Sport 75: Há 50 anos, Leão encerrava domínio dos rivais e redimia uma geração com a conquista do Campeonato Pernambucano
Conquista estadual está entre as mais importantes e simbólicas da história rubro-negra, que atravessou um período doloroso entre as décadas de 60 e 70
O Sport se orgulha de ser o clube com mais conquistas de Pernambuco. Sejam estaduais, regionais ou nacionais, a maior quantidade de títulos pertencem ao Leão da Praça da Bandeira.
De 2001 pra cá, foram disputados 25 Campeonatos Pernambucanos, e quase metade deles foram conquistados pelo Sport, que ergueu o troféu em 12 dessas oportunidades, mesma quantidade de Santa Cruz e Náutico somados no período que engloba também a conquista do Salgueiro em 2020.
No total, o Leão soma 45 títulos estaduais contra 29 da Cobra Coral e 24 do Timbu. Isso sem falar nas conquistas da Copa do Nordeste, da Copa do Brasil de 2008 e do Brasileirão de 1987.
A hegemonia rubro-negra no estado é o "status quo" com o qual os torcedores nascidos no século XXI estão habituados.
Mas, nem sempre foi assim. Entre os anos de 1963 a 1974, o Sport viveu um período bastante doloroso em sua história. Além do jejum de títulos de 12 anos, o rubro-negro colecionaria vice-campeonatos e assistiria "de dentro do campo" o Hexa alvirrubro e o Penta tricolor.
Se hoje as atuais gerações se vangloriam das conquistas nacionais e até menosprezam o campeonato estadual, a Velha Guarda rubro-negra sabe o peso que o título do Campeonato Pernambucano de 1975, que completa 50 anos, tem para a história do clube.
Sport campeão pernambucano de 1975; o título que redimiu uma geração de rubro-negros e pôs fim ao domínio de Náutico e Santa Cruz
De protagonista a coadjuvante nas conquistas dos rivais
De 1915, quando foi disputada a primeira edição, a 1962, o Leão venceu 19 títulos do Campeonato Pernambucano sendo, tal como nos dias atuais, plenamente hegemônico em relação aos 9 títulos do Santa Cruz e os 8 do Náutico, não tão distantes do América, seis vezes campeão.
Mas, de 1962 a 1974, o Leão foi incapaz de rugir, viveu seu maior jejum de títulos estaduais e, se não bastasse, viu os rivais emplacarem duas sequências avassaladoras.
Hexa do Náutico: seis vices consecutivos e sequência de títulos superada
Entre 1963 e 1968, o torcedor alvirrubro não deixa ninguém esquecer, o Náutico conquistou o inédito e até hoje exclusivo hexacampeonato.
Todos, sem exceção, conquistado em finais contra o Sport.
Detalhe: o Leão era o único tricampeão. Se hoje o "Hexa é luxo", o Tri quem o era até os anos 60.
Literalmente de dentro do campo, o Sport viu o Timbu igualar, superar e ampliar o seu recorde.
O Penta do Santa Cruz: Jejum consolidado e vantagem de títulos "pulverizada"
Em 1969, o Leão chegou novamente à Final, desta vez contra o Santa Cruz, que não conquistava a taça há 10 anos e que tinha ampla desvantagem em decisões contra o rubro-negro (6 x 2).
O resultado? Nova derrota, novo vice-campeonato. De quebra, aquela conquista seria a primeira na sequência do Pentacampeonato tricolor, que tornaria o Tri rubro-negro ainda mais devastado.
Terceiro colocado em 1970, o Leão voltou à decisão em 1971, apenas para iniciar uma nova sequência de vices, ficando atrás do Santa em 1972 e 1973, voltando a ficar de fora da decisão em 1974.
Doze anos de jejum, 10 vice-campeonatos. Náutico hexa, vice-campeão brasileiro e sendo pioneiro na Libertadores. Santa Cruz penta...
Uma hegemonia de títulos que era de 19 x 9 x 9 foi dissolvida para um equilíbrio de 19 x 15 x 14.
Era preciso fazer alguma coisa.
"Sport 75 vinte vezes campeão"
Então com 40 anos de idade, o senhor Jarbas Guimarães foi eleito para ser presidente do executivo rubro-negro.
A sua gestão começou de forma ousada, com o slogan "Sport 75 vinte vezes campeão".
"Prometendo o título, ao mesmo tempo divulgava que, embora os 12 anos de jejum, mesmo assim o clube (Sport) detinha o maior número de títulos de campeão", confidencia o próprio Jarbas Guimarães em carta enviada à nossa reportagem.
