Terezinha Nunes: Difícil de largada mas boa de chegada, Raquel Lyra é desafiada a repetir este feito na eleição de 2026
Independente de predestinação ou de começar mal e acabar bem nas eleições, não se pode dizer que Raquel Lyra cruzou os braços para a classe política

Clique aqui e escute a matéria
Só dois dos cinco governadores nordestinos candidatos à reeleição permanecem em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto: Raquel Lyra e o baiano Jerônimo Rodrigues, que enfrentam adversários fortes nas capitais desses dois estados. Na Bahia, o PT se organiza para enfrentar ACM Neto com a força do presidente Lula; em Pernambuco, a governadora Raquel Lyra tem contado até agora com uma enorme capacidade de trabalho, as entregas que está fazendo e com a força da tradição pregada por quem acompanha de perto a sua carreira política desde que resolveu disputar eleições majoritárias.
Embora se tenha conhecimento de pesquisas internas que mostram uma aprovação a seu Governo beirando os 58%, número que, segundo os marqueteiros, tornariam um incumbente (candidato à reeleição) favorito, há outro motivo para explicar o convencimento de quem a cerca de que Raquel vai chegar na frente do prefeito João Campos em 2026. “Ela é realmente predestinada, nunca vi algo parecido. Faz coisas improváveis em um político e tudo acaba dando certo”- comentou, há poucos dias, um político tarimbado que a acompanha ao confessar a um amigo certa perplexidade sobre o que tem acontecido.
Longe da classe política
Não é de admirar. Contra todos os prognósticos, ela montou um secretariado que, com raríssimas exceções, passa longe da influência politica mesmo correndo o risco, como acabou acontecendo, de jogar na oposição nomes influentes como o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, que a apoiou no segundo turno e é hoje um entusiasmado eleitor de João Campos. Pela primeira vez, foi buscar longe de Pernambuco os secretários da Fazenda e do Planejamento, duas peças chave do Governo, e montou uma equipe técnica tendo como espinha dorsal funcionários tarimbados da Caixa Econômica, um deles, a secretária Simone Nunes Benevides, de Desenvolvimento Urbano e Habitação, um dos mais influentes membros do seu staff e que a acompanha desde Caruaru.
Também na contramão de todos os seus antecessores, governa sem o apoio do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Álvaro Porto, perdeu o controle das principais comissões do Legislativo e só no segundo ano de mandato formou maioria no plenário, o que lhe garante vitória na aprovação de projetos, mas antes tem que enfrentar o purgatório da postergação promovida nas comissões, como aconteceu com os pedidos recentes de empréstimo.
Aeroporto de madrugada
“Em termos políticos, ela parece trabalhar contra si própria”- comentou, na semana passada, um deputado de linha independente, fazendo um balanço do que tem visto até agora e concluindo: “se não fosse isso, João Campos nem seria candidato”. Diante dos caminhos, às vezes tortuosos, traçados pela governadora, ninguém duvida de que ela é um trator para trabalhar. Uma ou até duas vezes na semana, madruga no Aeroporto dos Guararapes e tem secretário exausto enquanto ela se mostra disposta do início do dia até o final do expediente, que pode ir até as 23 horas.
Fora isso, há um convencimento claro de todo o secretariado de que, mesmo com a dianteira do adversário João Campos, que já teria desanimado qualquer um, ela vai chegar na frente daqui a um ano. “Aqui só se respira trabalho. Enquanto lá fora nossos adversários estão em campanha, aqui estão todos focados em produzir e entregar obras e ações”- afirma o secretário da Casa Civil, Túlio Vilaça, adiantando que “foi isso mesmo que aconteceu em Caruaru onde no final de depois anos de administração na Prefeitura, se dizia nas esquinas que Raquel não se elegeria nem para síndica e ela foi reeleita no primeiro turno com uma grande diferença”.
Vitória no primeiro turno
Verdade que os adversários eram bem mais fracos, pois os ex-prefeitos José Queiroz e Tony Gel não se dispuseram a enfrentá-la. Túlio conta que, quando toma a decisão de se candidatar, a governadora, mesmo que não conte com apoio firme, enfrenta os obstáculos e acaba vencedora. Quando se candidatou a prefeita de Caruaru em 2016, nem o seu partido, o PSB, a apoiou, obrigando-a a migrar para o PSDB. Ela terminou o primeiro turno atrás do ex-prefeito Tony Gel mas acabou vencendo o segundo turno com 53,15% dos votos.
