Cena Política | Análise

A única eleição que importa para Lula em Pernambuco é a do Senado

A chave de verdade para ter o apoio de Lula por aqui está na escolha para as vagas ao Senado e não nas fotos ao lado do líder de esquerda.

Por Igor Maciel Publicado em 13/06/2025 às 20:00

Na discussão sobre o apoio de Lula (PT) a um ou dois palanques em Pernambuco existe algo que está sendo ignorado por enquanto, embora seja a chave para entender o posicionamento que ele terá. A chave é o senado e o senador Humberto Costa (PT) é prioridade nessa discussão.

Façamos um exercício de imaginação ampla, assumindo possibilidades próximas do inimaginável. Digamos que, em 2026, o governador eleito de Pernambuco seja “seu Leôncio”, orgulhoso proprietário de um fiteiro num bairro central do Recife, que não tem grupo político, não pediu voto para ninguém, nem sabia que era candidato e mal sabe qual ônibus passa na frente do Palácio do Campo das Princesas quando tiver que ir dar expediente como chefe do Executivo. O que isso mudaria num eventual quarto mandato de Lula? Nada.

O problema seria apenas se Leôncio fosse eleito senador.

Tanto faz

É que, no modelo de federação que nós temos, todo governador precisa ter boa relação com o presidente. Cedo ou tarde “seu Leôncio” vai bater à porta do Palácio do Planalto com um pires na mão perguntando se Lula tem agenda pra ele. Mas se alguém com esse perfil for senador e não tiver qualquer compromisso com o petista, no modelo atual em que os parlamentares estão empoderados e cheios de dinheiro de emendas, vira adversário rapidinho e complica muito a vida do governo.

Então, no planejamento de Lula junto ao PT, pouco importa se Raquel Lyra (PSD) continuará no Palácio ou se vai ser João Campos(PSD). Esta é a verdade. Pouco importa se vai ser “seu Leôncio”, desde que os senadores eleitos em Pernambuco, estes sim, tenham compromisso real e duradouro com o PT.

É o Senado

Nesse raciocínio, o ponto de partida para o posicionamento lulista em Pernambuco não será o nome do candidato ou candidata ao governo, mas quem estará disputando o Senado.

Para João Campos e Raquel Lyra é importante conectar a imagem ao presidente porque ele ainda tem uma boa avaliação no estado e seu apoio tem decidido as últimas eleições por aqui. Mas a chave de verdade para ter esse apoio está na escolha para as vagas ao Senado e não no número de fotos ao lado do líder de esquerda.

Mesmo que a tese do palanque duplo persista, o grupo que terá a maior parcela dessa divisão será o que abrigar candidatos ao Senado capazes de entregar a Lula a governabilidade que ele precisará em um eventual novo mandato.

Nessa equação, aquele que abrigar Humberto Costa larga na frente. O senador petista é a prioridade dos petistas em Pernambuco. Todo o resto é secundário.

Senadores

Entre os pré-candidatos ao Senado surgidos até agora na discussão de Pernambuco há problemas partidários imensos sob essa perspectiva. Silvio Costa Filho é quem vive o maior paradoxo. Ele é ministro do atual governo, mas está no Republicanos que dificilmente apoiará Lula em 2026 e pode até lançar seu adversário, Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Miguel Coelho (União Brasil) já disse que será candidato de qualquer jeito, mas ficou numa situação complicada após a federação de seu partido com o Progressistas. Em Pernambuco, deve perder o poder de decidir e ficará dependendo de Eduardo da Fonte (PP). Nacionalmente, a federação União Brasil/PP, uma vez por semana, dá alguma demonstração de que está desembarcando do governo Lula para lançar candidato próprio também.

Marília Arraes (SD), de todos os que surgiram até o momento, é quem tem mais votos para a largada de uma disputa assim, mas seu partido também tem dado demonstrações, nacionalmente, de um afastamento do PT. E a relação dela com Lula já não é a mesma de anos atrás.

Bom e ruim

João Campos tem um problema nesse ponto, porque os três são apostas para as vagas de senado exatamente na chapa dele. E se ao mesmo tempo podem dificultar o apoio de Lula ao PSB em Pernambuco, todos os três são também muito importantes para uma candidatura do prefeito do Recife ao Governo do Estado.

Cada um de sua maneira, seja por questões regionais, partidárias ou ideológicas, é imprescindível ao objetivo de Campos se ele quiser chegar ao Palácio já na próxima eleição.

Ainda há dúvida

Mas se tudo isso é tão simples de resolver, por que Humberto Costa não está sendo cortejado carinhosamente por todos os que desejam o apoio de Lula em 2026? O que falta para estenderem um tapete vermelho ao senador?

Além de estarem na expectativa das configurações finais que resultarão das federações e fusões negociadas entre os partidos, existe uma grande e elementar dúvida sobre a eleição de 2026. É que, apesar de toda a disposição que o presidente petista tenta demonstrar, afirmando que “se continuar bonito será candidato” em 2026, a verdade é que ninguém tem muita certeza disso.

Se Lula não for candidato à reeleição, toda a equação muda, a fórmula será outra e Humberto pode não ter o papel esperado. Sem Lula, o PT sofre uma implosão de sua importância tão significativa que nem os próprios petistas têm ideia do que pode acontecer. Por isso ninguém quer se comprometer ainda. E por isso ainda há mais planos do que espaço e mais vontade do que realidade.

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