Cena Política | Análise

A relação tóxica entre o PT e o PSB de Pernambuco em mais um capítulo

Integrantes dos dois partidos se detestam e ficam juntos apenas por sobrevivência. Agora o PT vê um esperança em Raquel Lyra, mas depende dela também.

Por Igor Maciel Publicado em 19/06/2025 às 20:00

A vida política entre PT e PSB no estado de Pernambuco nunca foi das melhores. Sempre foi um relacionamento abusivo. Um maltrata o outro. O maltratado suporta porque não tem outra opção. Os socialistas são como o namorado controlador que atrai todas as amizades da outra parte, obrigando a conviver com ele ou ficar sozinha, sem vida social em separado, sem dar espaço para respirar.

O PSB fez com que todos os partidos de esquerda ficassem dependentes dele e o PT, por mais que tenha tentado se afastar e seguir em caminho próprio, sempre acaba ficando sem opção. Para o PT, o PSB é politicamente tóxico.

Encontros forçados

A relação, por mais que tenha encontros, sempre foi ruim. Voltando 16 anos no tempo, para 2009 quando o PT ainda governava o Recife, basta lembrar que o PSB era aliado e tinha vários cargos na gestão petista. Agora adivinhe de onde partiam vazamentos para a imprensa que geravam inúmeras crises na prefeitura àquela época. Quase sempre eram quadros do PSB, em vários escalões. Era como se estivessem ali exatamente para minar a gestão.

Não foi com grande surpresa que na eleição seguinte, aproveitando atritos internos no ninho petista, Eduardo Campos lançou Geraldo Julio (PSB) candidato contra o próprio PT. E venceu.

Nacional

Depois disso, o PT de Pernambuco viveu uma rotina com o PSB que ia da raiva à humilhação e do ódio ao vexame. Tentava enfrentar, ficava isolado e era derrotado. Ou se rendia, apoiava e acabava sendo tratado como um peso, um mulambo que mais atrapalha que ajuda.

Toda essa situação poderia garantir, ao menos, que o PSB apoiasse o PT nacionalmente sem restrições. Mas, a verdade é que bastou o partido de Lula cair em desgraça com os escândalos e crises da era Dilma para os socialistas apoiarem Aécio Neves no segundo turno de 2014 e em seguida mudarem até a logomarca para um verde e amarelo que se aproximava mais do apoio que deram ao impeachment da petista e à posse de Michel Temer. Como quem manda no PSB nacional é o PSB de Pernambuco, é difícil dizer que ninguém sabia de nada por aqui.

As humilhações do PT local sempre serviram apenas para sobrevivência, por mais que os petistas as atravessassem repetindo que faziam isso para ajudar a nacional.

Humberto

Em 2022 aconteceu algo interessante e bem significativo desse ponto de vista. Lula precisava unir todos os partidos de seu campo e até do centro para formar uma frente ampla sem a qual não conseguiria enfrentar Bolsonaro (PL). Conseguiu atrair Geraldo Alckmin, um ex-adversário, do PSDB, simbolizando bem essa união do “bem contra o mal” que queria sustentar. O PSDB não topou subir no palanque e era preciso ter um partido para o ex-governador de São Paulo.

Encaixava no PSB, mas dependia de autorização de João Campos (PSB). Aí veio a exigência: Alckmin pode ficar no PSB, desde que Humberto Costa (PT) retire a candidatura ao governo de Pernambuco.

O senador liderava as pesquisas e tinha grande chance de vencer já no primeiro turno, considerando que o apoio de Lula era determinante para aquele pleito. O PSB de Campos não queria vencer a eleição (foi o que aconteceu), mas também não queria ser obrigado a apoiar o candidato que vencesse.

Era preciso ser oposição para fazer o que está sendo feito agora: atrapalhar a gestão da vez e lançar o próprio João candidato em 2026. Se o governador fosse Humberto, o PSB não poderia brigar com o PT nacional.

Alepe

Tudo isso é importante para entender a movimentação que acontece agora na Assembleia Legislativa. O PSB tenta fazer todo tipo de confusão possível para impedir a gestão Raquel Lyra (PSD) de realizar obras visando enfraquecer o governo e melhorar as chances de Campos para 2026.

Pouco importa se a população está sendo prejudicada, desde que o cronograma de entregas do atual governo possa ser atrasado, facilitando a candidatura socialista.

A coisa chegou ao ponto de os deputados ligados a João Campos atrasarem até a liberação de dinheiro para o São João dos municípios.

Saída

Ao mesmo tempo, fica mais fácil entender porque o PT começou a defender o governo Raquel com mais empenho nos últimos meses, criticando a atitude dos socialistas, como fez o deputado Doriel Barros (PT) esta semana.

“Se a governadora tiver os recursos e não fizer essas duas obras a população vai cobrar a ela, e não a nós mas se o empréstimo não sair a cobrança vai ser feita aos deputados- e não vai ser por falta do meu voto, pois estou aqui pronto para votar a favor”, reclamou o parlamentar ao colega socialista Waldemar Borges (PSB).

“Gostaria de chamar atenção do presidente desta Casa e dos deputados para o mal que isso está causando à imagem do legislativo”, completou Doriel.

Quem?

O PT percebeu que Raquel é a única adversária a altura de encerrar com o plano do PSB de João Campos e uma chance de libertação dos petistas em relação aos socialistas. Os deputados na Alepe e o próprio senador Humberto Costa vêm dando demonstrações disso há muito tempo, mas agora começaram a ser mais incisivos.

Foi, coincidência ou não, logo após a última visita de Lula a Pernambuco e a participação dele na posse de João Campos como presidente nacional do PSB, em Brasília. Nas duas ocasiões, o presidente contrariou o prefeito do Recife falando em ter palanque duplo em 2026 em Pernambuco.

Depois, surgiram especulações sobre uma orientação dada a pessoas próximas num dos voos presidenciais, de que a candidata preferencial dele em Pernambuco seria Raquel, mesmo com a conversa de palanque duplo sendo mantida.

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