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6 em cada 10 favelas do Brasil não recebem obras de prevenção de riscos para crise climática, aponta estudo

Estudo foi realizado com lideranças e moradores de favelas com o objetivo de visibilizar a violação de direitos nestes territórios

Por Laís Nascimento Publicado em 17/10/2025 às 13:54

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“A crise da moradia e a crise climática são indissociáveis”, pontua o Panorama Climático das Favelas e Comunidades Invisibilizadas.

O levantamento, publicado na última semana pela TETO Brasil e pelo Centro de Estudos das Cidades – Laboratório Arq.Futuro do Insper, aponta que a crise climática não é apenas ambiental, mas também social e, por isso, os dois fatores devem ser analisados de forma conjunta.

A pesquisa revela que cerca de 60% das favelas do Brasil não recebem obras de prevenção de riscos frente à crise climática. Ao todo, foram mapeadas 119 comunidades, em 51 municípios de todas as regiões do país.

De acordo com o Panorama, o medo de eventos climáticos, que aconteceram ao menos uma vez desde janeiro de 2024, é constante para 86% dos entrevistados.

Os eventos apontados no estudo foram:

  • Ondas de calor intenso (71%)
  • Tempestades e vendavais (56%)
  • Enchentes (54%)
  • Ondas de frio e falta de água (50%)

O estudo foi realizado com lideranças e moradores de favelas com o objetivo de visibilizar a violação de direitos nestes territórios e auxiliar decisões do poder público com relação às políticas de enfrentamento das consequências da crise climática.

A pesquisa também analisa as desigualdades urbanas e o nível de vulnerabilidade das favelas. Dentre os entrevistados, 69% das comunidades não têm acesso à rede de saneamento básico e 70% não possuem sistema de drenagem.

Ainda de acordo com o levantamento, as desigualdades estruturais nas favelas e comunidades urbanas, que expõem mais a população às emergências climáticas, se revelam em fatores como abastecimento de água e coleta de lixo.

O conceito explorado pelo Panorama, chamado sobrecarga territorial, busca analisar os territórios a partir da existência de precariedades sociais, políticas, habitacionais, infraestruturais, fundiárias, urbanísticas e ambientais. “Quando somadas, interagem simultaneamente e amplificam desvantagens históricas”, destaca o estudo.

Veja alguns dos dados:

  • 1 a cada 3 têm acesso regularizado à água
  • O abastecimento de água é por ligações clandestinas em 48,3% dos casos
  • A coleta de lixo ocorre fora das favelas em 30,4% dos casos
  • O lixo é coletado dentro da comunidade em 22,4% das entrevistadas

“Precisamos ir além de somente conhecer as realidades desiguais, precisamos trabalhar de forma coordenada e coletiva, buscando preparar as comunidades para a nova realidade climática, revertendo décadas de ausência de políticas públicas de maneira a garantir a dignidade e segurança para milhares de famílias que vivem em condições hiper precárias”, explica Camila Jordan, diretora de Relações Institucionais e Incidência da TETO Brasil.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, 8,1% da população é residente de favelas. O Censo 2022 apontou que a pesquisa registrou 12.348 favelas em todo o Brasil, com uma população de 16,390 milhões de brasileiros espalhados nestes territórios.

Para ser considerado favela, o instituto leva em consideração os seguintes tópicos: insegurança jurídica da posse; ausência, oferta precária ou incompleta de serviços públicos; e padrões urbanísticos fora da ordem vigente e ocupação de áreas com restrição ou de risco ambiental.

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