Operação da PF expõe dilema da direita sobre Bolsonaro e 2026
Quanto mais ativa estiver a base bolsonarista mais ela funciona como um bloqueio interno, impedindo a direita de apresentar um projeto para 2026.

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A operação da Polícia Federal desta sexta-feira (18), com tornozeleira, censura às redes e proibição de se aproximar de embaixadas, teve dois efeitos simultâneos no campo da direita. Um é visível: o cerco a Jair Bolsonaro apertou mais uma volta. O outro é o que realmente importa para a estratégia política da direita: para o bem ou para o mal, Jair Bolsonaro volta a ficar em evidência, volta a bradar contra injustiças e agora, dizendo passar por humilhação, assume papel de vítima para os seus militantes mais aguerridos.
Piloto automático
A radicalização bolsonarista reage no piloto automático. Vê qualquer investigação como "perseguição", qualquer decisão judicial como "vingança" e qualquer limite legal como "censura". O ex-presidente, que deveria recuar estrategicamente, escolhe sempre alimentar isso. Prefere a trincheira à inteligência política. Foi para o embate, chamou atenção para si e, de novo, transformou uma crise jurídica em palanque eleitoral. O problema crucial nisso? Bolsonaro não é candidato, porque está inelegível e sua inelegibilidade atual não tem nada a ver com o processo que pode fazê-lo ser preso e pelo o qual ele estaria mobilizando os EUA contra o Brasil.
Sai mais caro
Mas isso tem preço. E quem paga mais caro são os nomes que tentam emergir à direita. Tarcísio de Freitas (Republicanos), Michelle Bolsonaro (PL), Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União) sabem que não há espaço para um novo projeto enquanto Bolsonaro for o centro do noticiário e a base estiver completamente mobilizada emocionalmente em torno de sua figura. A cada operação policial, a base reage. A cada reação, Bolsonaro se coloca como vítima. E a cada vez que ele se apresenta como vítima, os outros nomes simplesmente "desaparecem".
Bloqueio interno
Não se constrói uma liderança alternativa em meio a gritos. Não há como ninguém apresentar um plano de governo, por exemplo, enquanto o grupo de apoiadores ainda está chorando "injustiça" e reclamando de perseguição. A base, radicalizada, funciona como um bloqueio interno, impedindo que qualquer candidato da direita surja sem a bênção ou sem a sombra de Bolsonaro. É o paradoxo do bolsonarismo: quanto mais barulho a militância faz pelo líder, menos chances há de se ver a direita voltar ao poder. O eleitor de centro, o conservador moderado, o empresário pragmático, todos fogem do caos.
Dilemas
A situação pessoal de Bolsonaro não é das mais fáceis, é verdade. Pessoalmente há alternativas muito reduzidas para não ser preso. Até a possibilidade de fuga do país fica mais complicada por causa das novas medidas restritivas. Apoiar medidas de retaliação econômica dos EUA contra o Brasil já se mostrou um erro estratégico que reabilitou Lula (PT) para 2026. Ficar quieto, aceitar as medidas da Justiça e apoiar alguém para a disputa de 2026 seria o melhor para o grupo, mas entregaria o posto de líder a um aliado, sem nenhuma garantia de não ser esquecido na cadeia em futuro próximo. É difícil, mas o que precisa estar no horizonte do ex-presidente é que se a direita implodir, ser líder da direita não servirá de muita coisa.