Rússia propõe sistema de pagamentos lastreado em ouro no BRICS e acende alerta nos EUA
Proposta busca reduzir dependência do dólar, mas especialista alerta para riscos de isolamento e falta de reservas

Poucos meses após reforçar sua aproximação com os países do BRICS, a Rússia voltou a gerar preocupação no sistema financeiro global. O motivo é a retomada da proposta de criar um sistema de pagamentos internacionais lastreado em ouro dentro do bloco — formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e que vem ampliando sua composição com novos integrantes.
Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta terça-feira (19), o advogado e procurador aposentado do Banco Central, Flávio Maia, analisou os possíveis impactos e motivações por trás da iniciativa russa.
Tentativa de driblar o dólar
Segundo Maia, a proposta da Rússia tem como principal objetivo reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais e contornar sanções impostas pelos Estados Unidos, como a exclusão do sistema SWIFT — principal plataforma global de pagamentos bancários. “A Rússia começa a usar isso como instrumento político. Ao ser retirada do SWIFT, o país reage propondo uma alternativa”, explicou.
No entanto, o especialista alerta que, atualmente, os países do BRICS não têm reservas de ouro suficientes para garantir a estabilidade de uma nova moeda. "Se houver desconfiança quanto ao valor dessa moeda e uma corrida para trocá-la por ouro, os países não teriam como garantir esse resgate", destacou.
Dólar continua dominante
Apesar das críticas à política externa dos EUA, Maia afirma que o dólar segue como a principal moeda internacional por ser amplamente aceito e apoiado pela força da economia americana. “É a moeda aceita por todos. Você pode investir com segurança em títulos do Tesouro dos EUA. Até a China, principal rival econômica dos Estados Unidos, mantém uma grande reserva em dólares”, ressaltou.
Na visão do procurador aposentado, substituir o dólar exigiria um nível de adesão global difícil de ser alcançado, especialmente em curto ou médio prazo.
Risco de isolamento comercial
Além dos desafios técnicos, Maia alerta para o risco de que o BRICS acabe se isolando comercialmente ao tentar implantar um sistema fechado de pagamentos com moeda própria. “O Brasil vai importar fertilizantes da Rússia com a nova moeda. Mas como vai obter essa moeda? Exportando para países do BRICS. Isso fecha a economia. E com essa moeda, não conseguiríamos comprar, por exemplo, trigo do Canadá ou da Argentina”, exemplificou.
Embora tenha surgido como um grupo de cooperação entre economias emergentes, o BRICS tem se consolidado como uma aliança política que desafia a liderança global dos Estados Unidos.
Segundo Maia, esse movimento tem gerado reações. Como exemplo, citou tarifas impostas pelos EUA ao Brasil logo após uma reunião do BRICS no país.“Querendo ter força, você acaba se isolando. É o que pode acontecer com o Brasil e com os outros países em relação ao BRICS”, concluiu.
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