Cena Política | Análise

Com anúncios Raquel Lyra ganha fôlego, mas estrada política é longa

Governadora assegura maioria temporária em CPI e lança pacote bilionário na RMR, mas oposição não está derrotada e deve voltar ao confronto em breve.

Por Igor Maciel Publicado em 05/09/2025 às 20:00

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A governadora Raquel Lyra (PSD) chegou a um ponto importante de sua trajetória no Palácio do Campo das Princesas dentro dos embates com a Assembleia Legislativa de Pernambuco. No boxe este momento é o "clinch". É quando um adversário praticamente se abraça o outro, não para fazer as pazes, mas para respirar e recuperar um pouco a energia.

Dessa vez, quem buscou o clinch foi a oposição na Alepe. Os deputados da oposição, muito ligados às aspirações de João Campos (PSB) ao governo, estavam tão animados com a CPI da Publicidade que exultavam expressões de uma felicidade incrível. Pareciam prestes a explodir de alegria, como se tivessem descoberto a fonte de toda a riqueza, o pote no fim do arco-íris.

Fizeram muito barulho e, agora, mal falam no assunto.

Oposição recua

Diz o dito popular que não se briga pra valer nem com rio cheio e nem com governo estabelecido. A gestão atual tem uma política difícil de navegar para os deputados e tem sido assim desde o início. A articulação do Palácio é uma "pororoca" confusa e assistemática, mas o governo continua tendo a força de uma correnteza que tudo pode arrastar. Não se brinca com isso e, nisso, não se comemora nada antes do tempo.

A oposição criou a CPI para investigar o governo atual, o governo avisou que iria querer investigar os anos anteriores (do PSB). Para evitar o risco de ter as contas do PSB levantadas, a oposição fez uma manobra regimental para assumir o comando da CPI e o governo reagiu, derrubando tudo na Justiça e garantindo a maioria outra vez.

Foi quando os oposicionistas precisaram de um abraço para descansar. Estão quietos como não se via há muito tempo.

Obras anunciadas

Raquel aproveitou e fez um anúncio de obras gigantesco na Região Metropolitana do Recife. A promessa de investir R$ 1 bilhão e entregar obras em vários setores, inclusive no território de João Campos, até meados do ano que vem, deve ter forte impacto para a forma como a governadora é vista pela população da RMR.

As entregas, se forem feitas como prometido pelo secretário de Planejamento do Estado, Fabrício Marques, em entrevista à Rádio Jornal esta semana, podem redimensionar o governo estadual numa área em que João Campos, de tanta liberdade que teve para atuar, nem precisou se esforçar muito nos últimos anos.

Campos teve uma reeleição tranquila em 2024, praticamente sem adversários competitivos. A facilidade do processo eleitoral consolidou ainda mais sua presença política na capital e hoje ele usa isso para mostrar força em pesquisas de opinião.

Quando as obras começarem a ser vistas, se a Segurança estiver reestruturada, se a Saúde oferecer atendimento de qualidade e os nós existenciais do metrô e do Arco Metropolitano puderem ser desatados, algum resultado na região deve aparecer.

Mas só anunciar obra não resolve.

Pontos de atenção

Algumas questões devem ser observadas. A primeira é que as entregas precisam ser feitas de verdade, sem subterfúgios, sem retórica política dentro do prazo estabelecido, para mostrar que, apesar de toda a demora, o governo finalmente chegou.

Outra questão é a necessidade de lembrar o "drama da pata": enquanto a pata bota o ovo e fica quietinha, a galinha, mesmo com o ovo menor e menos nutritivo, cacareja e conta para todos que tem ovos! Resultado: ela vende mais. Sem comunicação eficiente e estratégica, é possível mudar completamente o mundo sem que ninguém perceba. Político nenhum cresce assim. E por mais que a moda seja "fingir que não é político". Todo mundo que disputa cargo público é.

Por último, é preciso lembrar que clinch não é nocaute. Em algum momento, o boxeador vai respirar, dar um passo atrás e voltar a bater. A oposição na Alepe não está quieta porque está rendida, mas apenas pensando na sequência da luta, que vai longe de terminar. A articulação do governo ainda precisa melhorar. E muito.

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