Impacto da alta do poliester no Polo de Confecções do Agreste vira palco de disputa por protagonismo em Pernambuco
Oposição se apropriou da pauta e fez até o prefeito do Recife, João Campos (PSB), agir como pré-candidato e fazer apelo a Geraldo Alckmin
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A discussão em torno do possível aumento da taxa de importação de malhas de poliéster da China e outros países asiáticos, insumo vital para a indústria têxtil de Pernambuco, se transformou numa corrida por protagonismo entre lideranças do estado.
Isso porque a ameaça de encarecimento da matéria-prima impactaria diretamente o Polo de Confecções do Agreste do estado, forte pilar da economia da região, concentrado em Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe.
Embora a pauta seja do interesse direto do governo estadual, foi a oposição que rapidamente se apropriou da causa, mirando a visibilidade gerada ao tentar impedir um revés econômico na região.
O nome mais proeminente nesse movimento foi o do prefeito do Recife, João Campos (PSB). Potencial adversário da governadora Raquel Lyra (PSD) na disputa pelo governo do estado em 2026, Campos agiu, pela primeira vez, com a desenvoltura de um candidato ao governo.
A principal cartada do prefeito foi a articulação direta com o vice-presidente da República e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, que é filiado ao PSB, partido presidido nacionalmente por Campos.
Em conversa por telefone na última segunda-feira (20), João intercedeu em favor do polo pernambucano, alertando Alckmin sobre o risco para a competitividade do setor. "Reforcei que essa medida preocupa profundamente as empresas do segmento, em especial Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Caruaru, cujo dinamismo econômico depende diretamente desses insumos”, destacou o prefeito da capital.
Campos fez questão de frisar o risco da medida, argumentando que “o aumento de impostos sobre a matéria-prima importada traria um encarecimento imediato do insumo, elevaria a folha de custos de milhares de pequenas e médias confecções e, consequentemente, coloca em risco a manutenção de empregos na região”.
Em paralelo, o deputado federal Felipe Carreras (PSB), em iniciativa alinhada com o prefeito de Santa Cruz do Capibaribe, Helinho Aragão, enviou um ofício ao ministro Alckmin solicitando a reavaliação da proposta de aumento da alíquota, alegando que o aumento tarifário reduziria a competitividade e ameaçaria milhares de empregos.
"O setor têxtil e de confecções, intensivo em mão de obra e fundamental para a economia nacional, seria diretamente afetado em regiões como o Polo de Confecções do Agreste Pernambucano. O aumento dessa alíquota reduziria a competitividade e poderia impactar milhares de empregos formais e informais", disse o deputado.
Eduardo da Fonte representou o governo na disputa
Apesar de o governo estadual não ter se envolvido diretamente na negociação, coube ao deputado federal Eduardo da Fonte (PP), aliado de Raquel Lyra, representar o pleito junto ao MDIC. O parlamentar afirmou que agiu desde o início de outubro, enviando documentos a Alckmin pedindo a revisão da circular que propõe a cobrança da taxa antidumping.
Nos ofícios, Da Fonte argumentou que a aplicação imediata da taxa traz prejuízos à economia nordestina, especialmente ao Polo de Confecções, formado por micro, pequenas e médias empresas. Segundo o deputado, a medida pode contrariar o Decreto nº 8.058/2013, que regulamenta a aplicação de direitos antidumping, e a Lei da Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/2019), que exige análise de impacto regulatório antes da adoção de medidas restritivas ao comércio.
“Nosso apelo é pela proporcionalidade e razoabilidade. Precisamos proteger a indústria nacional, mas sem sufocar os arranjos produtivos locais que sustentam a economia do Nordeste. O diálogo técnico e o equilíbrio são fundamentais para garantir uma decisão justa e eficiente”, afirmou Eduardo da Fonte.
Projeto foi adiado
No final de agosto, o Comitê Executivo de Gestão da Camex (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) aplicou direito antidumping por até cinco anos sobre as importações de malhas sintéticas de poliéster, originárias da China, Índia, Tailândia e Vietnã, com validade de até cinco anos.
A medida, anunciada no Diário Oficial da União do dia 1º de setembro, visa proteger a indústria nacional de práticas de concorrência desleal.
A investigação que culminou na aplicação do antidumping foi iniciada em março de 2024, após denúncia de que as empresas dos países asiáticos exportavam as fibras de poliéster para o Brasil a preços inferiores aos praticados em seus mercados de origem, o que resultaria em prejuízo para o setor produtivo brasileiro.
De acordo com a resolução, o recolhimento do antidumping será feito por meio de alíquotas específicas, fixadas em dólares por tonelada, com valores diferenciados conforme os produtores e exportadores listados na resolução.
No dia 20 de outubro, o Gecex manteve a proposta na pauta, mas retirou a aprovação imediata.
Na Assembleia Legislativa de Pernambuco, o deputado estadual oposicionista Diogo Moraes (PSB), que tem forte base no Agreste, se manifestou. “Nós, que somos o maior polo de confecções do Brasil, obviamente poderíamos ter um problema sério com altos custos na nossa produção”, comentou.
Embora a pauta fosse de interesse de todo o estado de Pernambuco, a forma como a oposição encampou o tema é mais um reflexo da antecipação do debate político local, onde o capital eleitoral está sendo disputado a cada articulação em defesa da economia regional.
Preocupação na cadeia têxtil
Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta quarta-feira (22), o diretor de Planejamento do Núcleo Gestor da Cadeia Têxtil e de Confecções de Pernambuco (NTCPE), Wamberto Barbosa, destacou que a tarifa pode elevar os custos de produção no estado, dada a baixa produção regional da matéria-prima.
De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), apenas 6% da produção nacional de tecidos de base sintética concentra-se no Nordeste, o que torna a indústria pernambucana dependente da importação.
Ele pontuou que o que está aprovado em ata do Gecex é a "manutenção da pauta" junto ao órgão e a "proposta de aplicação de direito antidumping preliminar", mas a aplicação em si do direito antidumping ainda não foi efetivada. "A princípio nada muda para o setor daqui de Pernambuco", declarou o diretor.
Segundo Wamberto, o NTCPE, em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento do Estado, atua em 51 municípios pernambucanos onde a atividade têxtil e de confecções é adensada.
Para defender o polo produtivo, o Núcleo Gestor tem trabalhado no monitoramento desses processos, mantendo diálogo constante com a Agência de Desenvolvimento do Estado (Adepe) e com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).
O objetivo dessa articulação, segundo ele, é unificar as forças para defender o polo de confecções. "Todos os interlocutores que tiverem disponibilidade para trabalhar esse assunto junto com o polo de confecções serão assim, a gente vai sempre ter o maior prazer em acessar e juntar forças para que a gente possa defender esse importante segmento produtivo aqui no nosso estado", concluiu Wamberto Barbosa.