Estratégia errada de Lula após derrota pode fortalecer Tarcísio para 2026
Após derrota no Congresso, Lula ensaia um confronto com Tarcísio, mas pode fortalecer rival ao adotar discurso antigo de ricos contra pobres.

A melhor forma de aceitar um baque é dar uma pirueta. Após a derrota acachapante sofrida no Congresso com a derrubada do aumento do IOF, Lula (PT) só tem essa opção. Com um pouco de agilidade, é possível transformar a queda em oportunidade e usar a força da gravidade como impulso para surpreender.
A questão é se o governo tem essa agilidade ou vai parecer mais desengonçado, surpreendendo apenas pelo ridículo.
Alguns integrantes da gestão perceberam a possibilidade e orientaram o presidente a iniciar um discurso de "pobres contra ricos". Vai enquadrar Tarcísio de Freitas (Republicanos) como o candidato dos poderosos, o centrão como protetor das elites contra o povo e movimentar as redes sociais com sua militância apontada para o Legislativo.
É algo que teria tudo para dar certo, se estivéssemos em 2005.
Desconexão
O problema do governo Lula é tentar apelar para um público que o enxerga cada vez menos como representante ou líder. Segundo a Quaest, a aprovação da gestão lulista está caindo entre os mais pobres desde julho de 2024, consideravelmente.
Na faixa de renda abaixo de dois salários mínimos, um ano atrás, a desaprovação era de 26% e hoje essa rejeição chega a 49%. Empataram com a aprovação.
O público com menor poder aquisitivo já não acredita tanto assim na capacidade do governo petista para melhorar sua vida. Isso não é fácil de resolver sem mudanças substanciais na rotina desse público, marcada por insegurança e inflação, principalmente.
Tarcísio vilão?
Vender Tarcísio de Freitas como um candidato das elites é algo que a pesquisa Quaest em São Paulo também não sustenta. No último levantamento feito no estado, a desaprovação do governador entre os mais pobres, abaixo de dois salários mínimos, alcança apenas 14%. Entre bom, ótimo e regular a aprovação de Tarcísio nessa faixa de renda passa dos 60%.
No plano nacional, a imagem do governador de São Paulo, que já trabalhou no governo de Dilma Rousseff (PT) e foi ministro de Jair Bolsonaro (PL), é de alguém "técnico" e "competente". Para além de tudo isso, o PT pode cometer um erro político gigante se começar a apontar para Tarcísio como adversário. Isso só fortaleceria ele dentro da direita e do centro.
A traição veio de dentro
Existe outra questão complicada com a retórica lulista, de que foi traído pela direita que quer "privilegiar a elite contra os pobres".
Foram 383 votos contrários ao governo e apenas 98 favoráveis. Do total, 63% dos votos vieram de partidos com ministérios na gestão petista.
O PDT e o PSB, partidos com várias pastas e com o vice-presidente da República (um socialista), deram 25 votos contra Lula.
Dos 44 votos que tem o MDB, foram 41 contrários à gestão na qual os emedebistas têm uma ministra integrante da equipe econômica, Simone Tebet (MDB) do Planejamento.
Como dizer que o PDT, o PSB e o MDB são o "centrão tentando proteger as elites e contra os pobres"?
A tentação do STF
E se for ao STF, como tem ameaçado, o governo pode acabar encerrando qualquer chance de negociação. Lembrando que ainda faltam 16 meses até as próximas eleições.
Além de reforçar a prática horrível que se criou desde o governo Bolsonaro, na qual sempre que perdiam uma votação parlamentares corriam para pedir ajuda ao Supremo Tribunal Federal, resultando num empoderamento indevido do Judiciário sobre os outros poderes, o Executivo corre o risco de travar o país.
Lula até está correto quando diz que estão tentando inviabilizar sua reeleição, minando o governo. Mas, se agir errado, vai acabar acelerando isso.