Cena Política | Análise

João Campos e a questão do terno e gravata numa festa com piscina

Prefeito terá que resolver se abre mão do posto na capital quatro meses antes de qualquer definição oficial do mundo político estadual e nacional.

Por Igor Maciel Publicado em 16/06/2025 às 20:00

João Campos (PSB), se for mesmo candidato a governador em 2026, terá meses de apreensão antes de poder planejar realmente sua candidatura. É que, por ser prefeito, a legislação o coloca numa situação de desvantagem em relação a todos os outros possíveis candidatos.

As convenções partidárias podem acontecer de 20 de julho até 5 de agosto, mas a desincompatibilização de prefeitos para disputarem o cargo de governador e vice-governador precisa acontecer até o dia 4 de abril.

Significa que Campos terá que resolver abrir mão do posto de prefeito da capital quatro meses antes de qualquer definição oficial de seus adversários e até do cenário nacional. É como se ele fosse obrigado a largar na frente numa corrida em que o percurso e os adversários só vão ser definidos bem depois.

Aposta alta

Entre abril e agosto de 2026 os partidos ainda estarão definindo se apoiam Lula (PT), lançam nomes próprios ou pulam para o palanque dos bolsonaristas, por exemplo. Nada estará totalmente resolvido no campo partidário.

Nesse período, não haverá certeza nem mesmo sobre a candidatura de Lula. É bom lembrar que, em 2018, numa estratégia para manter sua influência ativa, o PT insistiu que o petista seria candidato a presidente até o último momento, mesmo ele estando condenado, preso e legalmente impossibilitado de disputar a eleição. O que se fala hoje é que o presidente está cansado e pode desistir da reeleição.

Em Pernambuco, a configuração de uma campanha com Lula é completamente diferente do planejamento caso ele não seja candidato. Para ser candidato, João terá que apostar em uma das alternativas e cruzar os dedos.

Recalculando

Até o planejamento das chapas é diferente com uma configuração e com outra. Dependendo do cenário nacional, a escolha dos candidatos ao Senado na chapa pode ser um grande reforço ou uma grande tragédia.

Contar com um candidato a senador de um partido de centro-direita terá uma consequência caso o partido apoie Lula, outra se ficar na oposição e outra completamente diferente se Lula não for candidato e a sigla lançar um nome próprio.

Que nome seria esse e qual sua influência em Pernambuco. Pode ser muito bom, como uma novidade que agregue votos à chapa, mas também pode ser o contrário. E o cálculo só será feito quando a definição acontecer, exatamente depois que Campos já tiver se desincompatibilizado.

Prefeitos

Em 2022, três prefeitos abandonaram os mandatos em abril para a disputa do governo de Pernambuco. Mas o cenário era diferente. Havia ampla rejeição ao governo estadual e ao PSB, o governador da vez não podia mais se candidatar à reeleição e havia um forte sentimento de mudança tanto à esquerda quanto à direita.

Dos três gestores municipais que fizeram a desincompatibilização, Raquel Lyra (PSD) foi vitoriosa. Os outros dois, Anderson Ferreira (PL) e Miguel Coelho (UB), derrotados, tiveram problemas para sustentar a base de votos com a qual contavam naquele ano e perderam a “aura de novidade” que carregavam. Continuam sendo muito fortes, é verdade, mas toda derrota deixa prejuízos e com eles não foi diferente.

Você pode imaginar que com Campos é diferente porque ele lidera as pesquisas de intenção de voto. Mas quem liderava as pesquisas em 2022 era Marília Arraes (SD), que não venceu. Qual a garantia, então?

Diferente

Em 2026 a situação será diferente de 2022. A governadora no cargo conta atualmente com mais de 140 prefeitos em sua base, dos 184 possíveis. Somente o seu próprio partido, o PSD, deve se aproximar de 80 filiações de gestores municipais até o pleito, ultrapassando um número só alcançado ainda sob a influência da comoção pela morte de Eduardo Campos em 2017 quando o PSB chegou a 70 prefeitos.

Ao contrário de quando Miguel Arraes chegou a ter mais de 130 prefeitos, em 1998, e os perdeu todos durante a campanha contra Jarbas Vasconcelos que terminou em derrota, a governadora tem estrutura financeira e administrativa para segurar essa base com muito mais facilidade.

E, apesar de hoje aparecer atrás em pesquisas de intenção de voto, a aprovação do governo Raquel segue acima de 50%, beirando os 60% em alguns levantamentos.

Piscina e futebol

Enquanto for prefeito do Recife, Campos terá uma base firme, com grande aprovação popular e a influência de ser presidente nacional do PSB para planejar seu futuro político. Pouca gente duvida que ele será governador em 2030, numa eleição em que poucos adversários estariam dispostos a enfrentá-lo.

Mas no exato momento em que se desincompatibilizar, em abril de 2026, mesmo que continue com influência quase completa sobre a prefeitura, estará já vestido para uma festa da qual ele nem sabe quem vai participar ou qual roupa os outros estarão vestindo, porque ela começará apenas quatro meses depois.

João terá que estar muito seguro. Ou pode acabar de terno e gravata num churrasco com piscina e futebol.

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