Trump ataca Moraes e ajuda Lula a mobilizar base para eleição de 2026
No vácuo de uma agenda clara e com aliados ainda dispersos, o Planalto encontra no inimigo externo mais uma chance de reconstruir sua frente interna.

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O presidente dos EUA, Donald Trump, abriu a boca e Lula (PT), presidente do Brasil, sorriu com uma oportunidade. Enquanto o americano ataca Alexandre de Moraes e defende Jair Bolsonaro (PL), o petista enxergou a oportunidade de transformar a reclamação internacional num reforço à sua própria narrativa interna que ajuda a “unir os seus pelo país”.
Com baixa popularidade e um Congresso que o esvaziou de dentro para fora, com ministérios no próprio governo petista, o primeiro maior desafio de Lula para a eleição do ano que vem era conseguir juntar seu próprio povo, disperso, entre outros motivos, pela falta de liga ideológica e desconexão do governo com uma agenda clara. Se não há uma agenda unificada, não há união.
Velha fórmula
Uma primeira movimentação nesse sentido foi a narrativa de “ricos x pobres”, que continua sendo utilizada por integrantes petistas do governo. Agora, Trump deu aos militantes lulistas o “novo motivo” mais antigo da retórica “revolucionária” latino-americana: a “luta contra o imperialismo norte-americano”. Um clássico dos anos 1960 que nunca sai de moda em algumas passarelas da esquerda.
É uma baboseira anacrônica que não faz qualquer sentido no mundo atual, sim, mas com algum verniz e a verborragia do discurso trumpista, funciona como cola e alimenta união.
Reforço de fora
Trump classificou o julgamento de Bolsonaro como uma “caça às bruxas” e disse que está monitorando a situação. Exigiu que “deixem Bolsonaro em paz” e ameaçou até reavaliar acordos comerciais com o Brasil. Com isso, o republicano não apenas reafirma sua lealdade a Bolsonaro, mas também oferece a Lula o combustível retórico necessário para relançar o velho “nós contra eles”, agora em versão global.
E o timing é perfeito: em meio ao tensionamento com o Congresso, que esvazia a autoridade do Planalto, sabota pautas econômicas e impõe derrotas sucessivas a ministros. Lula precisava de um novo eixo de união. A ajuda veio de Washington, sem nem ter sido solicitada.
Bolhas infladas
As falas de Trump não ajudam Bolsonaro também? Sim, ajudam, mas apenas movimentam também a sua própria bolha, cada vez mais reduzida por atritos internos e por um abandono típico de quem está chegando ao ocaso de sua influência política.
Se Trump infla a bolha à esquerda e também à direita, temos um empate no aproveitamento da interferência retórica dos EUA? Não.
O resultado ainda é melhor para Lula, por causa do momento em que ele está no tabuleiro do xadrez brasileiro. Ganhar uma caneta pode ser a salvação de quem precisa escrever um poema, mas de nada serve para quem está no deserto com sede. Para o sujeito no deserto, só um copo d'água salva.
Julgamento intacto
Nada muda no julgamento do ex-presidente, por exemplo. Bolsonaro continuará à beira do precipício, prestes a ser condenado, com grande possibilidade de ser preso e, como já está, inelegível sabe-se lá por quantos anos ainda até poder disputar um mandato outra vez.
A fala de Trump ajuda Lula que precisava animar seu povo. Também anima o povo de Bolsonaro, mas disso ele não precisava tanto agora. O ex-presidente tem problemas muito maiores.
Não ajudou também o fato de Trump ter feito a declaração condenando o que chamou de perseguição contra Bolsonaro quase emendada com a ameaça de taxar os países alinhados com o Brics. Pareceu que estava defendendo o aliado por birra e não por convicção.
Rachaduras na base
Além de tudo, Bolsonaro tem um problema muito sério para resolver também em sua base, com Nikolas Ferreira (PL) se descolando para seguir seus próprios caminhos e Tarcísio de Freitas (Republicanos) dizendo, nos bastidores, que não é candidato a presidente e sim a governador, mas que “se fosse disputar o Planalto” precisaria ser desobrigado de prometer indulto ao ex-presidente ou não teria qualquer chance de vencer Lula.
Se Tarcísio que tem compromisso mais concreto com Bolsonaro percebeu isso, imagine os outros candidatos que planejam disputar a eleição.