Governadora falou sobre a gestão, mas mandou recados sobre campanha
Mesmo priorizando a gestão em todas as suas falas, Raquel Lyra (PSD) expôs energia de quem se arma para o embate de 2026. E não está para brincadeira.

Clique aqui e escute a matéria
Apesar de todo o esforço em reafirmar que sua prioridade é a gestão, a entrevista da governadora Raquel Lyra (PSD) ao programa Passando a Limpo, na Rádio Jornal, deixou escapar sinais claros de que a preparação para a campanha de 2026 já começou também para ela.
A postura firme, o ritmo acelerado de fala e a forma como ela demonstrou estar ligada o tempo todo compõem uma imagem de determinação que vai além do dia a dia administrativo.
É a imagem de uma liderança que trabalha para convencer que está pronta para encarar tanto as entregas de governo quanto a maratona de uma reeleição. Isso foi algo bastante claro na entrevista.
Energia e preparação
Na política, a forma muitas vezes fala mais que o conteúdo. A insistência de Raquel em demonstrar essa energia, como se estivesse conectada em 220 volts, sugere que não se trata apenas de administrar a máquina pública. É uma postura típica de quem já vislumbra a necessidade de estar em condições físicas e mentais de percorrer mais de 180 municípios, cumprindo agendas desgastantes.
A comparação com a lembrança de Eduardo Campos, em 2013, ilustra bem: havia quem dissesse que, quando um político começava a se preocupar com preparo físico, era sinal de candidatura à vista. Quando nem o então governador dizia se seria candidato a presidente, por exemplo, muitos aliados já davam como certo, porque ele começava a fazer exercícios numa esteira.
O discurso pode negar a candidatura, mas os gestos antecipam o movimento eleitoral.Recentes postagens da governadora em suas redes sociais, treinando numa academia, reforçam essa leitura.
Em política, não é apenas sobre malhar para a saúde: é um sinal de que há uma campanha longa pela frente e de que o corpo precisa estar preparado para aguentar a estrada.
Entrelinhas do discurso
No campo político, a governadora deixou claro que ainda sente o prejuízo pela resistência da Assembleia Legislativa. Criticou abertamente os 180 dias de demora na aprovação de um empréstimo, lembrando que, em sua época como deputada, operações semelhantes eram liberadas em até 48 horas.
Disse que Pernambuco perdeu tempo e obras que poderiam estar em andamento só agora começarão a ser adiantadas. Foi uma cutucada nos opositores ligados ao PSB, sobretudo ao prefeito João Campos, mesmo sem citar o nome diretamente.
Raquel admitiu que a responsabilidade pelo Túnel da Abolição ainda é do governo estadual e mandou executar a limpeza após novo alagamento. Mas fez questão de avisar que, no futuro, pretende passar essa atribuição para a prefeitura.
No caso das creches, a governadora garantiu entregas, mas lembrou que a prefeitura do Recife pediu unidades, embora não tenha apresentado os terrenos.
Coube ao governo encontrar as áreas e destravar o processo na capital, Raquel aproveitou para mostrar que, se necessário, mesmo que a prefeitura do Recife não queira ajudar, vai trabalhar pela cidade.
Preservando pontes com Lula
Se no plano estadual a governadora fala em birra e resistência da oposição do PSB, no plano federal a postura é bem diferente.
Raquel Lyra não declarou apoio a Lula para 2026, mas buscou ressaltar a importância da relação com Brasília. Disse que o governo federal tem ajudado Pernambuco e que não pretende repetir o erro dos últimos anos, quando divergências políticas com Dilma, Temer e Bolsonaro teriam custado caro ao Estado.
Foi mais um recado para o PSB. Com Eduardo Campos e Paulo Câmara, o governo de Pernambuco brigou com esses três presidentes e muitas obras pararam no estado, enquanto os socialistas tentavam se afirmar ideologicamente.
Não se trata, segundo ela, de simples alinhamento eleitoral com o PT de Lula, mas de garantir recursos e viabilizar projetos para os pernambucanos acima de tudo.
Um exemplo citado foi a tentativa de encontrar solução conjunta para o metrô do Recife, que é responsabilidade da União, mas afeta diretamente o dia a dia dos pernambucanos.
A estratégia é preservar pontes com Lula, sem comprometer o espaço político do PSD (seu próprio partido), que pode ter candidato próprio em 2026.
Segurança e continuidade
Na entrevista, a governadora também tratou da segurança pública e foi firme ao afirmar que os “laranjinhas” não sairão das ruas. Serão mantidos até a chegada de um novo contingente de policiais previsto para o próximo ano.
É uma forma de passar a mensagem de continuidade e estabilidade em uma área sensível na Região Metropolitana, reforçando a narrativa de que o governo entrega resultados concretos.
Mais que um balanço
A entrevista da governadora Raquel Lyra foi mais do que um balanço de gestão. Nas entrelinhas, deixou claro que o palanque de 2026 já está em montagem, quis transmitir energia e preparo físico, apontou atrasos da oposição na Assembleia, cutucou a prefeitura do Recife e, ao mesmo tempo, mostrou simpatia com pragmatismo em relação ao governo Lula. O discurso foi moldado para marcar território: sem assumir oficialmente uma campanha, mas já se colocando como protagonista do próximo embate eleitoral em Pernambuco.