Pandemia não agravou sintomas de TOC como se imaginava, apontam estudos
Pesquisas recentes mostram que o estresse da COVID-19 impactou pacientes com TOC de forma semelhante a outros transtornos, contrariando suposições.

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No início da pandemia, muitos especialistas temiam que a obsessão por limpeza e o medo de contaminação incentivados pelas medidas sanitárias agravassem os casos de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
No entanto, evidências científicas mais recentes vêm apontando que o impacto real da pandemia sobre pessoas com TOC foi menos direto do que se esperava.
Pesquisadores da Universidade de Melbourne analisaram dados de diversos grupos e chegaram à conclusão de que não há indícios de que a COVID-19 tenha agravado os sintomas de TOC de forma mais intensa do que em outros transtornos mentais, como ansiedade e depressão.
O que é TOC e por que foi associado à pandemia
O TOC é caracterizado por obsessões, que são pensamentos intrusivos e repetitivos, e compulsões, que podem ser ações físicas ou mentais usadas para neutralizar a ansiedade causada por esses pensamentos.
Subtipos de TOC mais comuns:
- Contaminação: obsessão com limpeza e higiene;
- Responsabilidade excessiva: medo de causar danos a si ou aos outros;
- Simetria: necessidade de manter tudo organizado ou “do jeito certo” de maneira compulsiva;
- Pensamentos tabus: ideias violentas, sexuais ou religiosas, muitas vezes não faladas.
Durante a pandemia, era esperado que pessoas com o subtipo de contaminação apresentassem maior piora, dado o reforço das práticas de higiene.
Mas os estudos indicam que o que realmente afetou esses pacientes foi o estresse global, não necessariamente o medo do vírus em si.
O estresse como gatilho principal
Segundo os pesquisadores, a elevação dos sintomas durante a pandemia foi uma resposta ao estresse generalizado, e não especificamente às diretrizes de saúde pública. Pessoas que já conviviam com TOC ou outras condições emocionais apresentaram reações semelhantes.
Um dos estudos avaliou pacientes com TOC antes e durante a pandemia e observou que o aumento dos sintomas ocorreu em todos os subtipos, e não apenas nos ligados à contaminação.
Outro estudo, realizado na Índia, revelou que o tratamento dos pacientes com TOC não perdeu eficácia durante a pandemia, mesmo com as mudanças na rotina.
O que influenciou recaídas
Entre os fatores que mais contribuíram para recaídas estavam:
- Casos de TOC que já não estavam bem controlados
- Níveis altos de estresse pessoal ou familiar
- Dificuldades em flexibilizar pensamentos e comportamentos
O que esperar após a pandemia
Embora o TOC não tenha sido agravado de forma específica pela pandemia, a dificuldade de "desaprender" hábitos temporários de segurança pode ser um desafio para muitos pacientes, principalmente os que lidam com rigidez cognitiva, uma característica comum do transtorno.
A boa notícia é que os tratamentos seguem eficazes e que o avanço da ciência vem contribuindo para uma visão mais ampla sobre o TOC.
Entender sua diversidade e combater os estigmas são passos fundamentais para garantir acolhimento e cuidados adequados.
Com informações do The Conversation.