Lição de 2022 leva campanha de 2026 a começar a ganhar força no interior
Com 58,30% dos eleitores estaduais concentrados no interior, a governadora Raquel Lyra, que até agora não vai tão bem na RMR, é muito popular

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Com dois fortes candidatos a governador oriundos do interior, coisa jamais vista em Pernambuco onde, até então, os chefes do executivo estadual eram naturais da Região Metropolitana, a eleição de 2022 acabou levando um deles – a governadora Raquel Lyra, com base política em Caruaru - a vencer a eleição quando ninguém esperava, sobretudo no segundo turno, quando enfrentou Marília Arraes, política recifense apoiada pelo PT e pelo presidente Lula. Essa realidade, que fez os olhos dos políticos enxergarem mais as lideranças interioranas, não ficou restrita àquela eleição. Hoje nas duas principais cidades do interior, Caruaru e Petrolina, os prefeitos Rodrigo Pinheiro, cria de Raquel, e Simão Durando, cria de Miguel Coelho, estão muito bem avaliados e com perspectiva de exercerem influência no voto não só nas suas cidades como na região ao seu redor.
Com 58,30% dos eleitores estaduais concentrados no interior, a governadora Raquel Lyra, que até agora não vai tão bem na Região Metropolitana, onde o prefeito João Campos é muito popular e o Recife tem forte influência no voto, decidiu a focar nos prefeitos e nos municípios tendo hoje o apoio declarado de mais de 130 deles com a perspectiva de chegar a mais. Tal realidade levou a campanha política a começar por lá, mais precisamente pelo município sertanejo de Serrita, no último final de semana, durante a tradicional Missa do Vaqueiro, a primeira vez em que o prefeito da capital e a governadora atuaram juntos.
Serrita como berço da disputa
Atenta à importância dos fatos políticos, Raquel levou consigo 19 prefeitos e suas caravanas quando João teve a companhia de apenas três. A expressão numérica levou-a a ser ovacionada quando falava enquanto João, sem direito a fala, ficou em clara desvantagem, bem diferente do que acontece no Grande Recife. Este final de semana, Raquel voltou a se concentrar no interior para abrir o Festival Pernambuco é o Meu País que começou em Salgueiro e chegará a mais nove municípios até o início de setembro nos quais ela já confirmou presença.
A prioridade ao interior vai ser suficiente para Raquel conseguir nas diversas regiões interioranas votos suficientes para ultrapassar o favoritismo de João Campos no Grande Recife? “A eleição vai ser resolvida com a resposta a essa equação. João precisa ter na Metropolitana um percentual de votos suficiente para bater o favoritismo de Raquel no interior e ela vai precisar trabalhar a Metropolitana, para reduzir o percentual de votos que ele terá”- observa um deputado estadual de linha independente.
Até onde vai a força dos prefeitos?
Nem sempre o interior corresponde ao que se pretende dele. O número de prefeitos em si não é suficiente para dar tranquilidade a um candidato. Jarbas Vasconcelos bateu Miguel Arraes com mais de 1 milhão de votos em 1998 quando o Palácio do Campos das Princesas registrava o apoio de mais de 100 prefeitos a Arraes. A favor de Raquel comenta-se nos meios políticos que há uma diferença entre o que aconteceu com Arraes e a realidade de agora.
Na época, falava-se no número de prefeitos pela representação partidária e não individualmente. Já Raquel, com problemas na Assembléia, se vinculou diretamente a eles ao ponto de conceder-lhes audiência, com ou sem a companhia de deputados, assegurar a execução de obras que eles priorizam e interiorizar todos os grandes programas sociais do estado. “Já ví a governadora interromper agenda para atender prefeitos pelo celular”- conta o senador do MDB Fernando Dueire, que tem o apoio declarado de 86 prefeitos .
Influência maior no interior
O presidente da Associação Municipalista de Pernambuco(Amupe) o ex-prefeito de Paudalho, Marcelo Gouveia, que apóia Raquel, diz que “é preciso analisar a performance dos prefeitos de acordo com as regiões estaduais. Na Região Metropolitana a influência do prefeito é bem menor, pesa muito pouco pois o voto é muito influenciado por outros fatores mas no interior é diferente. Todos os políticos sabem disso. Posso dar um exemplo de Danilo Cabral, que ficou em quatro lugar no estado em 2022 quando o PSB estava muito mal, mas venceu em muitos municípios interioranos onde era apoiado por prefeitos”.
Ele afirma que um prefeito que não consegue fazer seu candidato a governador vencedor em seu município fica fraco diante da oposição e corre o risco de perder o próximo pleito municipal por isso costuma trabalhar muito para eleger seu candidato. Raquel tem outra vantagem sobre João nos municípios interioranos que é a entrega de obras e serviços, agenda que pretende intensificar a partir de agosto, isso sem contar com as festividades que tem ajudado os prefeitos a realizar.
Foco na Metropolitana
Marcelo acredita que com uma forte base interiorana, a governadora vai precisar focar em algumas áreas importantes para arregimentar eleitores metropolitanos. Na sua opinião as respostas serão melhores com investimentos em áreas como segurança e saúde.
A cientista política Priscila Lapa, que está escrevendo um estudo sobre a eleição de 2022 que, segundo ela, “quebrou vários paradigmas na política do estado” cita entre as mudanças promovidas naquele pleito, “o avanço das mulheres, que conquistaram os três cargos majoritários em disputa, o aparecimento de candidaturas competitivas no interior com o abandono da lógica de que a política é definida da capital para o interior, e a ruptura do longo ciclo político liderado pelo PSB.”
Para ela a interiorização é importante mas não pressupõe um esquecimento da Região Metropolitana que ainda concentra a maioria do eleitorado e onde os grandes partidos vão continuar investindo. Diz que Raquel demonstrou isso quando, na eleição municipal de 2024, buscou se fortalecer no Grande Recife trabalhando e conseguindo eleger prefeitos de grandes cidades. “É importante que se criem novos paradigmas, porém, levar muito em conta as grandes concentrações de eleitores, ou na Metropolitana ou em grandes polos como Caruaru e Petrolina. O ideal é conciliar as rupturas que são necessárias e bem vindas, com o investimento concomitante em terrenos históricos onde a eleição efetivamente é decidida pela concentração de eleitores”.