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Em cinco dias de COP30, duas manifestações de povos indígenas questionam inclusão no evento

A CEO da COP30, Ana Toni, defendeu a participação recorde de 900 povos indígenas e disse que vem conversando com a ONU sobre as críticas à conferência

Por Adriana Guarda Publicado em 14/11/2025 às 15:33

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Belém - A COP30 chega ao quinto dia com a segunda manifestação de povos indígenas desde o início da conferência, que segue até o próximo dia 21 em Belém. Na manhã desta sexta-feira (14), um grupo de indígenas Munduruku amanheceu o dia em frente à entrada da Zona Azul da COP30, exigindo uma audiência com o presidente Lula. Os povos originários denunciaram o avanço de projetos de infraestrutura que ameaçam seu território e de outros povos da bacia do Tapajós e do Xingu.

A ocupação dificultou a circulação na Zona Azul e alterou o horário e a programação de reuniões e painéis na Conferência. Depois do movimento, os Mundurukus participaram de reunião com presidente da COP30, André Corrêa do Lago, e com a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. Os indígenas reforçaram que, mesmo com o discurso oficial de inclusão, ainda se sentem afastados de decisões que impactam seus territórios.

INCLUSÃO INDÍGENA E IMPRENSA 

COP30/Divulgação
Povo Munduruku se reuniu com o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, depois do protesto na entrada da Zona Azul - COP30/Divulgação

O ato desta sexta-feira, repetindo o que ocorreu na terça passada, voltou a chamar a atenção da imprensa nacional e internacional sobre a inclusão dos povos indígenas na COP30. Encerrada quase a primeira semana de reuniões e negociações, as duas manifestações revelam que a presença recorde de povos tradicionais na Conferência — anunciada como símbolo de protagonismo amazônico — não tem sido suficiente para evitar tensões.

Em coletiva de imprensa nesta sexta, a CEO da COP30, Ana Toni, voltou a defender que as manifestações são comuns nas COPs. Questionada sobre a crítica de que os povos indígenas "não estão se sentindo empoderados",  a CEO da COP30 respondeu que as manifestações são legítimas e refletem a vitalidade democrática do país.

Segundo ela, o governo brasileiro fez uma escolha política ao sediar a COP na Amazônia justamente para garantir visibilidade inédita aos povos tradicionais. "Se a COP fosse em São Paulo, Rio de Janeiro ou qualquer outro lugar, não veríamos os povos indígenas, suas vozes não seriam ouvidas", disse. 

Ana Toni afirmou que a presidência tem mantido diálogo constante com lideranças indígenas, principalmente por meio do Círculo dos Povos, coordenado pela ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara. 

Ela citou ainda que esta é a COP mais inclusiva já realizada, segundo a comissária da ONU, e destacou os números de participação. "Temos 900 indígenas credenciados nesta conferência. A última COP que contou com grande participação indígena teve cerca de 300, segundo a UNFCCC", comparou. 

A CEO reforçou que manifestações fazem parte do processo democrático e que o objetivo da COP na Amazônia é justamente ampliar a escuta das populações mais vulneráveis. "O objetivo de sediar a COP na Amazônia é ouvir as pessoas que mais sofrem com as mudanças climáticas", afirmou. 

Ao final, ela afirmou que o diálogo continuará aberto. "As manifestações que ocorreram foram legítimas e continuaremos dialogando com legitimidade".

COP minimiza ruído com a ONU

Além da pressão dos povos indígenas, a organização da COP30 também enfrenta questionamentos da própria ONU. Na coletiva desta sexta-feira, Ana Toni foi perguntada sobre a carta enviada na quinta (14) pelas Nações Unidas, com críticas a pontos sob responsabilidade da presidência brasileira na estrutura do evento.

A CEO minimizou qualquer ruído e afirmou que o diálogo com a ONU é permanente. 

“Estamos debatendo e discutindo com eles o tempo todo. Há uma comunicação muito boa entre nós, com diálogo contínuo sobre os desafios e questões que surgem. Seguimos trabalhando juntos — e esse relacionamento tem sido positivo e construtivo.”

Segundo Ana Toni, o conteúdo da carta faz parte do fluxo normal de ajustes entre a UNFCCC e o país anfitrião, especialmente em um evento de grande porte como este.  

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