O novo Papa e o desafio da "paz desarmada" num mundo cada vez mais desconfiado
Novo pontífice, que é norte-americano mas está distante de Trump, aceitou o cargo discursando sobre a necessidade de cessar os conflitos no mundo.

Leão XIV, escolhido o novo Papa da Igreja Católica, pode ficar para o presidente dos EUA, Donald Trump, como a prova viva de que você pode acabar se arrependendo do que deseja. Trump foi ao Vaticano, brincou em postagens vestido como papa e, nos bastidores, tentou fazer lobby por um pontífice norte-americano. Conseguiu, mas não o que ele queria.
Preferido
A ideia era ter Raymond Burke como um representante do país no Vaticano. O cardeal Burke é ultraconservador, havia sido nomeado por Bento XVI e chegou a comemorar muito a vitória de Trump na última eleição. Mas Burke era também um dos maiores críticos do Papa Francisco. O preferido de Trump questionou a aprovação do papa sobre outras religiões, sua posição contrária à pena capital e seu interesse em abrir a religião para mais pessoas. Por isso, quando se disse que o novo chefe da Igreja era dos EUA houve um susto.
Outro Francisco
Mas o eleito foi outro representante do país de Trump, com um perfil completamente diferente e muito próximo de Francisco. Ele até possui “Francisco” no próprio nome. O cardeal Robert Francis Prevost afasta a possibilidade de Trump ter um interlocutor conservador no catolicismo, como ele esperava, principalmente por sua posição e formação. Não apenas por ter dupla nacionalidade e ter construído a maior parte de seu trabalho em comunidades pobres do Peru, mas principalmente por ser o líder global da ordem Agostiniana.
Mendicantes
Os agostinianos, como são conhecidos, fazem parte das ordens mendicantes da Igreja Católica, que inclui seguidores de Santo Agostinho, além de Franciscanos, Carmelitas Descalços e Capuchinhos. Todo o apostolado desses grupos é centrado na oração, na pregação, na evangelização, no serviço aos pobres e em obras de caridade. Dependendo do ponto de vista, há quem acredite que Leão XIV pode ser ainda mais progressista que Francisco. Isso porque o novo Papa é um profundo conhecedor da Lei Canônica e consegue discutir em igualdade com os estudiosos conservadores que, muitas vezes, criaram problemas para o antecessor dele.
Processo
Ao mesmo tempo, ser norte-americano lhe dá voz ativa num ambiente que foi desafiador para a agenda de Francisco, por causa da influência dos EUA no mundo. Quando houver conflito entre o discurso do Vaticano e o de Trump, a conversa não será com um sul-americano, mas com um compatriota. Será interessante acompanhar esse processo.
Desarmado
O maior desafio do próximo Papa, entretanto, não é enfrentar Trump, mas ganhar força e voz entre os católicos para influenciar novamente os destinos do mundo em direção ao caminho de paz que Francisco propagou e Leão XIV incrementou em seu primeiro discurso chamando de “paz desarmada”. Paz desarmada tem a ver com respeito mútuo e confiança para baixar as espadas. Defender isso no ambiente de atritos múltiplos e desconfiança que a Terra atravessa é de uma coragem sem tamanho.