Sobre empréstimos necessários e questões estranhas disfarçadas de zelo
O comportamento dos parlamentares é completamente diverso do que é visto com os governadores anteriores em relação aos empréstimos. Qual o motivo?

Em 2012, Eduardo Campos fez solicitação de empréstimo no valor de US$ 3,5 bilhões. Na conversão de hoje, isso seria o equivalente a mais de R$ 19 bilhões. O pedido foi aprovado rapidamente na Assembleia Legislativa, sem muita polêmica. Eduardo iria deixar o governo em 2014 para ser candidato a presidente.
Agora, adivinhe quantas vezes os deputados estaduais tentaram barrar o pedido do Palácio afirmando que “o governador não teria como gastar os valores”. Você acertou se apostou em “nenhuma”. Isso nunca foi questionado, porque quanto mais dinheiro os pernambucanos tiverem para investir em desenvolvimento, melhor.
Aí pode
Paulo Câmara, quando era governador, também pediu empréstimo. Foi em 2021, com um total de R$ 2,5 bilhões. Também não houve confusão e, curiosamente, mesmo o pedido tendo acontecido faltando pouco mais de um ano para o fim do mandato, nenhum deputado foi a público dizer que não iria liberar o dinheiro porque ele não ia “conseguir gastar”.
Agora há menos tempo, com João Campos (PSB) na prefeitura do Recife, um empréstimo de R$ 2 bilhões foi liberado e outro de R$ 900 milhões está em tramitação. Você sabe dizer quantas vezes algum vereador reclamou que ele não seria capaz de gastar esse dinheiro? Nenhuma. Até há críticas da oposição ao PSB no Recife, mas a referência é ao endividamento da capital, não à “capacidade de usar o dinheiro”. Disso ninguém duvida.
Capaz
Mas bastou a governadora Raquel Lyra (PSD) fazer uma nova solicitação de empréstimo, no valor de R$ 1,5 bilhão, para deputados estaduais da oposição usarem todos os tipos de argumento com o objetivo de travar a chegada do dinheiro. Até dizerem que ela “não conseguirá gastar os valores” já foi dito.
O comportamento dos parlamentares é completamente diverso do que é visto com os governadores anteriores ou mesmo com o prefeito do Recife no âmbito municipal. É como se eles fossem capazes de cuidar de dinheiro, mas ela não.
Ao mesmo tempo, os deputados começam a se comportar em suas manifestações públicas como se fosse necessário tutelar a governadora financeiramente. Como se dissessem que o lugar dela é em outro lugar e não cuidando das finanças. É estranho e, quanto mais essa atuação persiste, vai ficando mais feio e mais difícil de sustentar.
Questões
Qual o motivo de esses questionamentos nunca terem sido feitos, nesse tom específico sobre as “condições para gastar”, nem a Eduardo Campos, nem a Paulo Câmara e, no caso do município, nem a João Campos? O que os diferencia? É apenas porque eles são do mesmo partido que hoje comanda a oposição na Alepe e a situação na Câmara de Vereadores? Eduardo Campos gastou o dinheiro do empréstimo que ainda é pago até hoje pela atual gestão e as obras estão todas concluídas? Paulo Câmara conseguiu gastar o dinheiro? As obras estão concluídas? João Campos já gastou todo o valor de R$ 2 bilhões que pediu?
Sem fundo
Até agora, três deputados têm se revezado no carrossel de argumentos sem fundo utilizados para segurar a autorização do empréstimo, um já disse que ela estava usando o dinheiro na destinação errada, outro tentou distribuir parte do dinheiro com prefeitos e agora a reclamação é de que ela não é capaz de gastar os valores.
Todos têm interesses políticos, cada um tem objetivos diferentes, mas os três trabalham para garantir que o Palácio não consiga usar o dinheiro. Cada dia de atraso significa mais demora para que os valores sejam efetivamente contratados e obras essenciais para a economia, que não foram feitas nos governos anteriores citados aqui, fiquem prontas.
Esse valor de R$ 1,5 bilhão, em parte, é para o Arco Metropolitano. Trata-se de uma obra prometida há mais de uma década e que nunca foi feita. Quem eram os governadores na época? Os mesmos citados acima. Aqueles que nunca tiveram a competência questionada pelos deputados.