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Como Ciro Gomes desencadeou briga entre Michelle e os filhos de Bolsonaro

Ex-primeira-dama criticou deputado André Fernandes em evento de pré-candidatura de Eduardo Girão ao governo do Ceará por articular apoio do PL a Ciro

Por Estadão Conteúdo Publicado em 02/12/2025 às 18:03 | Atualizado em 02/12/2025 às 18:06

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A prisão de Jair Bolsonaro (PL) na Superintendência da Polícia Federal desencadeou uma nova crise interna na família e no bolsonarismo, que opôs a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro a seus enteados Carlos, Flávio e Eduardo e envolveu até mesmo e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PSDB).

A disputa começou no último domingo, 30, durante o lançamento da pré-candidatura de Eduardo Girão (Novo) ao governo do Ceará. No palco, Michelle Bolsonaro criticou o deputado André Fernandes (PL-CE) por ter articulado o apoio do PL a Ciro Gomes.

"Eu adoro o André, mas fazer aliança com o homem (Ciro) que é contra o maior líder da direita? Isso não dá. Nós vamos trabalhar para eleger o Girão", disse.

Após o evento, Fernandes rebateu, afirmando que a articulação com Ciro ocorreu com aval do próprio Jair Bolsonaro. "Infelizmente, a própria esposa do ex-presidente chega aqui e diz que fizemos uma movimentação errada, (sendo que) o próprio Bolsonaro pediu para ligar para o Ciro Gomes no viva-voz", afirmou.

Filhos de Bolsonaro reagem e defendem acordo

A fala de Michelle irritou os três filhos do ex-presidente. Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro se alinharam ao deputado cearense e afirmaram que o acordo com Ciro foi feito com o conhecimento do pai.

Em uma rede social na tarde da segunda-feira, 1.º, Carlos compartilhou uma reportagem que citava Flávio dizendo que Michelle havia "atropelado" Bolsonaro e escreveu: "Meu irmão está certo e temos que estar unidos e respeitando a liderança do meu pai, sem deixar nos levar por outras forças!".

Eduardo compartilhou a publicação de Carlos e disse que a ex-primeira-dama foi "injusta e desrespeitosa" com Fernandes. "Foi uma posição definida pelo meu pai. André não poderia ser criticado por obedecer o líder", afirmou.

À noite, o irmão de Michelle, Eduardo Torres, saiu em defesa da ex-primeira-dama. "Homens se levantam contra uma mulher que luta de joelhos. Minha irmã, eu não preciso fazer a sua defesa; basta olhar seus frutos e o histórico daqueles que a atacam", escreveu.

Michelle compartilha vídeos de Ciro criticando Bolsonaro e seus filhos

Nesta terça-feira, 2, a ex-primeira-dama publicou uma nota nas redes sociais dizendo respeitar a opinião dos enteados, mas destacou que pensa diferente e tem o direito de expressar seus pensamentos "com liberdade e sinceridade". "Peço aos meus enteados que me entendam e me perdoem. Não foi minha intenção contrariá-los', afirmou.

"Como ficar feliz com o apoio a candidatura de um homem que xinga o meu marido o tempo todo de ladrão de galinha, de frouxo e tantos outros xingamentos?", questionou.

Após divulgar a nota, Michelle publicou uma série de vídeos com ataques feitos por Ciro a Bolsonaro ao longo dos anos. Em entrevistas, ele o chamou de "genocida", "ladrão de galinha", "boçal" e "imitador de Trump".

Também há gravações com críticas aos filhos. "O Flávio comprou uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília, é um ladrão. Eu estou acusando ele de ser ladrão. Me processa para ver se eu não provo O Bolsonaro é ladrão, os filhos são ladrões, as ex-mulheres, tudo ladras", diz Ciro em um dos vídeos.

"Os imbecis fanáticos do bolsonarismo, a partir do filho que está lá nos Estados Unidos, acreditam mesmo que as relações do Brasil com os Estados Unidos darão alguma centralidade estratégica a essa questão?", questionou Ciro em outro trecho compartilhado por Michelle.

Flávio visitou novamente o pai nesta terça-feira, 2, e disse ter conversado com ele sobre o embate. Segundo o parlamentar, ele se desculpou com Michelle após chamá-la de 'autoritária".

Militância bolsonarista defende Michelle

Segundo levantamento da AP Exata, a militância bolsonarista saiu majoritariamente em defesa de Michelle após as declarações dos filhos, ampliando o desgaste interno. A aproximação do PL com Ciro seria, nos bastidores, uma decisão pragmática: o ex-governador não é bolsonarista, mas mantém forte apelo no Ceará, reduto eleitoral crucial.

Como mostrou a Coluna do Estadão, porém, alianças regionais têm provocado uma "guerra fratricida" entre grupos bolsonaristas nos Estados, com acusações de traição e disputas por espaço para 2026.

A postura firme de Michelle reacendeu na família a suspeita de que ela pode disputar um espaço maior no futuro, inclusive o de presidenciável. Hoje ela tem uma candidatura ao Senado bem encaminhada, mas integrantes do PL Mulher já defendem abertamente seu nome na disputa ao Planalto.

PL suspende aliança com Ciro Gomes após racha na família Bolsonaro

O Partido Liberal (PL) anunciou que suspendeu as negociações com uma aliança com o ex-presidenciável Ciro Gomes no Ceará após uma reunião convocada para colocar panos quentes na briga pública entre a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e os enteados Flávio, Carlos e Eduardo Bolsonaro.

 

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chamou a crise de "ruído" de comunicação, afirmou que um desentendimento do tipo não vai mais acontecer e que a articulação no Ceará está suspensa até que o partido encontre uma saída.

"(Houve) um ruído na nossa comunicação interna, já que as tratativas sobre todos os Estados do Brasil já vêm acontecendo, mas veio a público de forma muito prematura no Ceará", afirmou Flávio a jornalistas após a reunião.

Participaram da "lavagem de roupa suja", além de Flávio, Fernandes e Michelle, o presidente nacional Valdemar Costa Neto e o secretário-geral da sigla, o senador Rogério Marinho (RN).

Os bolsonaristas combinaram de discutir a composição das chapas e as alianças internamente a partir de agora para não levar questionamentos a público e causar novos rachas.

"Daqui para a frente, a gente vai fazer como tem que ser feito sempre: a gente conversar internamente com quem melhor conhece melhor a realidade regional. E pensar qual é a melhor forma de recolocar nosso projeto de país pra voltar a prevalecer a partir de 2027 e analisando cada cenário com muita calma. Não vai acontecer novamente", declarou.

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