Argentina tenta atrair brasileiros após queda histórica no turismo
Com queda de 44% no número de brasileiros, governo tenta atrair turistas de volta com promoções e foco em cultura e gastronomia

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Em meio a um dos ajustes fiscais mais duros de sua história recente, o governo argentino busca reverter um dos efeitos colaterais mais sentidos pela economia real: a forte queda na chegada de turistas estrangeiros, especialmente os brasileiros.
De acordo com dados da plataforma Panrotas, o número de brasileiros que visitaram a Argentina no início de 2025, caiu 44% em relação ao mesmo período do ano anterior. O Brasil, que historicamente lidera o ranking de visitantes estrangeiros no país, passou a registrar um fluxo bem menor desde que o presidente Javier Milei assumiu o cargo, em dezembro de 2023.
Na época, a desvalorização do peso argentino tornava o país extremamente atrativo para quem ganhava em reais, dólares ou euros — e o chamado “turismo de oportunidade” florescia. Mas a virada econômica começou em janeiro de 2024, com a publicação de um pacote de desregulamentações e reformas econômicas. Desde então, a inflação acelerada e a valorização do peso encareceram os preços para os visitantes estrangeiros.
Só em maio de 2025, último mês com dados disponíveis, cerca de 315 mil turistas visitaram a Argentina, uma queda de 10% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Ao mesmo tempo, mais de 752 mil argentinos cruzaram a fronteira para os países vizinhos, 93% deles em direção ao Brasil.
Governo argentino aposta em novo perfil de turista
Diante da baixa, o governo de Javier Milei tenta reposicionar a Argentina no mercado internacional, especialmente entre os brasileiros.
Em uma apresentação realizada em São Paulo para empresários do setor, jornalistas e influenciadores de viagem, o secretário de Turismo da Argentina, Daniel Scioli — ex-vice-presidente kirchnerista — apresentou um pacote de incentivos com o objetivo de impulsionar a ida de brasileiros ao país neste inverno. Ele defendeu a nova estratégia. “Antes víamos brasileiros atravessando a fronteira apenas para comprar vinho e voltar. Hoje buscamos um turista mais sólido, que consuma experiências completas”.
Segundo Scioli, o foco agora está na promoção de produtos culturais e gastronômicos, com ênfase em vinhos, carne argentina e turismo de inverno. Os Estados Unidos já ultrapassaram o Brasil como principal origem de turistas para Buenos Aires — reflexo da busca por um visitante que consome mais e permanece por mais tempo no destino.
O peso mais caro e o fim do “paraíso turístico”
Se antes a Argentina era vista por muitos brasileiros como um destino barato e sofisticado, a valorização do peso reverteu essa imagem. Com inflação acumulada de mais de 120% e salários internos reajustados, os custos de refeições, hospedagens e transporte, tornando o país caro para os estrangeiros e deixando de ser visto como o “paraíso turístico” de anos anteriores.
Segundo especialistas, o novo cenário ainda esbarra em outro desafio: os “dólares do colchão” — expressão local que refere-se ao hábito de guardar dólares fora do sistema financeiro argentino — prática enraizada desde a crise de 2001. Estima-se que US$ 252 bilhões estejam fora de circulação, segundo dados de 2024.
Milei lançou medidas para incentivar que esses dólares voltassem à economia, mas o resultado foi o oposto: muitos argentinos decidiram gastar esse dinheiro em viagens ao exterior, principalmente no Brasil. “Por que comprar roupas na Argentina com dólar, se é possível ir ao Chile ou ao Brasil e comprar o dobro?”, questiona Fabio Rodriguez, analista de turismo e economia.
Brasil como concorrente e aliado
O Brasil, neste novo xadrez turístico, ocupa posição dupla: é ao mesmo tempo o principal destino para os argentinos e o alvo de reconquista da diplomacia turística de Buenos Aires. A diferença cambial, no entanto, tem dificultado o retorno em massa dos brasileiros ao país vizinho.
Ainda assim, a Argentina aposta que, com promoções aéreas, maior divulgação e um novo posicionamento de marca — voltado à cultura, gastronomia e hospitalidade — será possível atrair um perfil mais qualificado de viajante brasileiro.
Voos para a Argentina e parcerias com estados brasileiros
O encontro conduzido pelo secretário de Turismo da Argentina, Daniel Scioli, também contou com representantes da Aerolíneas Argentinas, que anunciou promoções exclusivas para brasileiros: voos diretos de São Paulo a Buenos Aires por US$ 160, com possibilidade de adicionar destinos internos, como Córdoba, por mais US$ 50.
A iniciativa faz parte de um esforço coordenado entre governo e setor privado para revitalizar o turismo receptivo. Antes da ação em São Paulo, representantes argentinos passaram pelo Uruguai com a mesma proposta.
Além disso, recentemente, a LATAM Airlines anunciou que voltará a operar a rota entre o Recife, capital de Pernambuco, e Buenos Aires a partir de 20 de dezembro de 2025. O relançamento da rota faz parte da estratégia da LATAM de expandir sua presença no Estado, onde já realiza cerca de 100 voos semanais. A medida conta com apoio da Embratur e do Governo do Estado, por meio da Empetur, com foco no fortalecimento do turismo internacional na região.
O voo será realizado semanalmente em aeronaves Airbus A320, com capacidade para 174 passageiros. Com isso, a companhia passa a oferecer 10 conexões diretas entre Brasil e Argentina, consolidando-se como uma das principais operadoras da rota sul-americana.
A nova operação reforça o turismo regional e amplia a presença da LATAM na América do Sul. Apenas entre janeiro e abril de 2025, Pernambuco recebeu mais de 27 mil turistas internacionais por voos diretos — número que ultrapassou 100 mil considerando chegadas e partidas no período.
Com informações do Estadão Conteúdo.
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