Cena Política | Análise

O risco do Congresso poderoso na crise de Lula e de Jair Bolsonaro

Com Lula e Bolsonaro enfraquecidos, cresce o risco de um Congresso poderoso, oportunista e irresponsável, travando o país por interesse próprio.

Por Igor Maciel Publicado em 30/06/2025 às 20:00

Lula (PT) e Bolsonaro (PL), dois símbolos eleitorais que sobrevivem cultivando ódio entre apoiadores e adversários, estão politicamente enfraquecidos, o que é ótimo para quem deseja o bem do Brasil e pode representar uma grande oportunidade para o futuro.

Mas um risco também surge e precisa ser combatido: o Congresso poderoso, que aqui não é sinônimo de forte — pois a força vem da consistência e responsabilidade, enquanto o poder nasce do autoritarismo e da arbitrariedade.

Um Congresso forte extrai influência da credibilidade e sensatez, mas se for apenas poderoso, limita seu alcance à esperteza e às brechas jurídicas, e todos perdem com líderes populistas que dividem para vencer e governar, sem que ninguém ganhe com um Congresso poderoso e fraco.

É como escapar de dois tubarões e nadar direto para a boca de uma baleia.

Popularidade Mínima

O presidente Lula vive seu pior momento de popularidade em três mandatos, enquanto Bolsonaro, acuado pela Justiça e prestes a ser condenado, já não consegue mobilizar grandes públicos — sua última manifestação reuniu apenas 12,4 mil pessoas, muito abaixo dos 185 mil de fevereiro e dos 45 mil de abril.

Ambos estão derretendo politicamente, o que é positivo. Lula e Bolsonaro depositam sua sobrevivência no acirramento de suas bases contra os adversários, algo que alguns ainda chamam de política.

É como um time com péssimos jogadores e resultados ruins, que não faz gols nem vence campeonatos, mas mantém sua existência abastecendo a torcida com rivalidade, violência e ódio: isso seria isso um bom exemplo de futebol?

Vácuo Perigoso

O problema desse cenário é apenas o volume que ocupa o vácuo. Ainda não há um nome exterior à polarização que consiga chamar a atenção do eleitor em grande volume. Isso dá sobrevida aos dois populistas brigões.

Na última manifestação, a ausência de dois governadores comumente relacionados à tropa bolsonarista chamou a atenção. Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, levaram falta. Cada um anunciou que estava em outra agenda para não comparecer. Houve quem entendesse que estão perseguindo uma desvinculação. São de direita, são contra Lula, mas não querem ser associados à rejeição de Bolsonaro também.

Isso, porém, ainda parece muito incipiente. E é aí que entra o risco.

Congresso Empoderado

O Congresso Nacional foi empoderado pela fraqueza dos dois últimos presidentes. Recebeu muito dinheiro, recebeu muita influência, mas ninguém lhes deu responsabilidade.

O Congresso Nacional é capaz de travar o país com o discurso mais hipócrita possível, apenas para garantir seus próprios benefícios e seguir com a faca no pescoço do Poder Executivo. Nos últimos anos atuou fortemente para aumentar os gastos do governo Lula com um impacto de R$ 106 bilhões apenas em medidas criadas ou aprovadas pelos próprios deputados e senadores. Exigiram mais de R$ 50 bilhões só em emendas parlamentares em 2025.

Discursos Falsos

Os gastos lulistas, que realmente são abusivos e comprometem a saúde fiscal do país, poderiam ter sido barrados há muito tempo pelos somente agora zelosos parlamentares. E nunca foram porque os partidos deles, em sua maioria, têm ministérios na gestão. Quanto mais fosse liberado para gastar, melhor.

O problema é que, num governo de baixa popularidade, quando a administração ficou sem dinheiro, era preciso pular fora para se salvar. Agora sim é a hora de fazer discurso fiscal moralista e conveniente.

O Congresso ajudou a quebrar para depois sair e reclamar, usando o poder que recebeu de controlar a “vida” e a “morte” dos presidentes.

Bolsonaro Calcula

Por qual motivo você acha que Jair Bolsonaro, pressionado pela Justiça e inelegível, começou a fazer discurso reduzindo a importância do cargo de presidente e dizendo que o que importa é fazer ao menos 50% dos deputados e senadores para “mudar o Brasil”?

Ele entendeu exatamente o cenário explicado aqui neste texto. Hoje é mais importante ter o poder de atrapalhar do que a força para ajudar.

Bolsonaro só está equivocado em uma coisa: alguns deputados podem até ser eleitos com ajuda dele, mas empoderados como estão dificilmente vão obedecer um presidente. Imagine se vão ouvir um ex-presidente que, possivelmente, estará preso.

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