- “Em 2022, foi a mesma coisa para o Governo do Estado, e as pessoas repetiam que ela não ia vencer”- afirma o secretário. Na verdade, quando começou sua campanha no primeiro turno, Raquel contava com o apoio de só três deputados estaduais e, no Recife, muitas vezes saiu às ruas acompanhada apenas da candidata a vice, Priscila Krause, e do deputado federal Daniel Coelho. Quando tinha um evento mais fechado se incorporavam aos presentes o ex-senador Armando Monteiro Neto, o ex-governador João Lyra Neto, o ex-prefeito e ex-governador Gustavo Krause e o deputado federal Mendonça Filho.
Choque no dia da eleição
Ainda hoje, os adversários atribuem sua ida ao segundo turno em função do esposo ter falecido no dia da eleição, mas como a maioria dos eleitores vota pela manhã e a morte só foi divulgada em grande escala à tarde, não se sabe até que ponto este fator influiu no voto. De qualquer forma, já se dizia, antes mesmo do primeiro turno, que só ela poderia vencer no segundo turno a candidata favorita Marília Arraes, o que, segundo seus correligionários, teria contribuído também para ela chegar em segundo lugar superando Danilo Cabral, Miguel Coelho e Anderson Ferreira.
Raquel chegou tão forte no segundo turno, mesmo quase sem fazer campanha pois estava de luto – há informações de que passou mais de 15 dias do quarto para sala em seu apartamento, falando o mínimo possível e só chorando - que um grupo de petistas criou o voto Luquel (Lula e Raquel) para aumentar a votação do presidente Lula no estado. O PT estava dividido porque Marília se candidatou pelo Solidariedade quando os petistas mais fiéis apoiaram o candidato do PSB, Danilo Cabral, que acabou em quarto lugar em função do desgaste dos socialistas.
Apoio de Lula
Além de todas as atitudes tomadas no início do Governo, Raquel foi mais além nas decisões tidas na época como “uma loucura”, como demitir de uma só vez milhares de cargos comissionados e sentar em cima do cofre, como se fala no jargão político. Passou o primeiro ano mergulhada em fazer poupança e conseguir apoio do Governo Federal para seus projetos, tendo recebido total atenção do presidente Lula e de alguns ministros como Rui Costa, da Casa Civil, e Renan Filho, das Cidades: “Pernambuco errou muito nos últimos anos não buscando apoio dos presidentes”- ensinava.
De tão próxima do presidente, até hoje se fala na possibilidade de Lula fazer dois palanques em Pernambuco ou vir pouco ao estado para não perder a oportunidade de se beneficiar do voto “Luquel”, pois seu propósito é aumentar seus percentuais no Nordeste mas, sobretudo, em Pernambuco. Isso teria levado o PT a até agora não ter declarado apoio a João Campos, embora deva fazê-lo em 2026, e de estar fechando os olhos para sua bancada de três deputados na Alepe que fazem parte da base governista.
Atraso nas entregas
A demora para iniciar as obras mais representativas está levando a oposição a cobrar agilidade do Governo acusando a governadora de não fazer planejamento e não entregar o prometido. Dinheiro não falta e o Governo promete investir R$ 7,5 bi em 2026 “o maior volume de investimento da história do estado”, como explica o secretário do Planejamento Fabrício Marques. Mesmo tardiamente, a governadora está com o apoio de cerca de 130 prefeitos na medida em que espalhou obras por todo o interior e hoje tem mais de 30 deputados que lhe são fiéis.
Independente de predestinação ou dos exemplos de começar mal e acabar bem nas eleições, não se pode dizer que a Raquel Lyra cruzou os braços para a classe política. Prefeitos e deputados acabaram chegando e sua fama de boa de urna a levou no segundo tuno de 2024 a ajudar a eleger, no segundo turno, os prefeitos de Olinda e Paulista, lutando contra o prefeito do Recife, que batia recordes de uma popularidade que continua desafiadora.
Neutralidade ideológica
A cientista política Priscila Lapa diz que a governadora “tem vários ingredientes a seu favor, ainda que não estejam reverberando nas pesquisas neste momento. Ela tem a força da estrutura administrativa, recursos, um partido competitivo e bases aquecidas. Isso não é qualquer ponto de partida”. Acrescenta que “uma corrida eleitoral tem o fator conjuntura que nunca pode ser desprezado. Quando todos esses fatores entrarem em cena, e com ajustes na forma de comunicação das realizações, o processo eleitoral se tornará ainda mais competitivo”.
- “Raquel tem ainda o fator de ser segura – diz - bem preparada para debates e apresentar uma certa neutralidade ideológica, fazendo com que transite entre os diversos segmentos do eleitorado. Assim ela pode repetir o feito de ser uma candidata que cresce ao longo do processo, quando usa esses elementos de forma estratégica”.