsonaro.

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