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Governo federal anuncia força-tarefa contra bebidas adulteradas após mortes por metanol

Em coletiva, ministros detalharam plano emergencial de fiscalização, atendimento em saúde e investigação sobre envolvimento de organizações criminosas

Por Ryann Albuquerque Publicado em 30/09/2025 às 12:57 | Atualizado em 30/09/2025 às 13:20

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O governo federal anunciou nesta terça-feira (30), em coletiva no Palácio da Justiça, em Brasília, a criação de uma força-tarefa nacional para enfrentar os casos de intoxicação por bebidas adulteradas com metanol em São Paulo.

A situação já resultou em três mortes confirmadas e deixou outras pessoas em estado grave. A operação reúne diferentes frentes do Executivo e terá ações de fiscalização, investigação policial e reforço no atendimento de saúde.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, classificou a situação como grave e inédita no país. Segundo ele, a adulteração de bebidas com metanol representa uma ameaça sem precedentes à saúde pública.

José Cruz/Agência Brasil
Os ministros Ricardo Lewandowski (Justiça) durante entrevista para falar sobre os casos de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol - José Cruz/Agência Brasil

Lewandowski determinou à Polícia Federal a abertura de inquérito para identificar a procedência do metanol e mapear a rede de distribuição, que, segundo ele, ultrapassa os limites de São Paulo e atrai a competência federal.

O ministro lembrou que a adulteração de produtos é crime previsto no Código Penal e que a comercialização de bebidas adulteradas configura infração ao Código de Defesa do Consumidor.

Rede de órgãos mobilizados

Além da Polícia Federal, a força-tarefa conta com a atuação da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), responsável por instaurar inquérito administrativo para acompanhar as ocorrências; da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad), que apoia a investigação sobre possível ligação com redes criminosas já conhecidas no mercado clandestino de combustíveis; e da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA/MS), responsável por monitorar e orientar a rede de saúde em todo o país.

Esses órgãos estão realizando fiscalizações em bares, adegas e pontos de venda, além de reforçar orientações a comerciantes e profissionais de saúde sobre armazenamento, consumo e notificação de casos suspeitos.

Novo perfil das vítimas

José Cruz/Agência Brasil
O ministro Alexandre Padilha (Saúde), durante entrevista para falar sobre os casos de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol - José Cruz/Agência Brasil

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou que os casos atuais diferem do padrão histórico de intoxicações por metanol.

Tradicionalmente associados a situações de vulnerabilidade social e ao consumo da substância como combustível, os registros mais recentes envolvem bebidas destiladas falsificadas e vendidas em bares e restaurantes, muitas vezes em áreas nobres de São Paulo.

“Historicamente, víamos casos relacionados ao uso indevido de metanol por pessoas em situação de rua. Agora, o que temos é uma adulteração sofisticada, envolvendo destilados falsificados e vendidos em bares e adegas, o que reforça a suspeita de envolvimento de organizações criminosas”, disse Padilha.

Segundo o ministro, esse novo perfil amplia a gravidade da crise, já que as vítimas incluem jovens e adultos de classe média, que frequentavam estabelecimentos regulares de consumo de bebidas.

Ações emergenciais na saúde

Padilha informou que o Ministério da Saúde publicou uma nota técnica para orientar profissionais de saúde sobre diagnóstico e tratamento da intoxicação por metanol.

A notificação de casos suspeitos passa a ser imediata e obrigatória, com acionamento dos 32 Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) em todo o país.

Foram distribuídos protocolos de estabilização clínica, hidratação e encaminhamento, além de orientações específicas para hospitais e unidades de pronto atendimento.

Também foi lançada uma campanha de alerta à população, informando os principais sintomas da intoxicação: dor abdominal, vômitos, visão turva ou perda súbita da visão e dificuldade para respirar.

Padilha explicou que o metanol, quando metabolizado pelo fígado, gera compostos que atacam o sistema nervoso central, podendo causar cegueira irreversível e morte, mesmo em pequenas quantidades.

Crime organizado sob investigação

As autoridades suspeitam que o metanol usado na adulteração das bebidas tenha origem em redes de contrabando e adulteração já ligadas ao mercado de combustíveis.

O governo investiga a possibilidade de quadrilhas terem desviado substâncias químicas destinadas a fins industriais e vendido o produto a destilarias clandestinas.

De acordo com Lewandowski, a articulação nacional é fundamental para desarticular essas redes. O ministro ressaltou que a prioridade do governo é identificar e interromper a cadeia de distribuição ilegal, além de punir os responsáveis pela adulteração.

Casos confirmados e vítimas

O Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo confirmou seis casos de intoxicação por metanol desde junho, além de outros dez em investigação.

Três mortes foram registradas desde o início de setembro, incluindo dois homens, de 54 e 58 anos, e um advogado de 45 anos que perdeu a visão antes de morrer.

Também foi relatado o caso de uma mulher que ficou cega após consumir caipirinhas em um bar da capital paulista.

Em ações de fiscalização recentes, foram apreendidas 117 garrafas sem rótulo em estabelecimentos suspeitos. Quatro bares já são alvo de investigação pela polícia paulista.

Recomendações à população

O governo federal reforçou algumas recomendações básicas à população para evitar riscos:

  • Consumir apenas bebidas de fabricantes legalizados, com rótulo, lacre e selo fiscal;

  • Evitar produtos de origem duvidosa ou comercializados sem procedência clara;

  • Procurar atendimento médico imediato em caso de ingestão suspeita;

  • Profissionais de saúde devem notificar todos os casos imediatamente e acionar centros de referência toxicológica.

Acompanhamento contínuo

Lewandowski concluiu afirmando que a operação contra bebidas adulteradas é prioridade absoluta. Padilha reforçou que o monitoramento será constante e que a rede de saúde está em alerta.

Ambos os ministros destacaram que o trabalho interministerial busca conter a expansão dos casos, proteger a população e responsabilizar os envolvidos.

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