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Postagem inventa embate entre ministros do STF tirando falas de contexto

Publicação une vídeos de ocasiões diferentes, um de cada ministro, e tira as falas de contexto para dar a ideia de que Fux estava respondendo Moraes

Por Thiago Seabra Publicado em 28/07/2025 às 15:12

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O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux não criticou publicamente seu colega de corte Alexandre de Moraes em discurso, ao contrário do que sugere vídeo viral publicado inicialmente no Instagram e replicado no X.

A publicação une dois vídeos de ocasiões diferentes, um de cada ministro, e tira as falas de contexto para dar a ideia de que Fux estava respondendo Moraes.

O discurso de Fux foi em junho de 2024, durante o julgamento que descriminalizou o porte de maconha para uso pessoal.

Na ocasião, ele disse que os ministros do STF não são "juízes eleitos" e que "o Brasil não tem governo de juízes", referindo-se aos políticos brasileiros, que "empurraram" a decisão para o Judiciário, o que teria causado uma exposição do STF.

“Essa prática tem exposto o Poder Judiciário, em especial o STF, a um protagonismo deletério, corroendo a credibilidade dos tribunais quando decidem questões permeadas por desacordos morais que deveriam ser decididas na área política”, afirmou Fux na ocasião.

Para o ministro, o Poder Judiciário acaba arcando com um alto custo social por ser acionado com frequência para resolver questões que outras instâncias não solucionam.

Ele destaca que, por não serem eleitos e não prestarem contas diretamente ao eleitorado, os juízes acabam se tornando o destino final de demandas que deveriam ser resolvidas em outras esferas.

O ministro já tinha feito essa observação quando tomou posse da presidência do STF, em 10 de setembro de 2020.

A fala de Moraes, por sua vez, é de 14 de setembro de 2023. Ele criticava o advogado Hery Kattwinkel, que defendia o réu Thiago de Assis Mathar, posteriormente condenado pelos atos de 8 de janeiro com pena de 14 anos.

Na ocasião, o ministro chamou Kattwinkel de “patético e medíocre”, afirmando que ele subiu à tribuna do STF com um “discurso de ódio para postar nas redes sociais”. Portanto, a fala de Moraes não teve nenhuma ligação com o ministro Luiz Fux.

Quem criou o conteúdo investigado pelo Comprova?

A publicação foi feita por um perfil na rede social X que soma 165,8 mil seguidores.

Em sua descrição, a responsável pela página se identifica como “cristã, direita até pra estacionar, pra trás só pra pegar impulso, bolsonarista até debaixo d’água”.

O conteúdo do perfil está alinhado à própria apresentação da usuária: são frequentes as postagens em apoio a figuras da direita brasileira, como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Em contrapartida, a página também costuma veicular críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

O vídeo analisado é uma reação a uma postagem do perfil “No Centro da Política”, que publica conteúdos com uma roupagem noticiosa voltados para temas políticos.

Entretanto, o perfil também costuma satirizar figuras públicas associadas à esquerda e destacar positivamente personagens da direita.

Entre as manchetes publicadas, estão: “DETONOU: Jornalista faz pergunta maliciosa e é detonado por Flávio Bolsonaro” e “PIADA [emoji de palhaço]: Lula implora contato com Donald Trump”.

O vídeo alcançou 115,6 mil visualizações e, até o momento desta verificação, registrava 9 mil curtidas, 2 mil republicações e 123 comentários.

O Comprova tentou entrar em contato com o perfil responsável pela publicação, mas não conseguiu, pois a conta está configurada para não receber mensagens privadas.

Por que as pessoas podem ter acreditado?

A publicação se vale de um vídeo que conecta falas de dois ministros do STF fora de seus contextos originais, criando uma narrativa enganosa.

O vídeo dá a falsa impressão de que Fux estaria rebatendo Moraes em tom crítico.

Essa edição proposital leva o público a interpretar que há um embate direto entre os ministros.

Outro fator que torna o vídeo convincente é o uso de uma comentarista que reage às falas com entusiasmo e ironia, reforçando o julgamento emocional do espectador.

Quando Moraes fala, ela o chama de “patético”; quando Fux fala, ela aplaude.

Com isso, a mulher atua como mediadora da interpretação, guiando a audiência a adotar o mesmo ponto de vista.

Esse tipo de reação encenada ajuda a manipular a percepção do público, reforçando a credibilidade de uma narrativa falsa.

O vídeo também apresenta uma frase que diz “HISTÓRICO: 'pior do que não saber direito é um juiz que não tem coerência'. Fux detona Moraes e vídeo viraliza”.

Termos como “Histórico” e “Fux detona Moraes” são hiperbólicos e apelam para o senso de urgência e conflito, o que aumenta a sensação de que algo grave está acontecendo.

Fontes que consultamos

Reportagens publicadas por veículos jornalísticos e vídeos dos discursos dos ministros do STF Luiz Fux e Alexandre de Moraes.

Por que o Comprova investigou essa publicação?

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento.

Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema

O UOL Confere verificou que Fux não criticou ministros do STF e sua fala é anterior à posse de Trump, assim como o Aos Fatos mostrou que vídeo em que Fux afirma que “Brasil não tem governo de juízes” é anterior à eleição de Trump.

A AFP concluiu que Fux não anulou seis processos de Jair Bolsonaro até maio de 2025.

  • Notas da comunidade: O post não apresenta nota da comunidade até o momento em que esta verificação foi publicada.

A checagem foi publicada em 28 de junho de 2025 pelo Comprova — coalizão formada por 42 veículos de comunicação que verifica conteúdos virais.

A investigação foi conduzida pelo Jornal do Commercio, e o conteúdo também passou por verificação de Folha De S. Paulo, NSC, Correio de Carajás, Estadão e AFP.

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