Abin paralela: Prisão do coronel Marcelo Câmara revela novas camadas na trama golpista
Moraes decreta prisão preventiva por obstrução e descumprimento de medidas, enquanto diretor da Abin é indiciado por sabotagem de investigações

A ação penal da trama golpista no Brasil ganhou um novo capítulo com a prisão preventiva do coronel Marcelo Câmara, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O coronel foi denunciado por seu envolvimento no núcleo militar do plano golpista. A defesa do militar foi procurada para manifestação, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem.
Em sua decisão, Moraes fundamentou a prisão afirmando que o coronel, por meio de seus advogados, tentou obter informações sigilosas relacionadas à delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. Para o ministro, essa conduta pode configurar o crime de obstrução de investigação.
Descrição dos atos e implicações legais
Além da tentativa de acesso a informações sigilosas, Moraes apontou que Marcelo Câmara descumpriu decisões judiciais anteriores. O coronel estava proibido de utilizar redes sociais, tanto diretamente quanto por intermédio de terceiros, e de manter contato com outros investigados, inclusive por meio de intermediários.
O advogado criminalista Eduardo Kuntz, que representa o coronel, entregou ao STF mensagens supostamente trocadas com Mauro Cid via um perfil no Instagram em nome de "Gabriela" (@gabrielar702). Essas conversas foram usadas pela defesa para solicitar a anulação da delação de Mauro Cid.
Moraes, em sua decisão, destacou que Kuntz "transbordou ilicitamente das obrigações legais de advogado" e determinou a abertura de um inquérito autônomo para investigar tanto o criminalista quanto o coronel pelos novos fatos.
Recentemente, Moraes também rejeitou o pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para anular o acordo de colaboração premiada de Mauro Cid. O ministro reiterou que cabe ao relator da ação penal "indeferir os pedidos e as diligências consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias".
A defesa do ex-presidente havia alegado que Mauro Cid quebrou o sigilo da própria delação, com base em reportagens da revista Veja que divulgaram diálogos atribuídos a ele.
Atual diretor da Abin sabotou apuração
Paralelamente aos desdobramentos da trama golpista, a investigação que expôs o uso da Abin em um esquema de monitoramento ilegal para atender a interesses políticos e familiares do ex-presidente Jair Bolsonaro alcançou a atual gestão da agência.
Luiz Fernando Corrêa, delegado federal e atual diretor da Abin, nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi indiciado no relatório final do inquérito.
As acusações contra Corrêa incluem:
- Tentativa de proteger aliados investigados;
- Combinação de estratégias com investigados;
- Recalcitrância na entrega de provas;
- Omissão sobre operações ilegais;
- Potencial manipulação de informações e procedimentos internos.
A Polícia Federal aponta que o diretor da Abin agiu para sabotar as investigações, e o prejuízo para a apuração foi considerado "imensurável". Antes de assumir a direção da Abin, Corrêa foi diretor-geral da Polícia Federal durante o segundo mandato de Lula, entre 2007 e 2011.
Após o indiciamento, servidores da agência divulgaram uma carta aberta pedindo a demissão de Corrêa, classificando sua permanência no cargo como um "absurdo".