O "Lula do futuro" agradece, se o "Lula do presente" fizer sua parte
Aprovado por grupos com mais influência na opinião pública, Lula tenta consolidar um discurso de vítima de Bolsonaro e Trump diante de crise.

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Quem mais pode comemorar a pesquisa Quaest divulgada na quarta-feira (16) com a aprovação e a desaprovação do governo federal é o Lula (PT) do futuro. Porque o Brasil caminha para uma crise econômica e a sobrevivência política nessa crise vai depender de quem será apontado como culpado por sua origem.
O Lula do presente ainda está trabalhando para garantir que os culpados sejam Donald Trump e os bolsonaro que o provocaram daqui e de lá, pai e filho. Por enquanto, o discurso de “união nacional” contra as tarifas americanas está funcionando.
Impacto
Na região mais impactada por uma possível taxação dos EUA, a diferença entre desaprovação e aprovação do governo foi reduzida. Entre os mais escolarizados, também. Estes são os primeiros que percebem os problemas e os primeiros que reagem.
A pesquisa Quaest, é bom lembrar, foi realizada entre os dias 10 e 14 de julho, um período em que o impacto com a carta de Trump estava no auge.
Sudeste
No Sudeste, o presidente viveu uma sequência difícil ao longo do último ano. Em julho de 2024, havia equilíbrio: 48% de aprovação e 48% de desaprovação.
Mas, até março de 2025, esse quadro se deteriorou rapidamente: a aprovação caiu para apenas 32% e a desaprovação explodiu para 64%. O Sudeste, que foi decisivo na vitória de 2022, parecia perdido.
Reação
Agora, em julho, a curva se inverte. Lula recupera oito pontos percentuais, chegando a 40% de aprovação, enquanto a desaprovação caiu para 56%. A diferença ainda é grande, mas o movimento de reação é real e, mais que isso, estratégico. Retomar parte desse eleitorado urbano, economicamente ativo e formador de opinião é fundamental para qualquer tentativa de reconstrução da imagem do governo.
Recuperação
Algo semelhante ocorre entre os eleitores com ensino superior completo. Em março deste ano, Lula vivia seu pior momento com esse grupo: apenas 33% aprovavam seu governo, enquanto 65% desaprovavam.
Em julho, os números se aproximam: 45% de aprovação contra 53% de desaprovação. Uma recuperação de 12 pontos em apenas quatro meses.
Estratégia
O trabalho do Lula do presente é fazer o que foi feito esta semana. Reunir empresários, buscar interlocutores e tentar construir pontes para amenizar o baque que virá.
Ele já tem algum apoio daqueles que serão afetados primeiro, como mostra a pesquisa. Mas por que esses números são importantes para o “Lula do futuro”?
Influência
É que os estados mais prejudicados com as taxas americanas serão os do Sudeste. É lá que o desemprego pode aumentar mais. E os que têm maior escolaridade são, em geral, mais capazes de influenciar a opinião pública caso a crise chegue (e sempre chega) aos mais pobres, com menor escolaridade.
Lula está, agora, construindo narrativas que vão lhe proteger nos momentos mais difíceis que virão.
Percepção
Na pesquisa, a aprovação e desaprovação entre os que têm escolaridade mais baixa, menor poder aquisitivo e estão em outras regiões, menos afetadas pela possibilidade de prejuízo com as taxas de Trump, não se alteraram muito.
Este é um público, como lembrou o sociólogo e especialista em pesquisas Maurício Garcia, em entrevista ao Passando a Limpo da Rádio Jornal, que só percebe as crises quando elas chegam às prateleiras dos supermercados.
Narrativa
O Lula do futuro pode ser beneficiado por algo que está sendo construído no presente que é a “responsabilidade Bolsonaro/Trump/Direita”.
Quando os preços aumentarem e o desemprego bater, haverá um certo consenso de que “até Lula é vítima, coitado”. E isso pode acontecer já bem próximo da eleição de 2026.