Com problemas na estrutura da Ilha do Retiro, incluindo falta de gramado e iluminação precária, o Sport iniciou o ano de 1975 disputando os amistosos no estádio do Santa Cruz.
Para jogar na Ilha no segundo turno, o Leão da Praça da Bandeira fez grande esforço, concluindo a drenagem do gramado e importando grama direto da Inglaterra.
A iluminação também não ficou para trás e com ajuda do ministro da educação da época, Ney Braga, o Sport conseguiu uma iluminação de 2.000 lux, com direito à Fake News plantada dizendo que astronautas teriam indagado à NASA de onde vinha aquela iluminação tão forte.
Formação do elenco: O "Supertime da Ilha" com Dadá Maravilha
Mais urgente que a iluminação, quem precisava brilhar era o time do Sport. E para tal, o clube foi assertivo no mercado, contratando o treinador Duque, até então seis vezes campeão pernambucano, e que indicou ao presidente quatro jogadores de cada posição.
"Todos ganhadores", era a exigência rubro-negra, que contratou todos os "número e 1 e 2" de cada posição na lista de preferência do novo treinador.
A única exceção foi o Tobias. Vindo do Guarani, havia sido o melhor goleiro do Campeonato Paulista e vinha como indicação de Juca Paes, diretor de futebol do São Bento de Sorocaba e amigo de Jarbas Guimarães.
O nome mais destacado da lista entregue por Duque foi o de Dario, o Dadá Maravilha, campeão da Copa do Mundo com a Seleção Brasileira em 1970.
Dadá é, até hoje, uma das maiores contratações do futebol pernambucano.
Artilheiro, mas insatisfeito no Flamengo, o Sport tomou ciência de que o clube carioca não havia honrado o pagamento pela contratação do atacante junto ao Atlético-MG e interviu para contratar o Dadá em um acordo de pagamento parcelado em 24 meses.
O investimento valeu a pena. Dadá foi artilheiro do Campeonato Pernambucano com 32 gols e peça fundamental na conquista rubro-negra.
Intitulado pela imprensa de "Seleção do Nordeste", o "Supertime da Ilha" retomou a confiança do torcedor, perdoou dívidas de sócios inadimplentes e isentou a necessidade do pagamento da joia para novos associados, chegando ao impressionante número de 35.000 sócios adimplentes.
A campanha: Após título alvirrubro no 1° turno, Sport atropela adversários e conquista os dois turnos seguintes
No primeiro turno, o Leão terminou em 2° lugar, ficando apenas um ponto atrás do Náutico, amargando, embora se tratando apenas de um turno, mais um vice para o rival.
No segundo turno, o Sport encontrou o seu auge, emplacou uma sequência de vitórias e, comandado pelo talento e gols de Dadá Maravilha, se sagrou vencedor, feito que viria a se repetir no terceiro turno, garantindo ao Sport a vantagem do empate na decisão contra o Náutico.
Sport bate o Náutico nos Aflitos em jogo polêmico e encerra jejum
Apesar da tentativa rubro-negra de realizar o jogo no Arruda, em "campo neutro", o Náutico, que precisa vencer para provocar três partidas extras, não abdicou de jogar nos Aflitos.
Em campo, o Sport não quis saber da vantagem do empate e venceu por 1 x 0, gol marcado por Assis Paraíba aos 25 minutos da primeira etapa.
Até hoje o Timbu reclama da arbitragem de Sebastião Rufino que anulou um gol alvirrubro restando apenas 10 minutos para o apito final.
Resposta à reclamação alvirrubra e quase 100 gols marcados
Em resposta à reclamação do Náutico, o presidente rubro-negro argumentou que "ainda que o gol fosse validado, o Sport seria campeão, pois tinha vencido dois turnos e jogava pelo empate" e classificou as críticas alvirrubras como "choradeira de perdedores" na tentativa de ofuscar a conquista rubro-negra que marcou 91 gols naquele estadual, somando 25 vitórias, 7 empates e apenas uma derrota.
Vinte vezes campeão, o Sport tirava um peso grande das costas, ganhou quatro títulos nos 9 anos seguintes, reestabelecendo o equilíbrio em Pernambuco antes de voltar a deslanchar com o título brasileiro de 1987 e o Penta entre 1996 e 2000 e os demais títulos conquistados neste século.
Escalação base do Sport de 1975
O "Supertime da Ilha" geralmente entrava em campo com a seguinte formação:
- Tobias
- Marcos
- Pedro Basílio
- Alberto
- Cláudio Mineiro
- Luciano Veloso
- Perez
- Garcia
- Assis Paraíba
- Miltão
- Dadá Maravilha