Reforma administrativa enfrenta resistência no Judiciário, avalia economista
Em entrevista à Rádio Jornal, Werson Kaval afirma que "exemplo deve começar por cima" e critica privilégios do sistema de Justiça

O economista e especialista em gestão pública Werson Kaval afirmou nesta terça-feira (8), em entrevista ao programa Passando a Limpo da Rádio Jornal, que o Brasil ainda tem dificuldade em promover uma reforma administrativa que alcance todos os poderes.
Segundo ele, a resistência em “cortar na própria carne”, ou seja, abrir mão dos próprios privilégios em nome do interesse coletivo, é um dos maiores entraves para tornar o serviço público mais eficiente.
“Nós percebemos as dificuldades de ter uma agenda única, de fazer com que os recursos financeiros do país sejam mais eficientes e busquem uma reforma que realmente atenda toda a coletividade, como deveria ser o serviço público”, disse Kaval.
Declaração de Fachin
Ele comentou a declaração do ministro Luiz Edson Fachin, que afirmou que “ninguém pense que fará reforma contra o Judiciário”. Para Kaval, o discurso reflete a resistência do setor em abrir mão de privilégios.
“Quando o Fachin fala uma situação dessa, é como se dissesse: nós somos um poder harmônico, mas independente de vocês. É um tribunal que custa quase um bilhão de reais por ano ao país, sendo que 40% desse valor são penduricalhos, ou seja, diárias, viagens e gratificações que 99,99% dos brasileiros não recebem.”
O economista destacou que o problema não está no número de servidores, mas na eficiência do funcionalismo público. Para ele, o Brasil tem menos servidores públicos que a maioria dos países desenvolvidos, como Inglaterra e Estados Unidos. O problema seria o peso desse funcionalismo e a sua eficiência.
Ele também questionou benefícios considerados excessivos, como a necessidade do servidor público ter 60 dias de férias, gratificações, entre outros. "É uma série de situações que, se não são ilegais, passam a ser imorais diante do nível de desigualdade que a gente tem no país. Esse exemplo tem que começar por cima e não por quem está embaixo.”
Conselho Nacional de Justiça
Kaval defendeu que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) deveria liderar o debate sobre a modernização do Judiciário.
“Apesar de o CNJ fazer toda a administração da Justiça brasileira, a iniciativa deveria vir de lá. É interessante que as diretrizes venham do CNJ e que ele verifique todo esse contexto, para ser o primeiro a levantar e dizer: não vai ser dessa forma, vamos todos conversar e ter uma mesma agenda, para a gente chegar a algum ponto em comum", afirma.
Ao citar exemplos práticos, o economista criticou casos de gastos considerados abusivos. Ele relembra que, em dezembro de 2024, o Tribunal de Justiça do Mato Grosso liberou dez mil reais de cesta básica para todos os seus servidores. Reforçando que o fato revela o descuido e a falta de cuidado com as contas públicas, com os recursos, e até com a sociedade.
Para Kaval, a reforma administrativa só será efetiva se houver vontade política e compromisso conjunto entre os poderes.