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Mulheres ainda enfrentam barreiras para ocupar cargos de liderança no Brasil

Estudos revelam aumento tímido no percentual de mulheres em cargos de alta gestão em empresas de médio porte entre 2023 e 2024

Por Júlia Nascimento Publicado em 18/07/2025 às 10:34

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Apesar de avanços graduais, a presença feminina em cargos de alta gestão ainda é limitada, especialmente no Brasil.

O relatório Women in Business 2024, da Grant Thornton International, mostra que apenas 33,5% das posições de liderança em empresas de médio porte ao redor do mundo são ocupadas por mulheres, uma alta de 1,1 ponto percentual em relação a 2023 (32,4%).

Embora esse seja o maior percentual já registrado desde o início da pesquisa, o dado ainda revela que apenas uma em cada três posições de liderança é ocupada por uma mulher

No cenário brasileiro, os desafios são ainda maiores. De acordo com a pesquisa Panorama Mulheres 2025, realizada pelo Instituto Talenses Group em parceria com o Insper, entre as 310 empresas analisadas, apenas 39 das 224 com presidência formalizada são comandadas por mulheres, o equivalente a 17,4%.

O dado revela uma estagnação preocupante na presença feminina nas lideranças corporativas do país.
Para Luciana Almeida, consultora e sócia da TGI, especialista em liderança organizacional, a desigualdade de gênero nas empresas tem raízes profundas.

“Historicamente, as mulheres foram condicionadas a priorizar a vida doméstica, o cuidado familiar e o amor romântico, muitas vezes em detrimento de suas ambições profissionais. Essa construção social ainda persiste, influenciando desde a infância a forma como meninas enxergam seu lugar no mundo”, afirma.

Segundo ela, na vida adulta, as competências das mulheres continuam sendo frequentemente questionadas, seja pela maternidade ou pela suposição de que não são tão técnicas quanto os homens. “Mesmo mais preparadas academicamente, muitas vezes recebem menos investimento em capacitação e têm acesso limitado a oportunidades de crescimento”, completa.

Embora setores como saúde, educação e empreendedorismo em serviços tenham registrado avanços, a presença de mulheres nas principais cadeiras de decisão ainda é reduzida. “E, quando chegam lá, muitas vezes é por caminhos paralelos, como o empreendedorismo, que oferece maior flexibilidade — embora enfrente obstáculos como o acesso restrito ao crédito. Soma-se a isso o impacto emocional da chamada ‘síndrome da impostora’, que leva muitas profissionais a duvidarem da própria capacidade, mesmo quando plenamente qualificadas”, explica Luciana.

Para a consultora, mais do que uma questão de justiça, ter mulheres em cargos de gestão é uma estratégia de negócio. “Lideranças femininas tendem a fomentar culturas mais inclusivas, promover equilíbrio emocional nas equipes e estimular a inovação”.

Segundo ela, a equidade de gênero nas empresas deve ser tratada como uma meta estratégica. “É preciso estabelecer objetivos claros de equidade no planejamento organizacional; criar programas de desenvolvimento e mentoria voltados para mulheres; adotar políticas como vagas afirmativas; além de promover transparência nos critérios de promoção, licença parental igualitária e apoio à parentalidade — como a oferta de creches”, conclui.

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