Pentágono impõe novas restrições a jornalistas e exige aprovação prévia de informações
Medida também restringe a circulação da imprensa dentro da sede, designando grandes áreas como proibidas para circulação sem escolta

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O Departamento de Defesa dos Estados Unidos começou a exigir que os cerca de 90 jornalistas credenciados para cobrir a agência obtenham aprovação prévia para publicar qualquer informação relacionada ao Pentágono, confidencial ou não, sob risco de perder o acesso ao prédio.
A medida, comunicada na sexta-feira à noite por meio de um memorando de 17 páginas, também restringe a circulação da imprensa dentro da sede, designando grandes áreas como proibidas para circulação sem escolta, segundo informou O Globo.
O novo regulamento reflete mais um capítulo da tensão entre o governo do presidente Donald Trump e a imprensa tradicional, alvo constante de críticas do mandatário por considerar suas coberturas desfavoráveis.
No documento, o Departamento de Defesa afirma que "continua comprometido com a transparência para promover a responsabilização e a confiança pública". Entretanto, estabelece que informações do Pentágono "devem ser aprovadas para divulgação pública por um funcionário autorizado, antes de sua publicação, mesmo que não sejam confidenciais".
Além disso, os jornalistas devem reconhecer por escrito que o uso de informações não autorizadas será motivo para "suspensão imediata" do acesso ao Pentágono. A norma define como proibidas tanto informações confidenciais quanto "informações não confidenciais controladas", categoria ampla que abrange materiais cujo vazamento poderia representar risco à segurança nacional.
Não está claro se a restrição se aplicaria também à solicitação de informações à equipe do Departamento de Defesa ou à confirmação de dados obtidos por outras fontes.
O Clube Nacional de Imprensa de Washington classificou a política como "um ataque direto ao jornalismo independente" e pediu sua revogação imediata. Mike Balsamo, presidente da entidade, afirmou: "Se as notícias sobre nossas Forças Armadas devem ser aprovadas primeiro pelo governo, o público não recebe mais informações independentes. Receberá apenas o que os funcionários [do Pentágono] querem que vejam. Isso deveria alarmar todos os americanos."
A circulação da mídia dentro do Pentágono também será limitada. Grandes áreas do prédio passam a ser proibidas para jornalistas sem escolta. Até então, repórteres credenciados já tinham acesso a boa parte dos corredores e escritórios sem acompanhamento. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, defendeu a medida: "A imprensa não pode mais circular pelos corredores de uma instalação segura. Use sua credencial e cumpra as regras, ou vá para casa", escreveu no X.
Sean Parnell, porta-voz do Pentágono, disse que as novas diretrizes "reafirmam padrões que estão em conformidade com todas as outras bases militares do país" e constituem "diretrizes básicas e de bom senso para proteger informações confidenciais e a segurança nacional".
Seth Stern, diretor de advocacia da Freedom of the Press Foundation, alerta que a política configura restrição prévia à publicação, considerada a mais grave violação da Primeira Emenda da Constituição americana. Segundo ele, "o governo não pode proibir jornalistas de divulgar informações públicas simplesmente alegando que se trata de um segredo ou ameaça à segurança nacional".
Tensão crescente entre governo Trump e imprensa
A nova ordem é parte de uma série de ações do governo Trump para limitar a cobertura da mídia sobre o governo federal. A Casa Branca tem restringido o acesso de veículos de comunicação que considera desfavoráveis, e o presidente processou organizações como Wall Street Journal e New York Times por causa de suas reportagens.
A relação conturbada do Pentágono com jornalistas reflete essa postura mais ampla. Recentemente, após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, o chefe da Comissão Federal de Comunicações, Brendan Carr, ameaçou emissoras de televisão com "multas ou revogação de licença" caso continuassem a transmitir o programa noturno de Jimmy Kimmel na ABC, ilustrando a crescente tensão entre governo, imprensa e regulação federal.