Cena Política | Análise

Virada de chave para Raquel Lyra é agora. Mas política tem que melhorar

Para disputar 2026 em pé de igualdade, Raquel precisa transformar avanços em capital político, superando problemas na articulação que datam de 2023.

Por Igor Maciel Publicado em 13/08/2025 às 20:00

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O governo Raquel Lyra (PSD) está perante algo que pode significar o momento de uma virada de chave para começar, efetivamente, sua construção de competitividade eleitoral para 2026. Mas como todo momento decisivo, é a hora de separar o que “deveria ter sido” do que “precisa ser”.

Falta pouco mais de um ano para a eleição e as últimas pesquisas ainda colocam uma grande vantagem para o prefeito do Recife, João Campos (PSB). Não existe caminho fora da política para quem atua na política. Nelson Rodrigues que perdoe o óbvio ululante desta frase, mas o absurdo é necessário quando é preciso alertar sobre a incoerência dos últimos anos em que a alternativa dos políticos para melhorar a credibilidade geral perdida foi fingir que não são políticos, ao invés de mudar os hábitos que sequestram seu crédito.

Há um problema ainda maior para quem tenta não ser político já estando em um cargo que alcançou através da política. Ainda dá pra argumentar ser outsider quando se está na oposição. Com caneta na mão e a chave do cofre, fica mais difícil. O governo Raquel precisa fazer política.

Entregas dispersas

A atual gestão tem mostrado uma disposição visível para percorrer o estado com anúncios e entregas. São estradas sendo recuperadas, cozinhas comunitárias implantadas, projetos de infraestrutura como o Arco Metropolitano em fase de preparação.

A pulverização das ações gera ganhos locais imediatos e, em muitos casos, atende demandas antigas. O secretário de Planejamento, Fabrício Marques, destacou recentemente na Rádio Jornal que há “muita coisa em andamento” e, de fato, há sinais de execução. Mas falta uma obra-símbolo, algo que concentre atenção e reconhecimento estadual, capaz de ser associada diretamente à marca da gestão, como foi a duplicação da BR-232 para Jarbas Vasconcelos (MDB). Sem esse marco, a narrativa eleitoral tende a se dispersar com o tempo entre a obra e o voto.

Desafio metropolitano

A Região Metropolitana do Recife segue como o maior desafio eleitoral. O peso político de João Campos, somado à sua visibilidade diária como prefeito da capital, dificulta qualquer tentativa de avanço expressivo nesse território.

É uma área onde as percepções sobre segurança e saúde têm forte impacto, e o governo começa a dar sinais de reação. Na saúde, há reformas em andamento no Hospital da Restauração e uma postura mais preventiva diante das crises, embora a percepção popular ainda seja tímida porque não há nenhum tipo de bandeira específica no setor além de "sobrevivência estrutural". Já é muito melhor do que na época em que se esperava um teto cair para se fazer alguma coisa, mas não há percepção popular de melhoria.

Na segurança, a formatura de 2.299 novos policiais promete reforço imediato, liberando agentes experientes para operações contra o crime organizado e ampliando a presença nas ruas. Isto, sim, consegue ampliar a percepção de melhoria, de novos tempos e de transformação. Está aí a oportunidade. Ou uma parte dela.

Gargalo político

Essas ações podem representar o início de uma virada de imagem, especialmente se os efeitos forem sentidos ainda em 2025. Mas, por mais que as entregas se multipliquem e os números melhorem, existe a política que ameaça corroer qualquer avanço.

Casos como o da aprovação do administrador de Fernando de Noronha na Alepe, prejudicada na votação em plenário por simples ausência de quórum devido à má coordenação (sim, foi isso), são exemplos de falhas graves. A política não é acessório opcional, é o motor da governabilidade.

Sem corrigir esse déficit, Raquel Lyra corre o risco de chegar a 2026 com obras entregues, índices melhores e ainda assim sem a base sólida necessária para enfrentar, de igual para igual, um adversário já consolidado no jogo político com um acesso mais fácil ao voto, mesmo não tendo o braço longo e pesado do estado para apoiá-lo.

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