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Diálogo Lula-Trump retoma relações após tarifaço dos EUA

Conversa por videoconferência marca "passo importantíssimo" na diplomacia bilateral e foca em interesses comerciais, superando temores ideológicos

Por Kevin Paes Publicado em 08/10/2025 às 16:25

A retomada do diálogo entre o Brasil e os Estados Unidos, marcada pela recente conversa entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, representa um "passo importantíssimo" após a imposição de um severo aumento de tarifas pelo governo norte-americano. O encontro, realizado por videoconferência (através de um aplicativo como o Zoom), veio após um longo período de ausência de negociações e foi costurado em sigilo, surpreendendo a população ao ser anunciado apenas após sua realização.

Confira a coluna na íntegra:


O contexto da tensão econômica e o encontro secreto


A tensão comercial escalou a partir de janeiro, quando Donald Trump assumiu seu segundo mandato. Em abril, os Estados Unidos aumentaram em 10% a tarifa para produtos importados globalmente. No entanto, a medida mais impactante para o Brasil ocorreu em agosto, com a imposição de uma sobretaxa extra de 40% sobre um grande número de produtos brasileiros.


Como resultado, a maioria dos produtos brasileiros hoje enfrenta uma sobretaxa total de 50% ao ser importada pelos Estados Unidos, encarecendo os bens e dificultando a exportação. O professor e economista Sandro Prado aponta que essa medida foi abrupta, intempestiva e carente de uma base econômica ou comercial clara, sugerindo que o ímpeto era, talvez, político e ligado a questões da justiça brasileira.


Apesar de a conversa recente não ter sido um encontro pessoal, ela foi precedida por negociações prévias entre diplomatas e assessores, preparando o terreno para o diálogo entre os líderes. O encontro, que teve uma expectativa de finalização muito boa, reacendeu o interesse em um contato presencial. Os líderes, ambos de uma geração mais velha, desejam um encontro "tete a tete" para apertar as mãos e sentar, olhando um para o outro. Tais encontros poderiam ocorrer na COP 30, para a qual Lula convidou Trump, em uma viagem de Lula aos EUA, ou em um grande evento na Ásia.


Foco nos interesses comerciais supera ideologias


A designação de Marco Rubio, chefe da diplomacia norte-americana, para conduzir as negociações com as autoridades brasileiras gerou "temeridade", visto que ele é conhecido por ser radical em seus posicionamentos ideológicos e historicamente contra o presidente Lula.
Entretanto, o professor Sandro Prado não acredita que a presença de Rubio prejudicará as negociações. Rubio é um empregado de Donald Trump e não possui autonomia para contrariar o chefe, como foi visto no caso de Elon Musk, que teve um atrito e se distanciou de Trump. As negociações são fundamentalmente econômicas e comerciais.


O especialista reforça que os interesses de Donald Trump no Brasil são primordialmente comerciais e econômicos. Não se trata apenas de uma questão política, pois Trump impôs tarifas de 50% até mesmo à Índia, cujo líder é ideologicamente alinhado a ele. Trump não pode se dar ao luxo de aplicar sanções a todos os países com os quais não tem afinidade política (como Rússia ou China), pois teria que "ficar de mal com muita gente".


Balança comercial em recorde e isolamento de Eduardo Bolsonaro


Curiosamente, o "tarifaço" imposto pelos EUA não resultou no desastre econômico que se esperava. A exportação de carne bovina do Brasil, por exemplo, bateu um novo recorde em setembro. O Brasil também alcançou um recorde na balança comercial.


A reação do mercado mundial à sanção americana foi de apoio ao Brasil, levando o país a aumentar as exportações para outros mercados, como o México. O sucesso em encontrar novos mercados rapidamente demonstra que, embora os EUA continuem sendo "muito importantes" para a economia brasileira, eles não são mais "extremamente importantes" como eram no passado.


As tarifas têm prejudicado não apenas a economia brasileira, mas "também e muito os norte-americanos", que estão pagando mais caro por produtos brasileiros, como o café.


A facilidade de contato restabelecida entre Lula e Trump contraria totalmente os interesses do deputado federal Eduardo Bolsonaro. O filho do ex-presidente, que está nos Estados Unidos, tem atuado para que o país aplique sanções (inclusive militares) contra o Brasil, buscando uma interferência do executivo americano sobre o judiciário brasileiro. O professor avalia que tal interferência é improvável e que, com o diálogo retomado, Eduardo Bolsonaro está agora "ilhado" e perdendo poder. O futuro político de Jair Bolsonaro também está "muito fragilizado" após a tentativa de golpe de estado.

*Texto gerado com auxílio de IA a partir de conteúdo autoral da Rádio Jornal com edição de jornalista profissional

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