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Em retaliação, Lula demite indicados do Centrão e corta emendas

A ação é coordenada pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que confirmou a retirada, pelo governo, dos indicados políticos

Por JC Publicado em 14/10/2025 às 20:05

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*Com informações da Estadão Conteúdo

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) iniciou um movimento de retaliação e reestruturação de sua base política após a derrota sofrida na Câmara dos Deputados na semana passada, que resultou na não apreciação e consequente perda de validade da Medida Provisória (MP) 1303. Por ordem direta do presidente, ocupantes de cargos indicados por deputados que votaram contra o Palácio do Planalto começaram a ser exonerados.

A ação é coordenada pela ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, que afirmou ao Estadão que o governo está "tirando dos cargos os indicados por deputados que votaram contra a Medida Provisória 1303 porque precisamos reorganizar nossa base". "Quem votou contra optou por sair do governo", completou a ministra.

As demissões atingem indicados de partidos do Centrão, como PP, União Brasil, PSD, MDB e PL, em postos de comando em estatais e bancos como Caixa Econômica Federal, Correios e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), além de superintendências regionais do Ministério da Agricultura e do Dnit.

A Derrota da MP 1303
A MP 1303, considerada fundamental pela equipe econômica para fechar as contas do governo, propunha alternativas para evitar um aumento maior do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A medida, que taxava bancos, bets e ativos financeiros como LCIs e LCAs, foi retirada de pauta por um placar de 251 votos contrários a 193 favoráveis ao governo.

A aliança entre o PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, e o Centrão foi decisiva para o revés, fazendo a MP perder a validade.

A mensagem do Planalto

Gleisi Hoffmann negou que a medida seja uma "simples retaliação", mas sim uma forma de redefinir o apoio. "Queremos saber com quem podemos contar, quem realmente está com o governo, e isso vale para todos", disse ela, ressaltando que "o corte não é partidário, mas diz respeito ao comportamento do parlamentar que integra a base do governo nas votações".

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), admitiu que Gleisi foi orientada a "passar a faca" nos indicados dos parlamentares de oposição. "Será uma nova fase. Não é razoável o que aconteceu na votação da Medida Provisória 1303 e nunca é tarde para se tomar decisões", argumentou Guimarães.

Uma das primeiras baixas foi a superintendente do Iphan no Maranhão, Lena Brandão Fernandes, irmã do líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas (MA), que votou contra a MP. No núcleo da Caixa, foi demitido José Trabulo Júnior, consultor do presidente Carlos Vieira e aliado do senador Ciro Nogueira (PP-PI).

O presidente da Caixa, Carlos Vieira, indicado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), continua no cargo. Lira, ex-comandante da Câmara, se ausentou do plenário e não votou no dia da análise da MP 1303.

Centrão e 2026

As demissões ocorrem em meio aos movimentos do Centrão (União Brasil e PP) para construir uma candidatura de oposição a Lula em 2026. O nome preferido pelo grupo é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que, nos bastidores, atuou para derrotar o governo na votação da MP 1303, batizada pela oposição de “MP Taxa Tudo”.

Apesar das pressões, os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esporte), que são deputados licenciados e pré-candidatos ao Senado em 2026, decidiram permanecer no governo. Por isso, foram destituídos de suas funções partidárias pelo União Brasil e pelo PP, respectivamente.

O governo, no entanto, não deve mexer nos apadrinhados pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), como o ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, e Frederico de Siqueira Filho, no Ministério das Comunicações. O Planalto conta com o apoio de Alcolumbre para aprovar projetos importantes no Senado, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, vista como carro-chefe da campanha de reeleição de Lula.

CORTE DE EMENDAS

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta terça-feira (14) que irá despachar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre medidas fiscais quando ele voltar ao Brasil.

O petista havia sinalizado uma reunião para esta quarta-feira (15) com ministros para discutir alternativas a medida provisória que aumentava impostos sobre bets, papéis isentos do agro e o outros. A medida perdeu a validade ao não ser votada pelo Congresso.

O ministro disse que o montante a ser cortado de emendas parlamentares depende do cenário e da decisão de Lula, mas afirmou que pode ser até maior que R$ 7 bilhões.

 
 
 
 

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