Cena Política | Análise

Governo fraco sobrevive com a ajuda dos adversários atrapalhados

A falta de estratégia da oposição repete um padrão: chutar a bola fora do tempo, cair de bunda no chão, e dar vitórias ao governo Lula.

Por Igor Maciel Publicado em 22/09/2025 às 20:00

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A política brasileira tem apresentado um enredo curioso neste ano de 2025 que começou com uma derrocada impressionante na popularidade do governo lulista. A equipe presidencial demonstrou, ao longo de meses, que não era capaz de reverter os números, bateram cabeça, brigaram entre si.

Aí, surpreendentemente, os opositores decidiram ajudar. Enquanto o governo Lula (PT) enfrenta dificuldades internas e contradições entre seus aliados, quem tem ajudado a mantê-lo de pé é justamente a oposição.

A direita brasileira se comporta como aquele jogador de futebol que sabe chutar, mas nunca acerta o tempo da bola. Erra o momento de atacar e, com isso, perde as chances que surgem. Os bolsonaristas quando correm para fazer gol, sempre estão adiantados ou atrasados demais. Chutam o ar, caem no chão

Oposição sem estratégia

Os movimentos mais recentes da oposição e do centrão deixaram isso evidente. Ao colocar a PEC da Blindagem e a anistia no mesmo pacote, ambos cometeram um erro básico de cálculo político. Valia o conselho da vovó para não colocar todos os ovos na mesma cesta.

O resultado foi imediato. As manifestações populares que ganharam as ruas tiveram como principal alvo a PEC da Blindagem, também apelidada de PEC da "Bandidagem" por boa parte da sociedade. Ela foi vista como uma tentativa de salvar lideranças partidárias e parlamentares de investigações e punições.

Os senadores já sinalizam que a proposta deve ser enterrada e que dificilmente terá futuro. A reação popular contaminou também a discussão sobre a anistia, que agora encontra barreiras semelhantes.

Até mesmo a alternativa conduzida por Paulinho da Força (SD), de reduzir penas por meio de um projeto de "dosimetria", corre o risco de perder fôlego diante do desgaste.

Efeitos sobre Bolsonaro

Havia expectativa de que a dosimetria pudesse beneficiar Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos. A redução de penas abriria caminho para uma progressão mais rápida.

Mas o erro no cálculo político da oposição e o impacto das manifestações jogaram contra esse plano. A tendência agora é de que nem Blindagem e nem a anistia avancem no Senado.

Até a dosimetria corre risco, porque tudo o que estiver vinculado de alguma maneira à PEC da Blindagem terá um ar de corrupção, impunidade e fome por regalias púbicas daqui para frente.

Pelo empate

No "campeonato" de uma eleição, quem joga pelo empate é quem já está no governo. A oposição teve dezenas de chances de marcar um gol, mas toda vez que o atacante tenta chutar a bola, perde o tempo e cai de bunda no chão.

A gestão petista é ruim, desconectada da realidade, mal consegue trocar dois ou três passes sem tropeçar nos próprios pés. O governo é fraco, esta é a verdade. As pesquisas mostram isso. Questionado, o eleitor diz nesses levantamentos que Lula "nem deveria tentar a reeleição".

Mas a oposição tem tanta dificuldade para acertar o tempo da bola e marcar um gol, que o empate beneficia os petistas e, perguntados sobre o voto para 2026, os entrevistados dizem em maioria que votam em Lula. Quase por falta de opção.

Bandeira constrangida

O momento poderia ser ainda melhor aproveitado pelo governo e por Lula, mas não será e a culpa é do próprio PT.

Qualquer um que tenha votado contra a PEC da Blindagem pode aproveitar as mobilizações do fim de semana para melhorar seu capital político. Mas apauta que surge das ruas é uma bandeira por ética na política, e esse terreno é espinhoso para o PT e para o próprio governo.

O partido de Lula carrega em sua história processos, denúncias, escândalos e até prisões por corrupção no passado. O PT fica constrangido para levantar essa bandeira.

José Dirceu (PT), o general do "mensalão", articulador de toda a corrupção do primeiro governo petista, fazendo discurso pela moralização do Congresso Nacional, como fez, é algo tão ridículo que nem todo mundo tem coragem de fazer. O PT não tem como aproveitar isso.

Contradições do sistema

O governo sobrevive mais pelos erros de adversários do que pela coesão interna. Oposição e centrão se embaralham em estratégias mal calculadas, que terminam fortalecendo o Palácio do Planalto.

O pior de tudo é que o país fique dividido entre dois times sem qualquer capacidade para mudar a história do jogo.

A soma das incompetências dos políticos brasileiros no presente é o que está construindo o futuro do Brasil. E só em matéria de incompetência vamos muito bem até agora.

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