Cena Política | Análise

Lição do Brasil: como é possível ganhar tanto dinheiro e estar quebrado?

Quando o sujeito ganha muito dinheiro e nunca tem dinheiro para nada, há três possibilidades: ele é incompetente, está sendo roubado ou está mentindo.

Por Igor Maciel Publicado em 30/05/2025 às 20:00

Imagine um país cujo Produto Interno Bruto cresceu 1,4% no primeiro trimestre deste ano e tem um setor, como o Agronegócio, que apresentou crescimento de 12,2% devido ao clima deste início de ano. É uma nação com território tão grande que o agro ainda tem espaço para crescer mais e puxar a economia de outros setores.

A área de serviços, por exemplo, cresceu apenas 0,3%. Mas é um setor tão grande que esse pequeno crescimento representa um volume de negócios difícil de encontrar no mundo.

Este país está na quinta posição entre as economias que mais cresceram no planeta neste período. A arrecadação em 2024 foi a melhor em quase 30 anos, desde 1995 não havia um incremento tão grande na entrada de dinheiro, chegando a R$ 2,7 trilhões.

Lendo até aqui e pensando em tudo o que o noticiário vem mostrando, você pode não ser capaz de acreditar que estamos falando do Brasil, mas estamos.

Sério?

É possível que seja o mesmo país afundado em uma crise porque não tem dinheiro para pagar as contas e entrou em conflito com o Congresso Nacional ao tentar aumentar impostos para cobrir as despesas?

Parece o mesmo país cuja equipe econômica faz contas afirmando que não consegue enxergar alternativa que não seja aumentar a arrecadação porque não tem mais onde cortar despesas?

Parece o mesmo país que precisou aumentar os juros básicos da economia até quase 15% porque teme um descontrole inflacionário e cambial decorrente da desorganização fiscal?

Quando o sujeito ganha muito dinheiro e nunca tem dinheiro para nada, há três possibilidades: ele é muito incompetente, está sendo roubado ou está mentindo.

Incompetência

Como se trata de contas públicas, teoricamente, é difícil imaginar que a situação fiscal precária seja fruto de mentira. Até porque, se é para mentir, que se conte vantagem fingindo que está tudo sob controle, não o contrário. É difícil dizer que não há qualquer irregularidade com a contabilidade oficial, dado o histórico dos governos brasileiros ao longo dos séculos, mas também é difícil de acreditar que isso comprometesse as contas nesse nível.

Se nem o Petrolão, com seus bilhões desviados, quebrou o país, estaríamos em melhor situação caso o problema fosse apenas esse. O que sobra é a incompetência da equipe que está na ativa.

Vaidade

A incompetência do governo não é apenas da equipe econômica. O maior pecado de Fernando Haddad (PT) e de seus economistas não é fazer as contas errado, mas a ausência de respeito próprio. É um problema do qual o antecessor, Paulo Guedes, também sofria. Fossem homens comprometidos com o resultado de seus trabalhos, nenhum dos dois teria passado mais de um ano no cargo.

Guedes passou o mandato inteiro mentindo para si mesmo e comprometido com a vaidade de ser ministro. Haddad, agora, além da mesma vaidade pelo status, ainda tem suas promessas de que será candidato a senador ou governador ou presidente, dependendo da conjuntura.

Dispute

A incompetência diz respeito à insistência do governo para gastar por motivos políticos, mesmo com a opinião pública, economistas e especialistas em finanças avisando que isso não iria se sustentar. Mesmo com o Banco Central aumentando os juros para proteger a economia e declarando, a cada comunicado do Copom, que era preciso controlar as despesas.

Não era algo difícil de imaginar quando Lula se elegeu bradando contra o Teto de Gastos, que obrigava os gestores à responsabilidade. Mas imaginava-se que, no cargo, o bom senso iria prevalecer.

Este bom senso acabou derrotado, humilhado e abandonado à sarjeta. Quem estiver achando ruim e quiser responsabilidade, ética ou moral, que dispute e ganhe uma eleição. Lula, aliás, está pronto para disputar outra.

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