"Recife Assombrado 2: A Maldição de Branca Dias" resgata mistérios que ecoam a capital pernambucana
Com elenco local e veteranos do cinema, o filme promete envolver o público com lendas e assombrações em um Recife pouco explorado nas telonas

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Não é novidade que o Recife é uma cidade que carrega nas ruas, becos e sobrados uma infinidade de camadas. O Recife também é memória e talvez, por ser um lugar de tanta intensidade, a cidade também se tornou terreno fértil para o imaginário popular: cada esquina parece esconder um segredo, cada sombra pode ser um convite ao desconhecido.
Entre essas histórias, as lendas urbanas ganharam a posição de patrimônio invisível, passando a compor a identidade da capital pernambucana tanto quanto os casarões do Centro ou as pontes sobre os rios. Fantasmas e mistérios se repetem nas fofocas e fazem parte do cotidiano, seja com humor, seja com temor. São esses elementos que inspiram "Recife Assombrado 2: A Maldição de Branca Dias", novo filme de Adriano Portela, que estreia em 23 de outubro.
A continuação mergulha ainda mais nesse universo, resgatando personagens míticos como a temida Perna Cabeluda e explorando a lenda de Branca Dias, figura histórica do século XVI perseguida pela Inquisição, agora transportada para uma narrativa que une suspense, memória e imaginação.
"Recife de fato é a grande personagem da nossa história. Eu, como todo recifense, sou apaixonado pela cidade e sempre quis mostrar essas histórias, essa história folclórica das nossas raízes, essa questão que vem da oralidade, que vem lá de trás, meio de um passado distante. De pessoas transmitindo as histórias dos fantasmas. Gilberto Freire já dizia que o Recife é uma Londres desgarrada dos trópicos", afirma o diretor.
O primeiro filme, intitulado Recife Assombrado, tem a marca de ser o pioneiro nos filmes de terror pernambucanos, além de também ser a primeira franquia cinematográfica do estado. Em uma pegada meio Hitchcock e um suspense inspirado em "O Babadook" e "A Bruxa", Adriano Portela pretende trazer um Recife para ser referência no gênero de terror na indústria da sétima arte.
"Eu quero que o Recife dê um recorte, de fato, nacional nesse gênero do terror, do suspense. Aqui tem muito mais coisa além do frevo e do bolo de rolo. Temos as nossas assombrações", diz Portela. "Há coisas no Recife que acontecem e ninguém sabe por que aconteceram. Às vezes até surge uma explicação, mas sempre insatisfatória diante da grandiosidade do acontecimento. Recortar o Recife é recortar como a capital mais assombrada do Brasil. E que de fato é".
A decisão do elenco de ser quase totalmente pernambucano traz uma veracidade e conexão ainda maior com o filme. Afinal, quem mais para entender e se sentir parte dos mistérios recifenses senão o próprio recifense? No segundo filme, o ator pernambucano Aramis Trindade será uma peça-chave na narrativa.
"Eu cresci ouvindo essas lendas, histórias do Recife Assombrado, a Perna Cabeluda, o Papa-Figo. Eu sou de 65, então nos anos 70 essas histórias eram muito presentes. Nos anos 80, com o teatro, eu ouvi falar de Branca Dias pela invasão holandesa. Então, para mim, é massa voltar para o Recife dessa forma: contando histórias e ouvindo quais fizeram parte da minha infância", comenta o ator sobre a participação no filme.
Ao revisitar essas memórias, ele ressalta como a arte tem o poder de unir passado e presente, resgatando lembranças pessoais e coletivas que moldam a identidade do Recife. Nesse processo, histórias de vida também se misturam à ficção, criando espaço para homenagens que tornam a obra ainda mais significativa.
"Adriano me colocou para fazer um personagem que é uma homenagem a um amigo nosso: Joca. Ele foi funcionário do Teatro Santa Isabel, iluminador e depois administrador por muito tempo. Joca sempre dizia para mim e para Adriano: 'Quando eu morrer, vou assombrar aqui, vou assombrar as pessoas'. Ele também falava que ouvia o piano tocar lá atrás. Adriano colocou isso no filme, e o meu personagem fala justamente essas coisas, como se fosse Joca", comenta.
Para o ator, esse gesto ultrapassa a ficção e se torna também um reencontro afetivo. Ao trazer para a tela as falas e memórias de alguém tão querido, o cinema ganha um papel de preservação da lembrança.
"A vida imita a arte, e a arte imita a vida. Eu fiquei um pouco emocionado lembrando dele, mas é massa também, porque se não tiver emoção, não vale a pena. Acho que a arte precisa surpreender e emocionar. Pode ser um filme, uma peça, uma escultura, uma música… Se surpreende e emociona, já prende a gente", finaliza Aramis.
E é com essa emoção que atores de outros lugares do Brasil também se interessam pela temática e pelo próprio Recife. Vitória Strada é uma personagem adicionada à continuação do longa-metragem e sempre demonstrou um enorme carinho com a cidade. Quando surgiu a oportunidade de trabalhar em um filme gravado em solos pernambucanos, a atriz não pensou duas vezes antes de aceitar.
"Receber esse convite foi muito especial. Recife tem uma força cultural única, é uma cidade que respira história, arte e tradição, então poder mergulhar nesse imaginário e dar vida a uma narrativa que dialoga com as lendas locais foi um privilégio. Eu fiquei muito feliz em poder unir minha profissão com essa oportunidade de conhecer mais de perto um universo tão rico e cheio de simbologia", expõe a atriz.
Para Vitória, essa experiência foi ainda mais desafiadora por se tratar do gênero terror, que exige uma entrega intensa e muito cuidadosa. Ao mesmo tempo em que ela se encantava com a riqueza cultural e simbólica de Recife, precisava se concentrar em construir emoções diferentes do que a atriz já estava acostumada em outros filmes e novelas que participou.
"O terror exige uma entrega diferente, porque não é só sobre contar uma história, mas é também sobre criar sensações muito específicas no público: medo, tensão, expectativa. É um gênero que trabalha muito com o invisível, com o que não é mostrado. Para mim, esse foi o grande desafio: transmitir essas emoções de forma verdadeira, sem cair no exagero, mas mantendo a intensidade que a trama pede", explica Vitória. "Eu assisti a muitos filmes do gênero para ir entrando no clima do filme. Me cercar de referências foi fundamental. Também busquei um preparo tanto físico quanto emocional. Mas, principalmente, confiei na direção e na atmosfera que a equipe criou, tanto da preparação como nas filmagens, o que me ajudou muito a entrar no clima da história".
Todo esse cuidado e preparação ajudou Vitória a entrar no clima do filme e a transmitir as emoções necessárias para a história. Ela afirma que buscava respeitar o contexto cultural de Recife, conectando a narrativa ao lugar e à atmosfera, de forma que o público pudesse se envolver de maneira autêntica com o longa.
"Espero que eles se sintam representados e que vejam o filme como uma homenagem à força cultural de Recife. Mais do que isso, quero que embarquem na trama com a mesma entrega que tivemos durante as gravações, sentindo orgulho de ver suas histórias sendo contadas no cinema. Se conseguirmos despertar emoção, arrepio e reflexão ao mesmo tempo, já teremos cumprido a nossa missão", diz.
Com essa mistura de lenda, memória e emoção, "Recife Assombrado 2: A Maldição de Branca Dias" promete não apenas assustar, mas também reforçar a força cultural do Recife como cenário de histórias únicas e inesquecíveis. O longa, dirigido por Adriano Portela, chega aos cinemas no dia 23 de outubro, convidando o público a mergulhar novamente nos mistérios da capital mais assombrada do Brasil.