Mulheres no Governo e na Oposição levam feminismo ao centro do debate politico
De forma sutil ou concreta, Raquel vem se queixando, sempre que necessário, do machismo presente em algumas ações, como fez na última semana

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Primeira mulher a ser eleita governadora de Pernambuco, Raquel Lyra carrega outro trunfo como exemplo de protagonismo feminino na política estadual ao ter composto uma chapa 100% feminina tendo como vice Priscila Krause. Não se sabe até que ponto tal ousadia vem, implicitamente, sendo aceita pelos políticos homens que ocupam mais de 80% dos mandatos de deputado estadual, federal, prefeitos e vereadores. Mesmo no Senado, onde uma mulher também é pioneira, a senadora Teresa Leitão, eleita junto com Raquel e Priscila, há três vagas, duas delas ocupadas por homens.
De forma sutil ou concreta, como aconteceu esta semana após a oposição protocolar uma CPI na Alepe sobre a licitação da publicidade do Governo, Raquel vem se queixando, sempre que necessário, do machismo presente em algumas ações: “aqueles que duvidam da capacidade de uma mulher e querem impor a ela medo, digam que estou aqui de pé e estou firme e que não estou sozinha”, desabafou em evento literário, esta quinta-feira.
Misoginia encoberta
Mas a presença feminina não está posta apenas no Palácio do Campo das Princesas. Hoje está sob o comando de uma mulher, a deputada estadual Dani Portela, do PSOL, a oposição à governadora e foi dela a iniciativa da CPI. A deputada, apesar de ser de um partido que só tem uma cadeira na Alepe, foi escolhida pelo PSB como líder da oposição nos dois primeiros anos de Raquel tendo cedido lugar nesta legislatura ao socialista Diogo Moraes. Também é mulher, a deputada Socorro Pimentel, a líder do Governo na Casa, que, junto com a deputada Débora Almeida compõe uma dupla de peso em defesa do Executivo.
“Não ia demorar muito o embate entre as mulheres aqui na Assembleia”, comentou com este blog um deputado governista, referindo-se ao que aconteceu esta semana. No calor da abertura da CPI, ao mesmo tempo que Dani dava entrevistas cobrando mais transparência do Governo, Débora a acusou de “militância seletiva”. Líder feminista, Dani, segundo ela, “lançou sobre a governadora um apanhado de acusações sem prova. Não vê que está sendo usada pelo PSB, desde o início do seu mandato, como ponta de lança. Ela ataca e eles se escondem por trás para camuflar a misoginia deles e o desastre que foi a administração do PSB que antecedeu a de Raquel”.
Militância seletiva
E completa: “porque ela não defendeu Raquel quando a mesma foi vítima de uma frase infeliz do deputado Álvaro Porto?. Agora, se alguma mulher do seu lado for atacada ela vira uma fera. Da mesma forma se calou quando João Campos deu um reajuste irrisório aos professores, mesmo com greve decretada, e a governadora chegou ao máximo do que pode fazer para não só reajustar salários como conferir outros benefícios aos educadores. Pergunto: é ou não é seletiva?. Agora, quando lhe convém, ela esconde o PSB pra não vir à tona o viés de misoginia dos que manobram para atacar a honra de Raquel, uma mulher de comportamento correto e responsável, querendo coloca-la na vala comum”.
Dani Portela não parece se intimidar com as cobranças: “não tenho dúvida de que qualquer mulher que entrar na politica é vítima de violência de gênero. Eu sofro e sei que a governadora também sofre. É como se muitos entendessem que este lugar não é para nós. Sou uma parlamentar feminista e como oposição exerço uma função fiscalizadora que não pode ser confundida com violência política de gênero. Tenho projetos aprovados garantindo respeito e autonomia para as mulheres assim como tenho cobrado da governadora mais ação pela causa feminina e não enxergo isso quando vejo a secretaria da mulher ter o quinto menor orçamento entre as secretarias estaduais. Não há prioridade”.
Debate entre três mulheres
- “Não tenho visto Débora se pronunciar em defesa das mulheres como deveria” – acrescenta Dani. “No caso da CPI estou me referindo a um contrato que o próprio TCE considerou que tem problemas. Minha crítica é administrativa, não é pessoal à governadora e muito menos busca uma desconstrução pessoal dela. Não é porque um governante é mulher que deve ser blindado. Precisa prestar contas da mesma forma”.
Onde está a razão? A cientista política Priscila Lapa diz que “Dani Portela tem uma vida pública configurada pela pauta feminista e identitária, independente de qual esfera estiver atuando. Como deputada de oposição e diante de uma fragilidade do Governo, ela está surfando na onda das oportunidades. Como feminista, e em se tratando com uma mulher governadora, ela precisa cuidar para manter a coerência entre o seu posicionamento político e as bandeiras que defende. Precisa agir de forma ponderada e contributiva sem apelar para os excessos”.
Segundo ela, “não deixa de ser interessante ver três mulheres envolvidas nesse debate. A deputada Dani Portela tem ocupado bem esse papel de oposição, ao mesmo tempo que a deputada Débora Almeida se destaca pela defesa do Governo. A governadora por si só faz questão de pontuar quando entende que sua atuação está sendo obstaculada pela questão de gênero. É necessário observar, no entanto, que o debate atual não é feminista mas de gestão pública e então uma mulher não deve se pautar somente sobre a pauta feminista. Resta aguardar dentro desse prisma quem será o vencedor, se o Governo ou a Oposição.”