Um presidente precisa ter o perfil de Michel Temer para pacificar o país
Apesar das polêmicas, Temer se consolidou como raro articulador capaz de unir poderes; seu estilo ainda é referência para pacificar crises nacionais.

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A postura de Michel Temer (MDB) é a que qualquer próximo presidente brasileiro deveria tentar copiar. Esta afirmação é extremamente polêmica, porque o ex-presidente é apontado como uma raposa política que teria articulado um impeachment, quando vice, para assumir o poder. Mas isso é relativo.
Para quem acompanhou sem paixão política ou ideológica a presidência de Dilma Rousseff (PT) e a crise econômica na qual ela enfiou o Brasil, caso tenha articulado isso, Temer foi é um grande herói.
As acusações de golpe vindas do PT nunca se apagaram, mas o processo seguiu a Constituição.
Controvérsias à parte, a verdade é que, a partir dali, Temer consolidou a imagem de figura central no jogo político brasileiro e uma referência quando se fala em articulação, mesmo agora, sete anos após deixar a presidência.
O articulador histórico
Antes mesmo de ocupar a cadeira de presidente, Temer já era visto como ponto de convergência entre Congresso, Executivo e Judiciário. Foi a ele que o próprio Lula (PT) recorreu em 2010, quando precisava de uma ponte para viabilizar Dilma Rousseff como candidata.
A resistência a Dilma era grande, considerada ministra de difícil trato, e Temer entrou na chapa justamente para exercer o papel de articulador com o Legislativo. Ele já foi vice-presidente exatamente por ter essa aptidão.
Limites no governo Dilma
Mesmo com Temer de vice, a falta de habilidade política de Dilma era tamanha que nem sua presença foi suficiente para estabilizar o governo. O impeachment foi o desfecho, e Temer assumiu a presidência por quase dois anos.
Esse período é lembrado como o último momento de relativa calmaria institucional, sem brigas intensas entre os poderes. A imagem de equilíbrio marcou sua gestão.
Sim, desde que Michel Temer deixou a presidência, nunca mais houve paz institucional no Brasil.
Referência permanente
Embora hoje tenha menos influência dentro do MDB, sua capacidade de articulação continua sendo reconhecida. Tanto petistas quanto bolsonaristas já recorreram a ele em momentos de crise, reforçando sua posição como peça-chave do tabuleiro.
Na discussão recente sobre o projeto de anistia, o protagonismo de Temer voltou à tona. Paulinho da Força (SD), relator da proposta, foi instruído a conversar com ele.
Dias antes, Temer havia dado entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, explicando que anistia não poderia ser imposta por um grupo apenas, mas "deveria nascer de um grande acordo nacional".
Alertou ainda que o melhor caminho seria abandonar o termo e discutir alternativas, como a redução de penas.
Do conselho à prática
A orientação foi seguida. O projeto deixou de ser chamado de “PL da anistia” e passou a ser “PL da dosimetria”, tratando da diminuição de penas para todos os condenados, incluindo Jair Bolsonaro.
Temer não parou na sugestão: atuou diretamente nos bastidores, ligando para Alexandre de Moraes, ministros do Executivo e líderes do Legislativo. Deu certo e os principais interlocutores dos poderes confirmaram que, nesses termos, um acordo se tornava viável.
Mirem-se
A movimentação reforça a percepção de que Temer continua sendo um dos últimos grandes articuladores do país. Aos 84 anos, segue com influência e capacidade de pacificar crises.
Não é necessário que volte ao poder no cargo mais alto da República que já ocupou, mas qualquer liderança que busque promover estabilidade institucional, talvez, precise adotar a lógica de Michel Temer e, enquanto ainda for possível, contar com seu apoio para viabilizar consensos.
O Brasil só terá paz quando alguém com esta habilidade para negociar e fechar acordos, além de conhecimento e respeito à leis, estiver sentado no Executivo.