Com argumentos políticos, Trump impõe tarifa de 50% ao Brasil. Lula responde
Trump anunciou uma taxação de 50% colocando como motivo o que chamou de "caça às bruxas" contra Bolsonaro e o tratamento dado pelo Brasil às Big Techs

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O Governo brasileiro e a classe empresarial respiraram aliviados quando, em meio a tarifas astronômicas impostas à China e, antes disso, aos vizinhos México e Canadá, o presidente Donald Trump taxou os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos em 10%, o mesmo percentual da Argentina, onde o presidente Milei é considerado grande amigo do novo mandatário americano. Embora até hoje Trump não tenha designado um embaixador para o Brasil – o que não é um bom sinal – e o chanceler brasileiro, ministro Mário Vieira, não tenha recebido resposta às buscas de aproximação com seu colega americano, o Governo Federal, sabendo que Trump é amigo de Bolsonaro, se fingiu de morto à espera de algum aceno e entregou ao vice Geraldo Alckmin a tarefa de iniciar discussões sobre as tarifas com os negociadores estadunidenses.
Trump, no entanto, que já havia manifestado seu desagrado com manifestações do STF sobre as empresas de tecnologia chamadas de Big Techs , a maioria americanas, como Google, Facebook, Whatsapp e “X”- essa última suspensa temporariamente do Brasil pelo ministro Alexandre de Moraes – só estava guardando na geladeira sua insatisfação que aflorou esta semana. Sem que ninguém esperasse – nem mesmo os bolsonaristas – ele fez postagem nas redes sociais esta segunda-feira condenando expressamente o Brasil pelo julgamento de Bolsonaro, e dizendo que ele “deveria ser julgado somente pelo povo durante as eleições”. O presidente Lula respondeu reafirmando a soberania do Brasil.
Mas o pior ainda estava por vir. Intrigado com o fato de Lula ter assumido a presidência do BRICS e no primeiro encontro realizado esta semana no Brasil ter defendido o direito do grupo de discutir uma moeda própria, coisa que Trump considera um acinte aos Estados Unidos cuja moeda, o dólar, é referência nas negociações entre países em todo o mundo, o presidente americano anunciou, de imediato, que os países que defendessem os ideais do BRICS seriam taxados em 10% a mais do que tinham sido até agora. Mas, quando o Brasil esperava chegar aos 20%, esta quarta-feira, em nova manifestação, desta vez através de carta ao presidente Lula, Trump anunciou uma taxação de 50% colocando como motivo o que chamou de “caça às bruxas” contra Bolsonaro e o tratamento dado pelo Brasil às Big Techs. E mais: ameaçou uma taxação ainda maior, como fez com a China inicialmente, se o Brasil impusesse alguma taxação aos produtos americanos.
Mistura de taxação com política preocupa
O fato de Trump ter colocado, de forma clara, argumentos políticos como motivo da super taxação ao Brasil, o que não fez com nenhum outro país de forma tão explícita, deixou o Governo brasileiro, no primeiro momento, perplexo diante da reação a ser tomada. Depois de uma reunião com ministros, Lula colocou uma nota nas redes sociais reafirmando a soberania brasileira, dizendo que o país tem instituições independentes que não estão passíveis de influência externa e sobre as Big Techs diz que a legislação brasileira rejeita conteúdos contrários aos direitos humanos e que a liberdade no Brasil “não se confunde com agressões ou práticas violentas. Por fim ameaçou “reciprocidade econômica”. Trump vai aceitar a reciprocidade econômica que Lula está ameaçando adotar? Vai esquecer a questão política e deixa-la para trás? É pagar pra ver.
Aceno a entendimento
Em todas as cartas enviadas a dirigentes internacionais sobre as tarifas, o presidente dos Estados Unidos tem colocado um último parágrafo, deixando claro que está aberto a negociações. No caso brasileiro acrescenta que a negociação, dependendo do que for proposto, pode reduzir a nova taxação ou mesmo aumentá-la. Deixou o Brasil numa sinuca de bico que é ter que fazer uma negociação econômica com objetivos políticos. E, nesse sentido, o presidente brasileiro ficou de calças curtas pois esteve na Argentina na semana passada, visitou a ex-presidente Cristina Kirchner, adversária do presidente Javier Milei, que está em prisão domiciliar, cumprindo pena por corrupção, e levantou um cartaz com a frase “Cristina Livre”.
Pergunta que não quer calar
A reação de Trump vai ajudar ao presidente Lula na sua busca pela reeleição, ou aos bolsonaristas que ainda acreditam na influência americana para evitar a prisão do ex-presidente?
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