Governo Lula inverte rejeição e aprovação com ajudas involuntárias
A Câmara dos Deputados saiu desgastada de quase tudo o que fez desde julho deste ano, mas o Planalto ganhou fôlego e reposicionou sua força política.

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O governo Lula atravessou a primeira metade de 2025 em situação crítica de popularidade. A rejeição era alta, a aprovação baixa, e o cenário parecia apontar para um enfraquecimento sem volta.
Esse ambiente levou partidos do centrão a ensaiarem uma debandada, mesmo ocupando ministérios importantes.
O União Brasil foi o mais rápido a anunciar a saída em julho, embora só tenha concretizado a entrega dos cargos em setembro.
O partido de Ronaldo Caiado (União), que quer ser candidato a presidente, o Progressistas, além do Republicanos, chegaram a dizer que deixariam os ministérios em agosto. Esse anúncio aconteceu quando o governo Lula estava no fundo do poço, mas foi também nesse momento que começaram os primeiros sinais de recuperação.
Na prática, e por enquanto, apenas o União Brasil levou o movimento até o fim, o que demonstra que a aposta inicial não foi tão sólida quanto parecia.
Efeito inesperado
O discurso contra o governo, liderado por figuras com influência sobre o presidente da Câmara, Hugo Mota (Republicanos), acabou reforçando a estratégia do Palácio do Planalto de colocar em disputa a ideia de "ricos contra pobres". Alí foi apenas o início.
A narrativa, que parecia arriscada, encontrou ressonância em parte da população ligada a movimentos sociais da esquerda, que estavam afastados do governo Lula, e abriu espaço para a retomada de apoio popular.
Pesquisa IPESPE
As pesquisas passaram a captar essa virada. Em julho, no IPESPE, a rejeição já caiu de 54% para 51% e a aprovação subiu de 40% para 43%.
Em setembro, pela primeira vez, o governo apareceu mais aprovado que desaprovado. Foram 50 por cento de aprovação contra 48 por cento de desaprovação, invertendo o quadro negativo que vinha desde o início do ano.
Fatores adicionais
Essa melhora foi alimentada também por fatores externos. O bolsonarismo trouxe para o debate a pauta de Donald Trump e das tarifas, o que acabou funcionando como elemento de contraste e favoreceu Lula.
Ao mesmo tempo, a discussão em torno da PEC da Blindagem mobilizou manifestações de rua que, em vez de atingirem o governo, acabaram reforçando sua imagem junto à opinião pública.
PEC da Blindagem
A aprovação da proposta no Congresso, mesmo com votos de setores da esquerda como o PSB, provocou reação popular que atingiu em cheio o Legislativo.
As ruas se voltaram contra deputados, mas o Planalto conseguiu se colocar como contraponto, fortalecendo sua posição no jogo político e saindo sem arranhões.
Efeitos no Congresso
O maior desgaste foi para a Câmara dos Deputados. A aprovação caiu de 24% para 18% e a rejeição subiu de 63% para 70% entre julho e setembro. O saldo negativo cresceu de maneira expressiva.
O Senado, por sua vez, manteve estabilidade e até apresentou leve melhora. A resistência às medidas mais impopulares ajudou a atenuar a imagem da Casa, mesmo antes de enterrar de vez a PEC da Blindagem, o que deve ter ampliado esse ganho.
STF
Outro ator que saiu fortalecido foi o Supremo Tribunal Federal. Depois do julgamento de Jair Bolsonaro, a instituição registrou avanço em sua avaliação.
A aprovação subiu de 43% para 46% e a rejeição caiu de 49% para 44%.
Pela primeira vez o saldo se tornou positivo, com mais gente aprovando do que reprovando a Corte.
Acontece
O que parecia ser o início do colapso do governo acabou se tornando um movimento de recuperação. O centrão, que buscava se distanciar para não ser contaminado pela impopularidade de Lula, terminou funcionando como catalisador de uma virada inesperada.
O vento político mudou justamente quando o governo começa a se preparar para a eleição, e a dúvida agora é se essa curva positiva vai se sustentar nos próximos meses. Principalmente depois que a direita bolsonarista apresentar um candidato que, por enquanto, está difícil.
Quem quer Trump?
Na pesquisa Ipespe publicada esta semana, também chamou a atenção os dados referentes à disputa na qual envolveram a população, relacionada a Donald Trump, Lula, Bolsonaro e as tarifas americanas aos produtos brasileiros. No levantamento perguntaram o que os brasileiros achavam do Governo Trump. A resposta foi negativa. Mais de 60% desaprovam Trump no Brasil e a aprovação está em 30%. Esta mesma pergunta foi feita em maio e, na época, o "placar" era 55% x 39%. Apoiar-se no presidente americano, no Brasil, pode ser uma armadilha.
Sobre túneis e memórias
Faz menos de uma semana que a governadora Raquel Lyra (PSD) deu uma entrevista à Rádio Jornal, no programa Passando a Limpo, e cobrou a Prefeitura do Recife para que assumisse finalmente o Túnel da Abolição, na Madalena. Algo que já estava acertado há tempos. Foi então que o vice-prefeito da capital, Victor Marques (PCdoB), surpreendeu de forma curiosa: gravou um vídeo no local dizendo que "tomou uma decisão" e a prefeitura vai assumir o túnel. Aproveitou para dizer que "não queria apontar culpados", mas passou a gravação inteira dizendo que a culpa era do Governo.
É bom lembrar
O Túnel da Abolição começou a ser construído na gestão Eduardo Campos e terminou no governo de Paulo Câmara, quando o PSB comandava o Estado. Ele sempre teve problemas, sempre apresentou alagamentos e sempre levantou dúvidas, assim como outros túneis construídos nessa época, sobre a necessidade desses equipamentos, nesse formato, numa cidade cercada por mangue e cheia de espaços aterrados. Mas as obras foram caríssimas na época. Ver uma prefeitura do PSB reclamar agora e esquecer esse detalhe, foi curioso, pra dizer o mínimo.
Saídas
As exonerações recentes de figuras que vinham tendo um reconhecido bom desempenho no Governo do Estado chamaram ainda mais atenção para o clima de trabalho na equipe de primeiro escalão do Palácio do Campo das Princesas. Nenhum deles reclamou, fizeram questão de não falar sobre o assunto e as saídas foram "a pedido". Mas nos bastidores há insatisfação, inclusive dos que ainda estão em seus cargos.
O clima é ruim
Desde o início da gestão, o ambiente da equipe principal do governo se alterna entre o respeito à figura da governadora, passando pela tensão e atritos com parte de seu núcleo mais duro e próximo, que se preocupa mais em controlar a iniciativa alheia do que incentivar seus resultados, chegando a uma máquina administrativa travada, geralmente por desconfiança diuturna. Não é fácil para ninguém trabalhar nesses termos.