Ana Estela Haddad atua na área digital do Ministério da Saúde e não comanda programa Farmácia Popular
Vídeo que associa esposa de Haddad a suposto esquema de fraudes distorce fatos e omite informações básicas sobre estrutura do MS; entenda

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Não é verdade que a esposa do ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) esteja à frente do programa Farmácia Popular.
Uma fala infundada de um deputado estadual do Rio Grande do Sul tem circulado amplamente nas redes sociais.
No vídeo, ele alega que Ana Estela Haddad é “diretora do Farmácia Popular” e dá a entender que ela seria conivente com um esquema de fraudes cujo alvo foi o programa do governo federal.
Na verdade, Ana Estela atua desde 2023 no Ministério da Saúde, mas como secretária da Secretaria de Informacao e Saude Digital (SEIDIGI).
A pasta coordena a transformação digital do SUS.
O programa Farmácia Popular é coordenado por Bruno Fernandes Baltazar de Oliveira e está vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (SECTICS), outra área dentro do ministério.
No vídeo em questão, o deputado comenta uma notícia verdadeira, de que a Polícia Federal estaria investigando um esquema de fraudes operacionalizado por um grupo criminoso atuante no tráfico de drogas internacional.
O grupo adquiria empresas que estavam cadastradas no programa Farmácia Popular, mas que haviam encerrado suas atividades.
A partir disso, eles alteravam a participação societária e começavam a lançar vendas falsas no sistema.
A PF não informou ao Comprova se agentes públicos estavam envolvidos no esquema.
Nas informações divulgadas para a imprensa, consta apenas que um candidato a vereador nas eleições municipais de 2024, em uma cidade no entorno de Brasília (DF), era um dos traficantes beneficiados pelo golpe.
Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova?
O Comprova entrou em contato com a assessoria de imprensa do deputado Gustavo Victorino (Republicanos-RS), autor da desinformação dita no vídeo investigado.
A assessora, porém, informou estar com dificuldade de contactá-lo devido a uma viagem.
Victorino já teve duas postagens anteriormente verificadas pelo Comprova.
Em uma delas, mostramos que Lula não derrubou a lei de combate a fraudes no INSS e na outra que o Brasil não enviou US$ 600 milhões para o agronegócio da Argentina.
O vídeo foi republicado por muitas páginas de direita, no X, Instagram e TikTok. Mais de 47,7 mil pessoas assistiram ao conteúdo no TikTok; outras 122 mil viram a republicação do vídeo em uma página do X.
Por que as pessoas podem ter acreditado
O conteúdo verificado pelo Comprova apresenta uma combinação clara de conteúdo enganoso e falsas conexões.
O deputado que aparece no vídeo descreve uma investigação sobre uso fraudulento de farmácias populares ligadas ao narcotráfico e, sem apresentar provas, conecta a suposta responsabilidade ao fato de “a mulher do Haddad” ser diretora do programa.
Trata-se de uma descontextualização: elementos reais, como a existência de investigações da Polícia Federal sobre fraudes no programa Farmácia Popular, são misturados a alegações não verificadas e a uma acusação política direta, criando a impressão de vínculo entre familiares de um ministro e o narcotráfico.
O recurso da falsa autoridade também aparece, já que o simples fato de ser um parlamentar dá verniz de legitimidade a declarações que carecem de evidência concreta.
A retórica do vídeo e do post reforça um apelo à emoção e à polarização.
O discurso apresenta o governo Lula como corrupto e impune, usando expressões carregadas (“roubar os velhinhos do INSS”, “não vai dar nada pra ninguém”) para despertar indignação e raiva.
Além disso, há ataque à credibilidade das instituições, insinuando que o sistema de justiça e a mídia (“mídia marrom”) não agem contra irregularidades, o que alimenta a desconfiança social e fortalece narrativas conspiratórias.
Por fim, o post acrescenta uma chamada para ação urgente (“vejam o vídeo e compartilhem”), recurso típico de viralização de desinformação, que apela à pressa e impede a checagem crítica antes da disseminação.
Fontes que consultamos
Ministério da Saúde, Polícia Federal e assessoria do deputado Gustavo Victorino. Fizemos a transcrição do conteúdo do vídeo usando o Grok, a IA do X.
Por que o Comprova investigou essa publicação?
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento.
Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema
O mesmo conteúdo já foi analisado pelo Estadão Verifica. Sobre a Farmácia Popular, o Comprova já explicou os efeitos da gratuidade do programa.
- Notas da comunidade: As postagens do vídeo no X não haviam recebido notas da comunidade até a publicação desta verificação.
A checagem foi publicada em 26 de agosto de 2025 pelo Comprova — coalizão formada por 42 veículos de comunicação que verifica conteúdos virais.
A investigação foi conduzida pelo Terra, e o conteúdo também passou por verificação de Jornal do Commercio, Folha de S. Paulo, Grupo SINOS e NSC Comunicação.