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Lula não fez declarações públicas sobre apoiar o Irã na guerra, como sugere vídeo feito com IA

Post com vídeo narrado por IA inventa declarações do presidente brasileiro; Até o momento, o presidente não fez falas públicas sobre o confronto

Por Projeto Comprova Publicado em 26/06/2025 às 14:09 | Atualizado em 26/06/2025 às 17:00

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não falou em enviar soldados para o Irã ou mencionou apoio bélico ao país na guerra contra Israel.

Vídeo narrado por inteligência artificial afirma que o mandatário teria afirmado em “coletiva tensa” que o Brasil pode apoiar o Irã com envio de tropas, mas não há registro dessa fala nas coletivas e discursos de Lula sobre o conflito.

Até o momento, o presidente não fez falas públicas sobre o confronto.

Em Sessão Ampliada da Cúpula do G7, no Canadá, na última terça-feira (17/6), Lula citou os ataques à Faixa de Gaza e outros confrontos ao redor do mundo, mas não citou o nome de Israel ou do Irã.

"Em Gaza, nada justifica a matança indiscriminada de milhares de mulheres e crianças e o uso da fome como arma de guerra", declarou.

Em 13 de junho, data do primeiro ataque ao Irã, que deu início ao confronto, o Itamaraty condenou a ofensiva israelense.

O texto pede aos envolvidos o “exercício da máxima contenção e exorta ao fim imediato das hostilidades”.

No dia 22, o órgão afirmou que “o governo brasileiro expressa grave preocupação com a escalada militar no Oriente Médio e condena com veemência, nesse contexto, ataques militares de Israel e, mais recentemente, dos Estados Unidos, contra instalações nucleares, em violação da soberania do Irã e do direito internacional”.

Na mesma publicação, disse que “o Brasil ressalta a urgente necessidade de solução diplomática que interrompa esse ciclo de violência e abra uma oportunidade para negociações de paz”.

Em contato com o Comprova, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) afirmou que o conteúdo é falso.

“A Secom lamenta que, em vez de se pautarem pela verdade, determinados agentes escolham propagar conteúdos distorcidos para confundir e manipular a opinião pública”, disse o órgão.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova?

Conteúdo foi publicado por conta no TikTok que afirma compartilhar “notícias reais bombásticas”.

O perfil apresenta vídeos narrados por inteligência artificial com histórias sobre Lula, Jair Bolsonaro, Donald Trump, Alexandre de Moraes e outros nomes da política.

Vídeos têm tom alarmante sobre supostos discursos que “pegaram as pessoas de surpresa”.

Os conteúdos não apresentam fontes e geralmente terminam com uma chamada para a segunda parte da história.

O perfil conta com 62 mil seguidores. Até o momento em que esta verificação foi publicada, o vídeo analisado apresentava 220 mil visualizações.

Procurado, o perfil não respondeu à tentativa de contato do Comprova.

O uso da inteligência artificial na narração dos vídeos pode ser detectado pela voz robótica e, no caso do post verificado, o Comprova também fez análises com uso dos programas InVid-WeVerify e Hive Moderation.

Ambas apontaram o uso de IA no áudio: segundo a primeira, há 99% de probabilidade de a voz ter sido criada digitalmente, e, a segunda apontou 83,8% de chance.

É importante alertar que plataformas de detecção como essas são passíveis de erro, mas em conjunto com outras evidências ajudam a identificar conteúdos manipulados.

Por que as pessoas podem ter acreditado?

O vídeo investigado usa imagens reais do presidente para ancorar insinuações feitas na narração e nas legendas, mas não faz referência a nenhuma coletiva ou fonte oficial, o que configura uma tentativa de manipulação de evidências e imitação de uma notícia para parecer convincente.

Além disso, o vídeo utiliza linguagem emocional e alarmismo (“nossos jovens irão lutar”, “crise sem precedentes”, “o clima esquentou em Brasília”) para provocar medo e indignação, estimulando uma reação emocional em vez de racional.

Há também uma clara exploração de viés cognitivo de confirmação, ao sugerir uma narrativa sensacionalista que pode reforçar crenças pré-existentes em setores críticos ao governo.

O uso de perguntas retóricas e o formato em “capítulos” também remete a uma estratégia de inundação informacional e engajamento com o objetivo de manter a atenção do público e amplificar a disseminação do conteúdo.

Fontes que consultamos

Reportagens sobre a Cúpula do G7 e a guerra entre Irã e Israel, pronunciamentos oficiais do presidente, contato com a Secom e análise dos detectores de IA Hive Moderation e Invid-WeVerify.

Por que o Comprova investigou essa publicação?

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento.

Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema

O Comprova já desmentiu que o Brasil tenha enviado urânio para o Irã.

A agência Aos Fatos também checou e mostrou que é falsa a informação de que Lula vai enviar tropas para atuar na guerra.

Já o Boatos.org listou quatro peças de desinformação que têm circulado sobre a relação do Brasil com o conflito.

A checagem foi publicada em 26 de junho de 2025 pelo Comprova — coalizão formada por 42 veículos de comunicação que verifica conteúdos virais.

A investigação foi conduzida pelo Folha de S. Paulo e Correio Braziliense, e o conteúdo também passou por verificação de Jornal do Commercio, NSC Comunicação e Correio Braziliense.

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