Delegações de Pernambuco chegam à COP30 como símbolos dos desafios climáticos do país
Raquel Lyra será a única governadora brasileira a participar da 13ª Reunião Anual de Alto Nível de Caring for Climate, que reúne líderes globais
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Pernambuco está no centro das discussões sobre mudanças climáticas no Brasil. O estado é um dos mais vulneráveis aos efeitos do aquecimento global e tem sido citado em relatórios nacionais e internacionais — inclusive nos estudos do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) — como um retrato das contradições entre riqueza natural, desigualdade social e riscos ambientais. A governadora Raquel Lyra e o prefeito do Recife, João Campos, participam da Conferência.
Diante desse cenário, Pernambuco chega à COP30 com legitimidade e urgência. Além da presença do governo estadual e da Prefeitura do Recife, o estado leva ao evento um conjunto de experiências de adaptação e mitigação que começam a transformar o território — como parques alagáveis, jardins filtrantes, soluções baseadas na natureza e planos municipais de resiliência.
No mapa da crise climática, o território pernambucano concentra quase todos os sintomas. A capital, Recife, é considerada a cidade brasileira mais ameaçada pela elevação do nível do mar e a 16ª mais vulnerável do mundo, segundo estudos da ONU e do IPCC. No interior, a desertificação avança sobre o Sertão, enquanto o Litoral e a Zona da Mata enfrentam chuvas cada vez mais intensas, que frequentemente resultam em enchentes e deslizamentos em áreas de encosta e comunidades vulneráveis.
Raquel Lyra na Conferência
O primeiro dia de compromissos da governadora em Belém é nesta terça-feira (11), liderando a comitiva pernambucana em encontros para discutir transição ecológica, atração de investimentos sustentáveis e fortalecimento de parcerias internacionais.
Em sua primeira agenda, Raquel participa do painel “Powershoring no Nordeste do Brasil: como acelerar investimentos sustentáveis e a cadeia industrial de baixo carbono”, ao lado de governadores nordestinos e especialistas internacionais. Em seguida, inaugurou o Espaço do Consórcio Nordeste, que funcionará como ponto de articulação regional durante toda a conferência.
“A COP30 é uma oportunidade para reafirmar o protagonismo de Pernambuco nas pautas climáticas e mostrar que nosso Estado está comprometido em unir crescimento econômico, sustentabilidade e compromisso social. Chegamos a Belém para fortalecer relações com o mundo, com o olhar voltado para a transição energética e a construção de parcerias que tragam investimentos concretos para o povo pernambucano”, afirmou a governadora.
A agenda da gestora segue intensa. Ainda nesta terça, Raquel será recebida pela Rainha da Dinamarca, Mary Donaldson, e se reunirá com representantes de empresas parceiras dinamarquesas, como a European Energy e a Maersk, para tratar de cooperação em energia limpa e descarbonização do transporte marítimo em Suape.
Na quarta-feira (12), Raquel será a única governadora brasileira a participar da 13ª Reunião Anual de Alto Nível de Caring for Climate, que reúne líderes globais e executivos de grandes empresas para discutir ação climática, transição energética e investimentos sustentáveis.
Iniciativas e soluções
Mas Pernambuco também se destaca no enfrentamento da crise climática e na mobilização social. No Recife, o programa Jovens no Clima, da Prefeitura do Recife, levou à conferência a maior delegação municipal do país. São 36 jovens entre 18 e 29 anos que desenvolveram projetos socioambientais em comunidades periféricas. O grupo, apoiado pela Bloomberg Philanthropies, participa de painéis na Zona Verde da conferência e em espaços de diálogo com ministérios, universidades e coletivos indígenas e urbanos.
“É preciso reconhecer a potência criativa da juventude recifense na construção de soluções sustentáveis. São jovens da periferia que agora estarão num evento de alcance global”, destaca o secretário de Direitos Humanos e Juventude do Recife, Marco Aurélio Filho.
Agenda cheia
A agenda dos recifenses na COP30 será intensa. Na tarde da segunda-feira (10), na Zona Verde, no Pavilhão Governo Federal, o grupo acompanhou o painel “Jovens no Clima: as juventudes do Recife no centro do debate e ação climática”, com palestras da Ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Macaé Evaristo; do prefeito do Recife, João Campos; da diretora executiva do Delibera Brasil, Marisa Villi; da representante da Comunicação Ambiental, Alice Xucuru; e de dois representantes dos coletivos de jovens beneficiados pelo programa. O mediador foi o secretário de Direitos Humanos e Juventude.
Já na manhã desta terça (11), os jovens estarão na COP do Povo, na Casa do Povo, onde apresentarão o painel “Jovens no Clima Recife: da lama do território para o mundo”. No mesmo dia, à tarde, será a vez do Pavilhão do Círculo dos Povos com o painel "Jovens no Clima Recife 2025: A experiência de jovens indígenas da periferia do Recife na gestão de projetos sustentáveis".
Combate a crimes ambientais
No primeiro dia de compromissos na COP30,o prefeito do Recife, João Campos, firmou uma parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública para fortalecer o monitoramento de áreas verdes e o combate a crimes ambientais.
O acordo integra o programa Brasil Mais, do Governo Federal, que oferece gratuitamente a estados e municípios imagens de satélite de alta resolução utilizadas pela Polícia Federal (PF) em ações de fiscalização e inteligência ambiental.
O termo de cooperação técnica foi assinado em Belém, durante uma reunião bilateral entre o prefeito João Campos e o ministro Ricardo Lewandowski, e marca um passo importante na ampliação das ferramentas tecnológicas voltadas à proteção ambiental no Recife.
JC na COP30
O Jornal do Commercio estará em Belém a partir desta quarta-feira (13) para acompanhar de perto a COP30. O veículo mostrará como Pernambuco e o Recife se inserem nas negociações internacionais, os bastidores dos painéis, as propostas regionais e as conexões entre clima, economia e justiça social.
Mais do que registrar, o JC quer traduzir o que a conferência significa para o futuro do Nordeste — uma região que, entre secas e enchentes, se tornou o verdadeiro laboratório climático do Brasil.