Cena Política | Análise

João Campos e o desafio de fazer tudo em todo lugar e ao mesmo tempo

As tarefas que serão exigidas do agora também presidente nacional do PSB, até a eleição nacional de 2026, são gigantescas, variadas e melindrosas.

Por Igor Maciel Publicado em 30/05/2025 às 20:00

João Campos (PSB) assumirá neste fim de semana um cargo que já foi de seu pai e de seu bisavô. Ao sentar na cadeira de presidente nacional do PSB, terá um desafio maior que o deles. Terá de lidar com um partido político num ambiente em que as cláusulas de barreira e desempenho estão impondo fusões e federações por todos os lados.

Outra diferença é que João ainda não consolidou sua liderança nacional como os antecessores já haviam feito quando ocuparam essa posição. Arraes era um mito da esquerda, alçado naturalmente ao posto que o ocupou mesmo enquanto era governador e deputado. Eduardo também já tinha sido ministro ao se tornar presidente do PSB e já tinha uma projeção política nacional tão madura quanto concreta.

João é uma grande promessa, muito mais apoiada em engajamento de redes sociais do que num currículo de realizações nacionais. Isso pode ser uma dificuldade na hora de lidar com outros presidentes de partido e de federações partidárias. Ele já deu muitas demonstrações políticas de que é capaz, mas o desafio será grande.

Siqueira

Ninguém vai falar isso porque o momento é de festa, mas a verdade é que o PSB encolheu com Carlos Siqueira. Com Jair Bolsonaro (PL) na presidência, o partido pagou o preço por estar na oposição, como era de se esperar.

Mas a dificuldade continuou, apesar de os socialistas terem o vice-presidente da República. O problema é que Siqueira e Lula carregam uma antipatia mútua. Um não gosta do outro, com bastante empenho. Isso atrapalha a relação e o desenvolvimento do partido. João não é alguém por quem Lula morra de amores também, mas a relação ao menos existe e funciona.

Encolheu

O encolhimento do PSB é visto no número de deputados federais e de governadores. Em 2014, o partido elegeu 34 parlamentares na Câmara Federal, mas o número caiu em 2018 para 32 e, piorando bastante, caiu de novo para 14 deputados em 2022.

A sigla também sofreu nos estados. Em 2014 o PSB chegou a ser o partido que governava a maior população do Brasil. Ao todo, eram cinco estados dos 27: Distrito Federal, Paraíba, Pernambuco, São Paulo e Rondônia.

Em 2018 foram eleitos apenas três governadores. A justificativa para o mau resultado era que a onda bolsonarista havia atrapalhado.

Mas, em 2022, Lula voltou e o PSB continuou com três governadores eleitos. Perdeu, de uma só vez, o DF, PE, SP e RO. Entraram Espírito Santo e Maranhão.

Chapas

O maior desafio para João Campos será montar chapas competitivas em todos os estados para tentar fazer o partido crescer. Caso contrário, sem integrar alguma federação, vai ser difícil sobreviver e, o mais importante para quem busca projeção nacional para o prefeito, ter voz ativa no centro do poder.

Se não houver grande esforço do novo presidente, o PSB caminha para ser nanico em pouco tempo e depender de partidos maiores para continuar existindo, como acontece hoje com o PSDB, por exemplo.

Muitas frentes

As tarefas que serão exigidas de João Campos nos próximos meses, até a eleição nacional de 2026, são gigantescas e melindrosas. E ele terá que dividir tudo isso com a prefeitura do Recife, para a qual pediu votos, pois queria continuar cuidando da cidade.

Terá que se dividir também em uma candidatura a governador de Pernambuco, já que autorizou assessores mais próximos a confirmarem nos bastidores que vai para a disputa contra a atual governadora Raquel Lyra (PSD). Ele nunca disse abertamente que será candidato ao governo em 2026, mas até sua vice já é disputada por aliados mais próximos.

Diz-se de quem batalha em muitas frentes que a retaguarda fica exposta e a dianteira dividida e enfraquecida. Quando você quer fazer tudo, corre o risco de não fazer nada direito. Acompanhemos.

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