Igor Maciel: Pernambuco também precisa agir diante da pressão tarifária americana
Estados como SP, GO e BA já agiram. Em Pernambuco, há uma espera por resposta coordenada para o setor exportador de frutas no Vale do São Francisco.

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O anúncio das tarifas impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros já produz impactos econômicos concretos e ameaça seriamente a produção de frutas no Vale do São Francisco. Pernambuco, pela relevância estratégica na fruticultura irrigada nacional, enfrenta uma crise que não pode ser subestimada, exigindo atenção imediata das autoridades locais. É verdade que, sob a ótica da macroeconomia, o impacto geral pode parecer pequeno.
Economistas destacam que apenas 1,7% do PIB brasileiro está diretamente relacionado às exportações para os EUA, sendo que aproximadamente 60% desses produtos poderiam ser redirecionados para outros mercados, ainda que com preços mais baixos, porque são commodities.
Prejuízo localizado
Tudo bem, mas o sujeito diretamente prejudicado não come "percentual de macroeconomia". O prejuízo localizado pode ser desastroso. Pernambuco está exatamente nessa situação de não ter um grande problema e ter um problema imenso. Isso acontece porque, no geral, só 4,5% de suas exportações vão para os EUA. Se a conversa terminasse aqui, Pernambuco não teria muito com o que se preocupar.
Mas, em compensação, mais de 90% de toda a manga exportada pelo Brasil sai daqui e grande parte disso vai para os EUA. Pior, todo o processo de colheita e envio com o emprego dos trabalhadores para a função acontece entre agosto e setembro. Justo no prazo das tarifas. E é apenas um exemplo.
Outros estados
O Vale do São Francisco, que exporta cerca de 34 mil toneladas de manga por ano apenas para os EUA, vive um momento delicado. Os produtores já reservaram espaço nos navios, assumindo custos antecipados sem garantia de embarque efetivo.
As mangas seguem nos pomares, aguardando definição para saber se serão colhidas ou se irão se perder, causando prejuízos adicionais que atingirão milhares de trabalhadores direta e indiretamente ligados ao setor. Outros estados já apresentaram medidas práticas.
São Paulo, Goiás e Bahia agiram rápido, anunciando linhas de crédito emergenciais, subsídios e apoio logístico. Pernambuco, com tradição em liderar debates nacionais, precisa rapidamente entrar em cena com ações equivalentes. Mais do que posicionamentos políticos, são urgentes medidas concretas, claras e bem articuladas.
Elo regional
Vale lembrar que o principal representante nacional dos produtores de frutas é pernambucano: Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas, liderança reconhecida e que foi candidato ao Senado justamente na chapa liderada pela atual governadora, Raquel Lyra (PSD).
Essa proximidade política e institucional deveria facilitar o diálogo e acelerar ações práticas em defesa dos produtores locais. Não se trata apenas de medidas paliativas ou de contenção emergencial. O governo estadual precisa garantir suporte técnico, financeiro e logístico à altura do impacto que o setor representa para a economia da região. A atuação do governo precisa ser proativa, não apenas reativa.
Desafio coletivo
A crise tarifária imposta por Trump exige mais do que diálogo político: é um teste decisivo de gestão pública. Pernambuco precisa provar que tem capacidade real de enfrentar crises internacionais com reflexos diretos na economia local.
Espera-se do governo ações rápidas e efetivas, não só pela economia, mas sobretudo pelas milhares de famílias que dependem diretamente dessa atividade produtiva. É uma oportunidade, inclusive, para chegar com mais força ao Sertão. A demanda da economia é a melhor janela para a atividade política. Mas é preciso ser ágil para apresentar soluções.
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