Entre Lula e Bolsonaro, Tarcísio tenta escapar de um abraço mortal
Dados da pesquisa Quaest divulgada esta semana apontam maioria contra Bolsonaro e abrem dilema sobre o futuro político do governador de São Paulo.

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As últimas rodadas de pesquisas trouxeram um dado que se consolidou de forma clara: o crescimento de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) frente aos adversários. O movimento ganhou força desde a carta de Donald Trump ameaçando o Brasil com tarifas pesadas, situação que acabou se voltando contra Jair Bolsonaro (PL). A associação imediata feita pelos vídeos de Eduardo Bolsonaro (PL), vinculando as ameaças ao processo contra o pai, gerou desgaste e abriu espaço para a vantagem do atual presidente.
O resultado foi um crescimento consistente de Lula e um enfraquecimento perceptível do bolsonarismo antes mesmo do episódio da prisão. Essa impressão foi se materializando tanto nos percentuais melhores para o petista quanto na animação de governadores da centro-direita que colocaram seus nomes para disputar a presidência.
Prisão de Bolsonaro
O dado mais impactante da nova pesquisa Genial/Quaest veio com a inclusão de uma pergunta inédita: a percepção sobre a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. Pela primeira vez, foi medido o grau de concordância da população com a medida, e o resultado é significativo. Mais da metade dos entrevistados, 55%, consideram "justa" a prisão. Apenas 39% a veem como "injusta".
O esperado por muitos seria um fortalecimento do bolsonarismo como reação às medidas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, mas a sondagem mostrou o oposto. A percepção de injustiça não se tornou maioria e, pelo contrário, a opinião pública consolidou a ideia de que a prisão é até "merecida".
Tentativa de golpe
Outro indicador confirma esse desgaste na imagem de vítima de Bolsonaro: a percepção sobre sua participação na "tentativa de golpe".
Em dezembro do ano passado, 47% afirmavam que ele havia participado. Em março, o percentual subiu para 49%, ainda dentro da margem de erro. Mas em agosto, com o ex-presidente já recolhido em prisão domiciliar, o número alcançou 52%.
É a primeira vez que mais da metade dos brasileiros acredita que Bolsonaro teve envolvimento direto nos crimes.
Pressão sobre Tarcísio
Esse ambiente impõe uma pressão direta sobre Tarcísio de Freitas (Republicanos). O governador de São Paulo é visto por muitos analistas, entre eles o cientista político Adriano Oliveira, como um dos poucos capazes de rivalizar com Lula em 2026. Mas a condição é clara: "ele precisa se afastar de Bolsonaro".
O dilema dele é "como subir no trem sem abandonar a estação", já que não pode romper de forma explícita, sob risco de perder o apoio da base bolsonarista. O problema se agrava pelo histórico de atritos com Eduardo Bolsonaro, que nunca escondeu o incômodo com o protagonismo do paulista e mantém seu próprio projeto político. Nesse jogo, qualquer passo em falso pode custar caro a Tarcísio.A questão crucial é também de calendário.
Por que o calendário?
Tarcísio de Freitas, por ser governador, é obrigado a se desincompatibilizar do cargo de comando do mais rico estado do país em abril, para ser candidato em outubro. Seus concorrentes na esquerda e na direita só precisam definir se são candidatos ou não entre julho e agosto, nas convenções partidárias.
Agora imagine a seguinte situação: Tarcísio larga o governo de São Paulo para ser o candidato da direita, de oposição a Lula, concentrando todos os apoios do centrão e da família Bolsonaro, mas três meses depois o cenário muda completamente. Digamos que Lula ofereça algo aos sempre pouco confiáveis líderes do centrão e ganha seu apoio.
Ou ainda, imagine o seguinte: insatisfeito com o parco protagonismo na prisão, Jair Bolsonaro anuncia que vai lançar algum de seus familiares candidato a presidente, os filhos, a esposa. Indicando aos seus seguidores que não devem votar em Tarcísio porque ele não o representa diretamente. Quem achar que isso não é possível, basta lembrar de como Ricardo Nunes (MDB) foi abandonado por Bolsonaro no meio da campanha pela prefeitura de São Paulo.
Se algo do tipo acontecer, Tarcísio terá perdido uma reeleição certa para ficar apenas com o sonho constrangido de ser presidente.
O dilema final
O desafio que se impõe ao governador é de natureza quase existencial para seu futuro político. Tarcísio de Freitas tem a oportunidade única de se projetar nacionalmente e disputar o Planalto, mas enfrenta o paradoxo de precisar se desvincular do bolsonarismo sem perder os votos que ele carrega.É uma missão de equilíbrio delicado, ainda mais porque sua reeleição em São Paulo está praticamente garantida.
O destino, como diria Tancredo Neves, é implacável quando se trata de escolher um presidente.No caso de Tarcísio, o destino parece ter chegado com um desconto de 50%. Ao tentar subir no trem sem deixar a estação, qualquer um corre o risco de cair da plataforma e acabar machucado.